Dear Diary - 28

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O corpo dele vacilou, e por alguns minutos eu perdi a noção do tempo. Esqueci-me que tinha começado a chover e que os pingos de chuva caiam fortemente, embatendo nas janelas. Esqueci-me que as nuvens estavam negras, que a porta do terraço estava aberta, que os meus joelhos tremiam e ameaçavam quebrar-se cada vez que ele dava mais um passo, cada vez que ele se aproximava. Os meus batimentos cardíacos estavam tão rápidos como se eu tivesse acabado de correr a maratona, os pêlos dos meus braços eriçavam-se a cada momento que passava. Eu não sabia o que estava a acontecer, não fazia ideia do que ele planeava fazer a seguir, mas tudo se centrava naquele momento, naquela hora e naquele dia, quando o rapaz de caracóis pusera a mão no meu pescoço e sussurrara no meu ouvido, como se me estivesse a contar um segredo.

"-Isso é impossível." - E houve algo que quebrou, não sei bem o quê nem como, mas as palavras dele acertaram-me em cheio, como quando uma flecha atinge o meio do arco. Existia qualquer coisa entre nós, sem nenhuma razão, motivo, ou hipótese, mas a verdade é que nós estavamos ali os dois, e o único abraço capaz de me reconfortar quando eu saira da casa de Niall a chorar, fora o dele. O seu cheiro reconfortava-me de uma maneira estranha e pouco improvável e eu senti qualquer coisa naquele momento. Qualquer coisa que eu não sabia o que era, mas que ia crescendo ao longo do tempo, sem sequer ter motivos para tal. Quando dei por mim estava sentada no seu sofá, com os meus cabelos ao longo das suas pernas, e ele acariciava-me cuidadosamente, encarando-me.

"-Fala-me sobre ti." - Pediu, com a voz mais rouca do que o normal.

"-Eu sou a pessoa mais normal á face da Terra, Harry." - Justifiquei, não conseguindo evitar um pequeno sorriso.

"-Isso é impossível, Jane. Conta-me as tuas incertezas, factos, medos, ambições..." - O que ele dizia fazia-me pensar no porquê de ele estar com tanto interesse na minha pessoa. Afinal de contas, eu era uma pessoa completamente comum.

"-Porquê isso agora, Harry?"- Perguntei, sorrindo. Harry imitou o meu gesto, esboçando um sorriso largo e bastante bonito.

"-Porque, tu sabes tudo sobre a minha vida e, embora eu saiba quase tudo sobre a tua, não sei o que gostas de fazer nos tempos livres, nem que tipo de livros gostas de ler."- Houve um silêncio, durante o que pareceu um eternidade.

"-Romance, adoro romances. Não gosto de filmes de comédia nem de terror, sou bastante decisiva no que toca aos livros. Não aprecio incertezas, gosto de coisas concretas, espontanêas, que me façam querer viver." - Respondi, depois de ter pensado em mim própria e nas respostas honestas para as perguntas curiosas de Harry.

"-O que te faz querer viver neste mundo, Jane Hudson?"- A maneira como ele pronunciava o meu nome causava-me arrepios por todo o corpo.

"-A probabilidade da melhoria. Saber que a qualquer momento, as coisas podem mudar para melhor, que as guerras podem acabar, juntamente com a fome e a discriminação. Gosto de sentir que as pessoas têm o poder de fazer a diferença, gosto de saber que o ser-Humano está de facto a usar as suas capacidades para fazer algo de bom."

"-O que te faz pensar, quando estás triste?" - Ele continuou as perguntas, como se fosse algo natural.

"-Que um dia, tudo isto acaba. E que um dia eu vou ser capaz de tudo. Que quando morrer, morri, apenas isso. Nada mais para além da Morte sem ser a improbabilidade de renascer. Gostava de saber desenhar." - Ri-me abafadamente. "-Gosto de ler, de escrever, de ouvir contos, acreditar em mitos. Digamos que, sou uma pessoa com muito tempo livre." - Soltei uma gargalhada e Harry curvou um meio-sorriso, realçando uma covinha na sua bochecha esquerda.

"-Se pudesses conhecer uma pessoa, qualquer uma, quem seria?" - Aquela pergunta fez-me pensar durante algum tempo. Havia tanta gente que eu admirava e que gostaria de conhecer se tivesse a possibilidade, mas de facto acho que a resposta era bastante óbvia.

24 Days - H.S - AU - A REESCREVEROnde histórias criam vida. Descubra agora