Cigarettes - 15

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[Jane's POV]

"-Niall." - Resmunguei, arrastando as palavras. "-Não podemos deixar isso para amanhã?

"-Sabes bem que não, Jane." - Disse ele, com um olhar compreensivo. "-Se queres mesmo trabalhar na minha empresa e regressar a Los Angeles o mais rápido possível tens de vir comigo preencher toda a papelada necessária." - De uma certa e estranha forma, Niall parecia falar de uma maneira mais formal quando falava em termos empresariais. Ele deu-me um beijo na testa e pegou no seu casaco. "-Eu sei que te apetece ficar em casa mas estou a fazer isto por ti."

Apesar de ter noção do valor que tinha para Niall, eu achava que o que ele estava prestes a fazer podia por muita coisa em causa, afinal, eu ia trabalhar com o meu namorado numa suposta empresa "bem-sucedida". Não tinha a certeza de que isto poderia mudar na minha vida, mas de certo que não seria pouca coisa.

"-Eu sei, e agradeço-te imenso por isso. Mas eu já fui lá no outro dia e respondi a tudo o que me pediram. Não podes dizer simplesmente que eu me chamo Jane Hudson e sou natural de Londres? Que tipo de informação é que eles precisam mais?" - Continuei sentada no sofá enquanto Niall já estava prestes a sair de casa.

"- Esta entrevista de emprego tem várias etapas, aquilo a que tu respondeste não é nem sequer metade do que eles querem saber. Tu não tens consciência da quantidade de dados que eles precisam para teres a mínima possibilidade de entrar para a minha empresa." - Soltou um riso abafado e abanou a cabeça negativamente. "-Se tu não fosses minha namorada provavelmente nem sequer tinhas probabilidades de conseguires o cargo." - O seu tom era de brincadeira, mas a maneira como ele disse criou uma ponta de insulto no ambiente, o que originou um silêncio desconfortável.

"-Bem, se querias dizer que eu sou burra e que não tenho qualquer classificação para entrar na tua 'tão magnífica empresa' nem sequer precisava de ter vindo. Estava muito bem em Los Angeles com a minha família. Se vou começar a trabalhar contigo apenas porque sou tua namorada então escuso de estar aqui." - Levantei-me abruptamente do sítio onde anteriormente estivera sentada e peguei num objeto aleatório (que neste caso foi o comando da televisão) uma vez que não queria direcionar-me para onde quer que fosse sem nada nas mãos. O facto de estar a ser observada pelo Niall fazia-me sentir nervosa.

"-Não era isso que eu queria dizer, Jane. Já percebi que fui bastante bruto contigo." - Niall havia pousado as chaves juntamente com o casaco. Aproximava-se cada vez mais de mim, e consequentemente, eu afastava-me, até bater com as costas fortemente na porta da casa-de-banho.

"-Ai sim? O que é que isso adianta?" - Não sabia o porquê de estar a ser tão irritada e furiosa, mas sentia-me realmente ofendida. "-Devo lembrar-te que foste tu quem me ofereceu o cargo na empresa?"

"-Fi-lo porque senti pena de ti. Tu mal tens dinheiro para comprar uns sapatos decentes, Jane. Se não fosse eu a oferecer-te emprego, quem achas que o ia fazer?" - A minha boca entreabriu-se com o seu comentário e uma estranha vontade de lhe bater surgiu. Após ter dito aquilo, Niall esbugalhou os olhos, como se estivesse surpreendido com ele mesmo. "-Não era isto que queria dizer, Jane, por fa-" - Mas eu interrompi-o, apontado o comando que ainda estava na minha mão, para o seu peito.

"-Esquece." - Afirmei, secamente. "-Apenas esquece tudo isto, está bem? Tu tens razão, eu não tenho dinheiro para nada, portanto se não te importas pagas-me o bilhete de volta para Los Angeles. Ter vindo para cá foi só uma perda de tempo."

"-Jane, tem calma, eu agi de cabeça quente, tenta compreender." - Niall observou-me por um momento e elevou uma sobrancelha. "-E porque raio estás com o comando da televisão na mão?"

Envergonhada, senti as minhas bochechas aquecerem com a humilhação e atirei com o objeto para as mãos do rapaz de cabelo loiro, que com os reflexos surpreendentemente rápidos, apanhou-o sem pestanejar. Com a tentativa de me refugiar nalgum sítio, abri a porta de casa-de-banho e tranquei-a atrás de mim.

"-Jane?" - Niall chamou-me, batendo na porta. "-O que estás a fazer?"

"-O que achas que vim fazer á casa-de-banho? Podes me deixar em paz, por favor?" - Apesar de não o ver, pude imaginar a cara de confuso do Niall. Depois de alguns minutos passados num silêncio total, eu respirei fundo e abri a porta, quase correndo até sair de casa. Ouvi Niall chamar-me inúmeras vezes mas ignorei-o e continuei correndo por entres as ruas largas de Londres. Não conhecia o sítio onde estava, não tinha o telemóvel nem sequer a carteira, que, mesmo que necessitasse dela, não a iria poder usar uma vez que não tinha dinheiro. A lua predominava na escuridão e eu arrependi-me de não ter trazido pelo menos um casaco.

Caminhei pelos passeios irregulares e molhados devido á chuva, tentando não escorregar. Parei na entrada de um prédio para me abrigar da chuva e sentei-me nas escadas deste. Algum tempo depois, uma rapariga com o cabelo curto e pintado de roxo sentou-se ao meu lado, com um cigarro na mão e um casaco de cabedal vestido.

"-Tens lume?" - Perguntou, com uma voz estranhamente rouca. Não sabia o que o seu pedido significava, portanto mantive-me imóvel. A rapariga que tinha um piercing no lábio inferior e outro na sobrancelha revirou os olhos e voltou a perguntar. "-Se tens um isqueiro?". - Abanei a cabeça negativamente e ela encolheu os ombros. Percebi que tinha um sotaque diferente, por isso deduzi de que fosse estrangeira."-Siri." - Ao reparar no meu olhar confuso, continuou. "-O meu nome. É Siri. Credo, miúda, tenho de explicar tudo duas vezes?" - O seu tom, embora desconfortável, não era rude. Sorri com o seu comentário.

"-Queres dizer, Siri como aquela aplicação do Iphone?" - Ela soltou uma gargalhada contagiante e eu sorri, não sei ao certo se pelo que tinha dito ou se pelo seu riso. "-Sou a Jane."

"-Prazer em conhecer-te, Jane." -Ela sorriu, mostrando um sorriso bastante brilhante. "-És de cá, certo? Conheço o sotaque inglês." - Assenti, encarando o chão. "-Eu sou da Escócia."

"-E o que estás a fazer em Londres?" - Perguntei, sentindo as gotas da chuva escorrerem pela minha cara. O meu cabelo estava encharcado, bem como as minhas roupas, e eu sabia que ia ficar doente depois de toda esta aventura.

"-Não sei bem. Gosto apenas de viajar." - Encolheu os ombros, ainda com o cigarro apagado entre os lábios. Siri começou a mexer freneticamente na sua pequena mala quando finalmente encontrou o isqueiro.

"-E porque é que estás aqui? Na chuva?" - Não evitei perguntar, ao mesmo tempo que ela acendia o cigarro.

"-Porque o otário do meu namorado trocou-me por outra gaja." - Siri encarava o horizonte com um ódio notável nos seus olhos. "-Não percebo o que ele viu nela. Ela é feia como um hipopótamo." - Ri-me com a sua expressão e ela encarou-me. "-E tu? O que faz uma rapariga bonita como tu num sítio como este?"

"-Não tenho para onde ir. O otário do meu namorado menospreza-me constantemente e eu acho que me fartei disso." - Fiz uma careta, encolhendo os ombros.

"-Ambas temos namorados otários, já temos uma coisa em comum." - Siri expirou o fumo do cigarro, passando as mãos pelo cabelo curto. Movimentei a cabeça e soltei um suspiro.

"-Nunca te sentiste como se não tivesses nenhum sítio para onde ir? Eu conheço tão bem esta cidade, mas mesmo assim sinto-me tão perdida."

"-Não te preocupes com isso." - Retorquiu a rapariga. "-Hás-de encontrar o teu próprio caminho e quando o fizeres, acredita em mim, vais-te sentir muito completa." - Existia qualquer coisa de confortável naquela rapariga, que mesmo naquele ambiente tão triste, podia trazer-me, de certa forma, um pouco de conforto.

Optei por não responder e deixei o barulho da chuva falar por mim.

"-Já viste, Jane? Somos tão diferentes, mas na realidade bastante iguais."

24 Days - H.S - AU - A REESCREVEROnde histórias criam vida. Descubra agora