24 Days - H.S - AU - A REESCREVER

Answers - Pt 3 - 25

[Harry's POV]

Quando acabei de falar perguntei-me a mim mesmo se aquilo não tinha sido apenas parte da minha imaginação. Custava-me a acreditar que eu tinha realmente dito tudo aquilo, especialmente a ela. Nunca tinha desabafado daquela maneira com ninguém mas Jane encarregou-se de me fazer sentir bastante simples, um tanto vulgar, como se nada importasse, como se nada fosse suficientemente mau para que isso me tornasse uma pessoa cruel. A maneira que ela olhava para mim fazia-me questionar se na verdade eu tinha feito as coisas que fiz, dito as coisas que disse, se tinha de facto passado por aquilo que passei. Se a minha história era assim tão complicada como parecia, porque não tinha ela desatado a fugir? A gritar por ajuda? Ela ficou. Com um olhar perplexo, mas mantendo-se no mesmo sítio, sem desviar o olhar do meu rosto ou mexer num único fio de cabelo. Não percebia o porquê de ser tão díficil desabafar e contar tudo aquilo que falara momentos atrás com alguém mas com ela não. Era diferente. Ela mantinha-se em silêncio, olhando-me atentamente, á busca de algo, á espera de mais respostas para as suas perguntas infinitas. Fiquei á espera que ela protestasse, que ela dissesse algo, que muito provavelmente se fosse embora. Mas eu rezava. Rezava interiormente para que ela ficasse.

[Jane's POV]

Estava completamente chocada com a sua história. Nem sequer sabia se devia acreditar naquilo que me dissera ou se devia apenas fugir e não voltar. Apetecia-me rir por ser algo tão absurdo e chorar por toda a confusão e pelas perguntas que ainda ficaram por responder. A minha voz estava presa na garganta e eu não era capaz de proferir quaisquer palavras. Por muito que quisesse falar, o meu corpo não obedecia ás minhas ordens.

"-Eu compreendo se não quiseres ficar aqui." - Harry quebrou o silêncio. "-..se quiseres ir embora, nunca mais voltar a ver-me..Eu compreendo." - A sua frase acabou num suspiro deveras pesado e isso fez-me perguntar se ele estaria bem com toda esta situação. Talvez tudo isto fosse demais para a minha cabeça, mas tinha consciência de que ter-me contado a sua história não deveria ter sido nada fácil.

"-Eu não me vou embora, Harry." - Disse, não sei bem como nem porquê. A verdade é que eu não me queria ir embora. Não queria fugir. Queria ficar ali com ele, dizer-lhe que estava tudo bem, que a culpa não era de todo dele, e que se precisasse da minha ajuda eu estaria ali, bem ao seu lado. Contudo, lembrei-me de todas as coisas que me tinha feito sentir. Desde o facto de me ter raptado até ao facto de me terem operado as costas e não ter feito nada em relação a isso. "-Por mais estranho que pareça, eu sinto a necessidade de ficar." - Talvez porque não tinha nenhum outro sítio para ir, nem ninguém para me ajudar. Estaria completamente sozinha, e a ideia de ter alguém para me fazer companhia era, mais provavelmente, o que me fazia querer ficar.

"-Obrigado." - Harry sussurrou. Coloquei a minha mão nas suas costas e passei-a suavemente num ato de conforto que acabou por se tornar um pouco estranho devido ao facto de ele me ter olhado, com um brilho irreconhecível nos olhos.

"-Agora vais-me apresentar aos teus amigos lobisomens?" - Tentei melhorar o ambiente e brinquei um pouco, embora em certa parte, a questão fosse verdadeira.

"-Eles não existem, Jane." - Harry respondeu, abanando a cabeça.

"-Tens razão, sempre gostei mais de vampiros." - Brinquei, encarando o seu rosto. Os seus olhos avistavam o horizonte, com a paisagem preenchida por prédios e moradias, apenas sendo vísivel as luzes dentro delas.

"-São personagens mitológicas, Jane, provenientes da grande imaginação de alguém." - Afirmou, o que me fez rir demasiado alto. Ele olhou para mim com uma sobrancelha levantada, como se tivesse dito algo absurdo.

"-É bastante fácil de acreditar nisso quando me contaste que falaste com Deus há minutos atrás." - O sarcasmo era perfeitamente notável na minha voz, e para minha surpresa, Harry sorriu, mostrando o seu sorriso o qual só aparecia ás vezes apesar de eu o achar deveras bonito.