2 - Declan

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Eu estava sentindo tudo outra vez. A dor cortante da espada entrando no meu corpo, os joelhos batendo com força no chão, meu corpo caindo de lado no chão. Toda a dor estava de volta ao meu corpo. Podia sentir o sangue escorrendo por entre meus dedos, meu sangue quente e pegajoso, o cheiro da batalha, a espada que havia entrado e saindo do meu corpo com uma rapidez assustadora, minha mão deixando o cabo da espada que estava enterrada no corpo de Thales. Tudo estava voltando de uma maneira tão forte que parecia pior do que quando realmente aconteceu. Minha mão caindo solta, alguém agarrando meu corpo, me deitando no seu colo, eu podia sentir tudo como se estivesse acontecendo novamente. Uma lágrima correndo pela minha bochecha. Era minha essa lágrima? Eu não sabia.

- Alicia. – chamou alguém distante, muito distante, para que eu reconhecesse a voz. – Alicia.

Com um pulo, sentei na cama macia do meu quarto do castelo. Tudo estava escuro tirando as pequenas luzes que vinham da janela. Olhei para o lado e vi Guilherme dormindo tranquilamente ao meu lado. Afastei meus cabelos do rosto e senti algo molhado na bochecha. Eu estava chorando. Por que eu estava chorando?

Afastei as cobertas do corpo e levantei indo até a janela. A única luz dentro do quarto agora tinha uma sombra impedindo-a de entrar. A minha sombra. Observei as estrelas no céu. Uma parte do azul escuro já estava indo embora, um leve vermelho rosado podia-se se ver distante, próximo às montanhas que circundavam Fantasiverden.

O amanhecer estava chegando e eu estava com medo dele.

Eu estava com medo? Por que eu estava com medo do sol? Senti um arrepio por todo o meu corpo e abracei meu corpo tentando deixar minha mente o mais livre possível, manter ela o mais distante do sonho. Era um sonho ou uma lembrança? Eu não podia ter certeza.

Não sei por quanto tempo fiquei ali, em pé, abraçada ao meu corpo, olhando para o céu. Mas quando eu senti os braços de Guilherme passar pela minha cintura, o sol já estava no céu e não havia vestígio de nenhuma estrela. Encostei meu corpo contra o dele e deixei meus olhos se fecharem com a sensação aconchegante que era ter seu corpo tão próximo do meu. Senti seus lábios na lateral do meu pescoço e estremeci.

- Você acordou cedo. – observou me apertando mais nos seus braços.

- Você também. – respondi abrindo os olhos e encarando as montanhas no clarão do dia.

- Virei para procurar você na cama e me assustei. Imaginei que a noite passada tinha sido apenas um sonho.

- Tenho essa sensação também. – respondi virando nos seus braços e encarando seu rosto. – Eu estou mesmo aqui? Viva?

- Sim, meu amor. Você está aqui. – respondeu me beijando e grudando nossos corpos.

Deixei que ele me beijasse e depois deitei minha cabeça no seu peito enquanto era abraçada com força. Essa era a melhor sensação do mundo, estar nos braços de Guilherme. Eu podia entender porque Clara havia demorado tanto para desistir dele, para entender que apesar de tudo ele era meu e eu era dele.

- Clara. – falei levantando meu rosto na direção dele e lembrando-me da reação dela quando saiu de transe ontem após me ver.

- Ela estava em choque. – explicou Guilherme afastando nossos corpos e me encarando. – Clara não reage bem às coisas que não consegue controlar. A morte de Ramon, então a sua morte e depois você voltou da morte, muita coisa para ela processar.

- Será que ela já está melhor?

- Espero que sim. Nunca vi Clara naquele estado, Alie. Eu fiquei com medo por ela.

- Queria falar com ela. – comentei abraçando Guilherme e olhando novamente para a janela.

- De um pouco de tempo para ela. Clara é forte, mas foi pega de surpresa, ela vai ficar bem.

Coração de Sangue - livro 2 da série Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora