12 - Velório

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Todos estavam de pé em Squamaeigrae. O caixão fechado já estava sendo colocado dentro do buraco cavado no cemitério da Família Real. O dia estava chuvoso de um modo calmo, diferente do dia que ele tinha morrido. Não havia um único vento além da neve caindo sobre nossas cabeças. Todas àquelas pessoas vestidas de preto me deixavam deprimida.

Guilherme havia conseguido trazer o corpo de Declan de volta para seu reino, mas ele havia sido pego na entrada de Fantasiverden. Papai ainda não tomara nenhuma providência a pedido meu. Ele disse que esperaria passar o enterro de Declan e então decidiria o que fazer com Guilherme. Enquanto isso ele era mantido preso em uma das celas subterrâneas do castelo que eu sequer sabia que existia.

Havia sido permitida apenas uma visita de cada pessoa. E a única vez em que vi Guilherme preso pelas correntes nos pés e nas mãos, dentro de uma cela escura e com um cheiro horrível de mofo fez meu coração pulsar apavorado. Naquela noite, eu havia sangrado novamente depois de tanto tempo. Porém, dessa vez eu estava sozinha, sem Guilherme para me ajudar a suportar a dor e havia sido pior que qualquer outra vez, porque desta vez, eu tinha consciência do meu corpo sangrando sem parar.

Por instinto levei minhas mãos até meu abdômen e a mantive ali enquanto via minha antiga sogra jogar o primeiro punhado de terra sobre o caixão. Ela me passou a pá com um sorriso triste e se retirou. Ela havia entendido porque Guilherme havia levado Declan daqui. Ela havia pedido pessoalmente para papai que evitasse a pena de morte e papai havia dito que veria o que podia fazer de acordo com a lei.

Virei à pá sobre o caixão vendo a terra atingir a tampa fazendo um som baixo. Clara apoiou a mão no meu ombro e nós duas nos retiramos em direção à carruagem. Eu não conseguia chorar mais. Nenhuma lágrima corria dos meus olhos. A tristeza era tanta que lágrimas não eram o suficiente para expressá-la.

Quando todo o caixão já havia sido enterrado, tia Bea e papai entraram na carruagem e partimos para Fantasiverden. O caminho todo foi feito em silêncio e eu encarava a janela, era a ultima vez que eu veria esse lugar.

Papai sabia que eu estava envolvida no sequestro de Declan, mesmo que tivesse apenas encobertando meu noivo, ele sabia que Guilherme não teria feito aquilo se não fosse por mim. Entretanto, ele ainda fingia ignorar que sabia do meu envolvimento em tudo isso e tia Bea havia se mantida quieta sobre ter ajudado no final da vida de Declan.

Ao chegar ao castelo cada um se dirigiu para seu quarto e eu fui em direção às celas subterrâneas. Eu não devia estar ali, eram ordens do Rei, mas eu não podia ir dormir sem ver Guilherme mais uma vez antes do julgamento.

Pela segunda vez na vida, eu estaria no julgamento de Guilherme. Porém, dessa vez, não havia nada que eu pudesse fazer para defendê-lo. Ele havia sido pego com o corpo de Declan, as provas estavam todas ali.

Os guardas fecharam a minha passagem com as lanças se cruzando no alto. Olhei para os dois com as sobrancelhas erguidas e eles se entreolharam. Eu não estava no melhor dos humores para discutir com os guardas.

- Papai não saberá nada disso. – garanti vendo que eles estavam quase cedendo a minha vontade.

- O Rei não saberá. – concordou o outro e eles abriram passagem para mim.

Entrei naquele lugar úmido e fedorento. Ouvi o som das correntes se movendo quando Guilherme levantou e ficou na minha frente. Joguei meus braços sobre ele e enterrei meu rosto no seu peito deixando sair às lágrimas que não tinham caído no enterro de Declan.

- Como você está se sentindo? – perguntou me puxando para o chão junto a ele.

- Não deveria ser eu a perguntar isso? – questionei quando me ajeitei encostando minhas costas no seu peito.

Coração de Sangue - livro 2 da série Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora