17 - Liberdade

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Eu queria poder dizer que estava aliviada quando tia Bea me puxou em direção aos seus braços protetores, mas a verdade era que eu estava mais aterrorizada do que nunca. Havia sido poucas as vezes que eu havia me sentindo desse jeito depois de enfrentar alguém disposto a me matar. Na maior parte das vezes, eu estava simplesmente exausta. Como eu queria neste instante estar apenas com desejo de descansar! Contudo, o que acontecia era que todo o meu corpo estava tremendo e meu sistema nervoso parecia que não iria se acalmar tão cedo. Papai nem se deu ao trabalho de me colocar em uma carruagem junto com os outros para voltar ao castelo, ele apenas agarrou meu braço e nos transportou para lá. Foi só nossos pés tocarem o chão da sala de jantar que Red apareceu com um copo de água com açúcar. As notícias corriam rápidas. Com as mãos trêmulas, tomei o copo dele e virei todo o liquido de uma só vez.- Você está bem? – perguntou papai pegando o copo vazio das minhas mãos e me indicando uma cadeira.- Eu pareço bem? – perguntei grossa.Papai me lançou um olhar reprovador, mas não disse nada. Pôs-se a andar de um lado para o outro dentro da sala com o olhar distante. Todo meu corpo ainda tremia enquanto eu o observava andar sem parar. Clara irrompeu pelas portas do salão sem a mínima cerimônia seguida de tia Bea.- O que foi aquilo? – perguntou se dirigindo a papai.- Eu não faço à menor ideia. – respondeu ele, parando de andar.- Aquilo foi Mary. – respondi tentando acalmar meus nervos.- Eu sei quem ela era. A vi no dia que você matou Ambika. Era ela quem trocava bilhetes com Damen para ajudar você. Só não entendi porque ela resolveu atacar o Festival e ir atrás de você. - Eu matei o irmão dela. Marlo. - Quando? - Foi ele o vampiro que me sequestrou no meu quarto na Califórnia.- Você o matou e a parceira. – concordou tia Bea com um aceno de cabeça.- Sim. – concordei e lancei um olhar desejoso para o copo de água com açúcar vazio. - Tome. – disse Clara percebendo meu olhar e enchendo o copo com magia.- Obrigada. – agradeci agarrando o copo com força e levando-o aos lábios. Todos estavam em silêncio outra vez. Papai havia voltado a andar de um lado para o outro, pensativo. Tia Bea encarava o nada, perdida em pensamentos, e Clara tamborilava os dedos no tampo da mesa enquanto mordia os lábios. Todos pareciam pensar em algo e eu conseguia sentir a onda de angustia que vinha deles.- Ela não vai voltar. – garanti, interpretando que a preocupação deles fosse essa.- Sabemos que não. – concordou tia Bea.- Então qual o motivo de tanta preocupação?- Você. - Eu? – perguntei confusa.- Alicia, você não consegue mais se proteger sozinha. – disse papai se aproximando de mim e se agachando na minha frente. – Se eu não tivesse aparecido lá, provavelmente, você estaria morta.- Eu sei que tem alguma coisa errada comigo, mas vocês não têm que se preocupar. Sei me virar. – falei olhando para todos.- Não. – discordou papai pegando minhas mãos e me olhando apreensivo. – Eu vi como você estava quando cheguei. Alguns guardas não são o suficiente para manter você a salvo. Antes, eu não me importava de você andar por aí sem pessoas cuidando da sua segurança porque sabia o quão poderosa você era, mas agora, filha, algo mudou quanto a isso. Encarei o rosto preocupado do meu pai e senti as ondas de preocupação e angustia que vinham dele. Ele estava certo. Algo havia mudado, eu já sabia disso. Desde o momento em que eu havia acordado, eu sabia que algo estava diferente. Minha magia estava diferente. Algumas vezes eu me sentia como se estivesse fora do meu próprio corpo. Minha vida estava diferente."Parte de você está morta.". Soou a voz de Thales na minha mente. Parte de mim está morta. -Temos que nos preocupar com mais alguém vindo atrás de você, Alie? – perguntou Clara fazendo a voz de Thales desaparecer da minha mente.- Não. – neguei levantando da cadeira. – Não que eu saiba.- Bom. – disse tia Bea se aproximando. – Porém, apenas por precaução, acho que você deve se manter alguns dias longe de Fantasiverden. Até termos certeza de que ninguém virá se vingar da morte de Mary.Concordei com a cabeça e observei as pessoas se retirarem aos poucos do salão de jantar. Eu fui à última a sair. Quando deixei o salão de jantar, me dirigi para a biblioteca. Eu não sabia o que queria lá, mas o lugar sempre havia trago uma sensação de segurança. A biblioteca estava iluminada como sempre. As janelas estavam fechadas por causa da forte ventania do lado de fora, ela parecia completamente vazia. Comecei a pensar como Mary tinha descoberto que eu matara seu irmão. Então, eu lembrei o seu olhar de ódio mortal vindo à minha direção enquanto ela afastava os guardas com a maior facilidade. Papai estava certo. Se ele não tivesse aparecido, eu não podia saber se estaria viva ainda. Dava para sentir seus dedos de aço ainda no meu pescoço, mesmo que eles já não tocassem mais. "Parte de você está morta.". A voz do meu ex-namorado não parava de soar na minha mente. A imagem de Thales parado na minha frente, sangrando e me tocando, não saía da minha cabeça da mesma forma que sua voz não parava de ecoar nos meus ouvidos, repetindo sem parar: "Parte de você está morta.".Do nada, meus pensamentos se voltavam para Guilherme. Em como eu sentia a falta dele, de como eu, inconscientemente, havia desejado que os passos que vinham na minha direção quando Mary me segurava pelo pescoço, fosse ele. Então, eu lembrava a espada tremendo em minhas mãos. Haviam sido poucas as vezes que eu havia tremido com a espada em minhas mãos. Quando conheci Damen, havia sido uma das poucas ocasiões que eu havia temido ter que usar a espada. Havia usado contra Ambika e Thales, e matado ambos, eu não havia hesitado. Minha mão havia sido firme e minha consciência não havia gritado que eu havia matado alguém, ela estava em paz comigo. Mas com Mary, eu nem havia usado a espada. Minhas mãos havia tremido pelo simples fato de eu segurá-la. No momento em que eu havia transformado o anel, na minha mente não havia passado nenhuma possibilidade de matar Mary, eu apenas queria fazer ela me escutar, porém, não havia tido tempo. Ela estava em cima de mim antes mesmo que eu pudesse formular o inicio de uma frase. O que havia feito minhas mãos tremerem era o fato de estar com a espada outra vez. Eu havia perdido qualquer confiança na lâmina. Encarei minha mão esquerda. Meu anel espada estava outra vez no meu dedo indicador e meu dedo anelar estava sem nada. Lembrei-me do peso do anel de noivado de Guilherme quando estava no meu dedo e o agarrei na corrente do meu pescoço. Eu já não estava tão certa de que o casamento ocorreria como eu estava quando ele me deu o anel. Outra vez minha mente, se voltou para Guilherme. Eu tinha que achar uma forma de poder vê-lo mais uma vez. Eu queria poder tocar seu rosto mais uma vez e beijá-lo. Uma semana parecia uma eternidade. Pensei nos dias que havíamos nos encontrado escondidos, em como era bom tê-lo por perto. Um som no corredor fez com que eu me distraísse das lembranças e me levantasse do sofá para ir encontrar quem quer que fosse. Era Clara. Ela já havia tirado o vestido usado no Festival e estava outra vez de calça jeans e blusa. Quando vi sua roupa foi que lembrei que eu ainda estava usando o vestido e o corpete apertado que tia Bea havia escolhido para mim. Remexi-me um pouco desconfortável por causa do corpete que limitava meus movimentos e saí da biblioteca indo encontrar minha prima no meio do corredor.- Sabia que a encontraria aqui. – disse quando me aproximei. - Precisava ficar sozinha por um momento. – respondi dando de ombros.- Tio Vitor quer que você vá para a Terra o mais rápido possível. – informou quando voltamos a caminhar em direção a biblioteca outra vez.- Eu imaginei. – suspirei cansada e subimos as escadas.Sentado em uma das mesas próxima a entrada, estava Eric com alguns livros infantis. Clara olhou surpresa para o filho do bruxo que já havia feito inúmeras coisas para ajudar a Família Real e, no final, se mostrara um verdadeiro traidor. Ela cumprimentou o menino normalmente e se afastou deixando-me com ele. Sentei ao lado de Eric e sorri quando ele me mostrou a historia que estava lendo. Pinóquio.- Você chegou bem até seu pai? – perguntei.- Sim. – respondeu e fechou o livrinho. – Aquela mulher machucou você?- Não.- Fico feliz com isso. – concordou o garoto e levantou da cadeira. – Só queria saber se você estava bem de verdade. Papai não queria me deixar vir aqui, mas o convenci e disse que voltaria para casa, rapidinho.- Você veio sozinho? – perguntei levantando com ele e saímos da biblioteca.- Já sou um garoto crescido, tia Alie. – respondeu.- Eu sei, querido. – concordei segurando a risada. – Posso acompanhá-lo até em casa?- Se você quiser.- Eu vou com você. Só espere um instante. – falei correndo até um dos guardas mais próximo. – Avise o Rei que tive que ir até a aldeia, mas que logo estarei de volta.- Sua Alteza vai desacompanhada? Temos ordens para evitar que a senhorita ande sozinha por aí. – disse o guarda.- Certo. – concordei com um suspiro e disse: - Mande dois guardas me encontrarem no portão para me acompanhar. Dois será o suficiente.- Como desejar, Alteza. – ele fez uma reverência e se afastou para cumprir as ordens.Quando alcancei os portões do castelo com Eric, os dois guardas que me acompanhariam já estavam parados, nos esperando. Eu havia recusado a carruagem, preferindo ir andando. Os guardas nos seguiam a uma distância segura enquanto Eric e eu andávamos em direção a sua casa. Assim que chegamos a casa, a porta se abriu antes de batermos e Damen apareceu apenas com uma calça de moletom e sem camisa. Ás vezes eu me esquecia do quão bonito e hipnotizante Damen podia ser. Engoli em seco e observei quando ele fez uma reverência em minha direção. Meu coração se apertou lembrando que antes ele me receberia com um enorme abraço apertado.- Alteza. – disse quando se ergue encarando meus olhos.- Damen. – respondi após respirar fundo. – Como você tem estado?- Bem, obrigado. – respondeu inclinando a cabeça em agradecimento. – Sinto muito pelo que aconteceu no Festival. Espero que não tenha se machucado.- Eu estou bem. – respondi soltando a mão de Eric para que ele entrasse em casa.- Fico feliz por isso. – disse dando um passo para trás e segurando a porta. – Se, Sua Alteza, me der licença, está na hora de Eric tomar banho.Concordei com a cabeça e me virei para ir embora. Eu estava quase saindo da sua entrada quando por impulso virei novamente e o chamei.- Damen. - Alteza? – disse abrindo a porta novamente.- Gostaria de falar com você. Teria um minuto?- Claro. – respondeu abrindo mais a porta e me dando passagem. - Esperem aqui fora. – instrui para os guardas e entrei.A casa sempre tinha tido um ar aconchegante. Sorri para Eric que correu em direção ao banheiro e desapareceu por lá. Segui Damen até a sala de estar e olhei para o sofá preto de couro lembrando quando Eric havia pintando todo o sofá e colado partes de um boneco despedaçado nele. Declan estava naquele dia comigo. Só de lembrar o meu ex-marido falecido eu sentia meu coração se apertar e os olhos se encherem. Damen indicou o sofá para que eu sentasse e sentou em uma das poltronas viradas para o centro da sala, ficando na minha frente. Ficamos em silêncio por um tempo que parecia longo demais. Eu não fazia ideia do que queria falar, eu simplesmente queria falar com ele. Eu sentia falta da companhia dele. Damen me olhava atento, parecendo estudar cada parte do meu rosto. Eu sabia que ele também não sabia o que falar. Nossa ultima conversa estava clara nas lembranças dos dois e não havia muito mais para a ser dito. Recordei do olhar arrependido no dia em que falei com ele após acordar no campo de batalha. - Quer beber alguma coisa, Alteza? Água? Chá? – perguntou levantando e começando a ir para a cozinha. – Chocolate quente?- Você não teria algo mais forte? Eu mataria por uma vodca agora.- Eu devo ter alguma coisa. – respondeu sorrindo e se dirigiu para um enorme armário de bebidas. Ele voltou com uma garrafa de vodca e dois copos, depositou tudo na mesinha no centro da sala e nos serviu. Ele me entregou um copo com três dedos de vodca pura e pegou o dele com a mesma quantidade, ergueu o copo em um brinde e viramos todo o conteúdo de uma vez. Senti o álcool descer rasgando pela minha garganta e nunca fiquei tão grata por essa sensação. Ele colocou mais dois dedos nos nossos copos vazios e ficamos encarando um ao outro em silêncio, novamente. Tinha tantas coisas passando pela minha mente que eu não sabia o quê dizer, o quê fazer. Estava tudo misturado, cada parte de mim queria gritar por causa de uma coisa. Foi só nesse momento que eu percebi o quanto eu precisava de Damen para me apoiar em momentos difíceis. Eu queria chorar por tudo que havia acontecido. Por ter acordado viva naquele campo de batalha, por sangrar cada vez que chorava, por Declan estar morto, por Guilherme não poder se aproximar de mim, por querer perdoar Damen mesmo sabendo que não devia. Era tanta coisa porque chorar, que eu podia sentir meus olhos se enchendo de lágrimas, lágrimas que eu não queria deixar fugir do meu controle sabendo o que podia acontecer caso isso ocorresse. - E então? – perguntou Damen me olhando por sobre o copo.- Eu...- comecei a falar, mas parecia que algo estava preso na minha garganta evitando que eu pudesse dizer qualquer coisa. – Eu... – tentei outra vez, mas minha voz estava embarcada demais com a vontade de chorar. Virei outra vez o liquido do copo e o estendi para que Damen me servisse mais.- Está tudo bem, Alteza? – perguntou enquanto colocava mais vodca no meu copo.- Pare com a formalidade. – deixei escapar enquanto levava o copo até meus lábios.- Como quiser. – ele concordou largando a garrafa sobre a mesa outra vez. – Está tudo bem, Alicia?Respirei fundo e encarei os olhos violetas na minha frente. Ele não estava sendo irônico ou sarcástico quando utilizou meu nome. Senti aquele aperto no meu coração outra vez e não consegui controlar as lágrimas. Elas começaram a vir sem parar. Os pensamentos se embaralhavam na minha cabeça e a cada momento as lágrimas vinham por motivos diferentes. Ouvi quando o chuveiro foi desligado e os passinhos baixos de Eric se aproximando da sala, eu virei o rosto de forma que meu cabelo tampasse minhas lágrimas e por entre as mexas pude ver Damen balançando a cabeça para o menino. Ouvi ele se afastar e suspirei entre os soluços. Tampei meu rosto com as mãos e deixei as lágrimas virem sem parar. Senti quando as mãos de Damen tocaram minhas costas e me joguei nos seus braços como eu fazia antes. Era bom sentir a pele quente dele embaixo das minhas mãos. Era como voltar para casa depois de uma longa viagem.Chorei por tanto tempo que eu podia sentir meus olhos inchados. Tudo que havia acontecido desde o dia da batalha estava acumulado dentro de mim e só ali eu havia conseguido soltar tudo de uma vez. Eu havia chorado de forma tão desesperada que quando as lágrimas começaram a secar e consegui outra vez o controle sobre minhas emoções, eu me sentia mais leve do que nunca. Eu não conseguia chorar dessa forma com Guilherme. Eu sabia que ele cuidaria e me apoiaria em qualquer ocasião, mas esse tipo de choro, desesperado, aterrorizado, era muito com que o fazer lidar. Ele já se preocupava tanto comigo sem saber tudo que se passava por dentro de mim. Eu não queria deixá-lo mais preocupado. Com Damen era diferente. Eu podia me desesperar com Damen, podia mostrar quão apavorada eu estava com tudo. Ele tinha uma capacidade emocional de lidar com tudo isso sem me deixar mais preocupada do que eu já ficava normalmente.Finalmente – depois de um tempo que eu não tenho noção – consegui afastar as lágrimas por completo dos meus olhos e pude me concentrar em qualquer coisa que não fosse meus sentimentos. Damen me soltou dos seus braços, me olhando preocupado e secou meu rosto com um lenço que fez aparecer na sua mão. Eu havia sentido falta das magias simples dele.- Desculpe por isso. – falei.- Tudo bem. – ele sorriu compreensivo e então pegou os copos vazios de vodca e os encheu outra vez. – Para acalmar os nervos. – explicou me entregando o copo.- Obrigada. – respondi virando todo o conteúdo de uma vez.- Agora você já consegue falar?- Eu acho que sim. – respondi soltando o copo na mesa. – Eu não sei o que está acontecendo comigo. Realmente não sei.- Alie, você passou por muita coisa. – disse pegando minhas mãos.- Eu sei. Ás vezes, eu acho que passei por mais coisa do que conseguiria suportar de verdade. – revelei levantando do sofá e afastando suas mãos da minha. – Damen, você não imagina como estão às coisas na minha cabeça. Eu não sei o que se passa comigo e tenho medo disso.Ele não disse nada, apenas me deixou falando sem parar. Contei como cada coisa estava se passando dentro de mim. As lembranças que eu tinha constantemente da batalha, como eu sangrava quando minhas emoções estavam completamente fora de controle ou quando elas me alcançavam de surpresa. Do quanto isso me apavorava. Falei de Declan. Senti como se um peso fosse tirado das minhas costas. Declan era uma enorme parte do meu coração que doía de uma forma insuportável e eu não achava que fosse cicatrizar tão cedo. Eu não falava do que eu sentia em relação à Declan com Guilherme. Eu sabia que ele se culpava de alguma forma por Declan ter morrido e eu não queria aumentar essa culpa contando-o o quanto eu me sentia responsável em relação a isso. Falei de Ramon. Damen era a única pessoa que sabia de Ramon, de como eu podia vê-lo e de como isso me fazia bem. Disse-lhe sobre o desejo que eu tinha de poder ver Declan da mesma forma que via Ramon. Não falei de Thales. A situação com Thales estava guarda dentro de mim. Por alguma sorte, naquela confusão de bater o carro e papai aparecer, Guilherme parecia não ter dado importância por eu falar o nome de Thales antes de apagar.Eram tantas coisas para contar que a cada palavra parecia que algo dentro de mim estava sendo libertado. Eu me sentia mais leve, mais livre, toda vez que via Damen concordar com a cabeça mostrando que estava me ouvindo. Quando, por fim, terminei de soltar tudo que estava dentro de mim, sentei-me exausta na poltrona e encarei a janela do lado de fora. Estava chovendo de uma forma assustadora e lembrei-me dos guardas do lado de fora. Eles deviam ter achado um lugar para se proteger da chuva. - É muita coisa. – disse Damen quando percebeu que eu havia terminado.- Eu sei. – concordei balançando a cabeça e mordendo os lábios. – Obrigada por me escutar. - Sempre que precisar. – disse sorrindo.Sorri em resposta. Uma batida forte na porta da frente fez Damen levantar e se retirar da sala. Fiquei sentada onde estava, tentando calcular quanto tempo já havia passado desde que eu cheguei. Ouvi o som de vozes alteradas vindas da direção da porta e me levantei, preocupada.- Onde ela está? – perguntou uma voz alterada que eu demorei a reconhecer. Guilherme.- Ela está na sala, fique calmo. – disse a voz de Damen. - Saía da minha frente. – disse Guilherme e o vi aparecer na entrada da sala e me encarar preocupado.Ele estava todo molhado, seus cabelos pingavam sem parar no chão e eu quase podia ver por baixo da sua camisa clara. Ele se aproximou de mim com passos firmes e me prendeu entre seus braços, quase me deixando sem ar. Quando ele me soltou foi que me dei conta. Ele estava aqui.

Coração de Sangue - livro 2 da série Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora