8 - Aparições

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Quando acorde pela manhã rolei para o lado da cama procurando Guilherme e não o encontrei. Levantei um pouco desorientada até que a lembrança de uma pequena discussão voltou para a minha mente. Não precisei olhar para o relógio para saber que era cinco da manhã. Observei a paisagem fora da janela e suspirei. Estava cansada de olhar o sol nascer todos os dias, mas era como se algo me impedisse de não fazer isso. Meu corpo estava programado para assistir o nascer do sol mesmo que eu não quisesse.

Dei as costas para a janela e saí do quarto. A principio, eu achei que iria para o quarto de Ramon, mas então eu estava parada em frente à porta de um quarto que eu conhecia bastante. Era a primeira vez que eu iria entrar ali desde que havia me casado com Declan, desde que tinha voltado dos mortos. Agarrei a maçaneta sentindo meus dedos um pouco rígidos e abri a porta.

Ele estava deitado na cama, ocupando todo o espaço que havia no grande colchão. Sua cabeça estava em uma ponta da cama enquanto seu pé saia pela ponta contraria; não me lembrava de já ter visto ele daquele modo. As cobertas estavam parcialmente no chão e um lado do lençol escapava do colchão. Parecia que ele tinha tido uma noite agitada, e ainda sim, ele parecia tão tranquilo.

O quarto estava como eu me lembrava de antes, tirando o fato das roupas que ele havia usado durante o dia comigo no lago estarem espalhadas no chão de forma desleixada e foi encarando aquelas roupas que me dei conta de que nunca havíamos dormido juntos no quarto dele. De alguma forma sempre parávamos na minha cama.

Lembrei-me do dia em que ele havia me levado até lá depois que saímos do telhado. Foi uma das primeiras tentativas de verdade de transarmos. Lembrei-me da sensação de parecer estar no Inferno e no Paraíso. Da minha mente dizendo "não faça" e outra parte falando "faça". Eu podia sentir cada toque dele na minha pele agora como se tivéssemos voltado no tempo e então eu lembrei o depois. Ele se afastando rudemente, cedo demais. Do tom da sua voz ordenando que eu saísse, do modo como havia agarrado meu braço para me tirar da cama. Eu ainda não tinha compreendido o que tinha acontecido naquele momento, mas também nunca tinha voltado a pensar naquelas coisas. Tinha sido um ano complicado.

Encarei a cama bagunçada novamente. Será que teria sido desse jeito que ela iria ficar se ele não tivesse nos parado aquela noite? Vi as pálpebras de Guilherme abrir lentamente e seu olhar se focar no meu corpo encostado na parede. Só quando ele me encarou que percebi que tudo que eu usava era uma das camisetas dele. Eu não me lembrava de tê-la vestido, mas ultimamente era pouco as coisas que eu me lembrava de fazer.

- Alicia. – disse sentando na cama e me observando.

- Não consigo mais dormir. –expliquei sem me mover.

- Venha cá. – disse com a voz sonolenta estendendo a mão na minha direção.

Afastei-me da porta e agarrei sua mão quando me aproximei. Ele me puxou de modo que sentasse na sua frente, muito perto do seu corpo. Ele ainda estava apenas usando a calça de moletom e senti meus olhos percorrerem o peito musculoso dele.

- Ainda está chateada?

- Um pouco. – respondi virando de costas e deitando apoiada no seu peito. – Você só vai preocupar papai, e ele vai preocupar tia Bea que vai deixar mamãe preocupada.

- Pode ser que eles saibam como ajudar.

- Duvido muito. – levantei um pouco o rosto para olhar os seus olhos. – Não quero falar sobre isso agora.

- Sobre o que você quer falar? – perguntou pegando minha mão.

- Estava lembrando à primeira vez que vim aqui. – revelei. – Não foram muitas as vezes que eu estive aqui.

Coração de Sangue - livro 2 da série Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora