1 - Choques

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Querido leitor, vamos iniciar essa nova trajetória da mesma forma que iniciamos a anterior: com uma boa conversa entre nós. Desculpe falar mais que você nesses momentos, mas fica difícil deixar que você fale quando é necessário estar do lado de cá destas letras do que desse lado aí, mas de qualquer forma, vamos manter nossa comunicação. Sei que você sabem que eu escuto cada palavra e sentimento que você direciona para a história que estou contando.

Agora, chega de enrolar e vamos ao que interessa. A história.

Desde o momento em que abri meus olhos, que vi Guilherme, que senti sua mão na minha pele, cada milésimo de segundo que se passou desde que eu voltara à vida, parecia surreal. Era como estar dentro de um sonho. Um sonho muito bom. Porém, a realidade começou a se abater aos poucos, na verdade, ela se abateu sobre mim mais como uma avalanche, mas não vamos focar nisso.

Quando finalmente me ergui do chão frio e grudento – o sangue depois de um tempo vira uma poça nojenta para estar deitada – foi que percebi as coisas a minha volta, que pude tirar os olhos na negritude que me prendia a Guilherme. Havia um campo de batalha onde antes era um jardim bem cuidado. Havia morte estreitando cada parte do lugar, manchando as belas flores e desfigurando a grama bem cuidada.

Porém, era naquela cena arrepiante que estava a nossa vitória. Era uma imagem terrível e ao mesmo tempo bela, se bem que, parando para pensar sobre o assunto, muitas vezes o belo pode se tornar aterrorizante.

Thales era a prova disso.

Meu ex-namorado charmoso, de sorriso malicioso e cabelos claros era a personificação de um deus grego, – talvez um Apolo? – mas ele era aterrorizante quando queria. Prova disso a enorme poça de sangue que estava aos meus pés. O meu sangue. O sangue de Thales que se unia ao meu.

- Onde está o corpo de Thales? – perguntei sentindo um frio descer pela minha espinha. Eu estava viva, era possível que ele também estivesse?

- Clara cuidou disso. – respondeu Guilherme apertando minha mão em sinal de que estava tudo bem.

Vasculhei seu rosto por um sinal de que as coisas não estavam bem e não encontrei nada além de amor naqueles olhos negros. Seu rosto moreno estava manchado de poeira, lágrimas e sangue seco. Sua expressão era de alguém que estava muito cansado até mesmo para estar de pé como ele estava, senti meu coração se apertar em apenas imaginar por passar por tudo que ele havia passado naquelas poucas horas.

- Você está bem? – perguntou desviando os olhos da cena que estava na minha frente e se virando na minha direção.

- Eu acho que sim. – respondi sorrindo e tocando o seu rosto. – Isso só me surpreendeu. Não pensei no que aconteceu depois que eu caí.

- Foi o fim da batalha. No final, os dois lados acharam que havia perdidos. Você estava morta e Thales também. – ele passou os braços nos meus ombros como se para ter certeza de que eu não evaporaria numa nuvem e me apertou contra seu corpo. – A maioria que estava ao lado de Thales fugiu e esses corpos que você esta vendo são de antes de você cair.

- Thales. – murmurei lembrando o garoto divertido da minha adolescência. – Ainda não posso acreditar.

- Foi um choque para mim também. Se soubesse quem ele era quando nos conhecemos, teria feito mais que deixa-lo com um olho roxo.

- Posso imaginar isso. – concordei sorrindo e me encaminhando um pouco hesitante por meio dos outros corpos no chão. – O que vamos fazer com todos esses corpos?

- Uma faxina. Todos que estavam do lado de Thales serão cremados para garantir que ninguém ressuscite. – ele deu de ombros olhando em volta.

- Acha que foi isso que aconteceu comigo? Que alguém me ressuscitou? – perguntei enquanto andava absorvendo a imagem a nossa volta.

Coração de Sangue - livro 2 da série Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora