Quem eu menos esperava

Capítulo 14

Os talheres batiam nos pratos fundos. Uma dor de cabeça insana me atingiu e senti a bile subir em minha garganta. Ressaca.

Mal me lembrava do ocorrido ontem a noite. Somente uma coisa não me falhava na memória: O beijo de Ethan.

Eram 15h, estávamos todos juntos almoçando e ninguém dissera uma palavra até agora.

Minha preocupação de que ele não se lembrasse aumentava a cada segundo torturante que se passava.

Eu encaro o prato, as batatas fritas me encaram de volta e o arroz faz um montinho no canto. Sinto seus olhos em mim.

A troca de olhares de olhares entre os componentes da mesa era alucinante: Johnny e Sophia, eu e Ethan, nem mesmo Ben e Claire estavam se falando e só se entreolhavam.

Calados continuavam comendo. Já estava enlouquecendo.

- Então Johnny... Quer me explicar como fui parar naquela boate ontem a noite? - Perguntei.

- Por que pergunta pra mim? Todos estavam lá.- Ele sorriu sarcasticamente.

- Me sequestrou na cama de minha mãe!- Sorri para meu melhor amigo.

- Que eu me lembre, não era eu quem estava deitado do seu lado.- Ele lança um olhar indiscreto para Ethan. Meu sorriso desaparece e é substituído por uma desconfiança em Ethan.

- Ethan, acho que todos gostaríamos de ouvir sua explicação...- Ben o provoca e todos dão uma breve risada.

- Acho que minhas maneiras de convencimento são muito íntimas para comentar. - Ethan fala rindo e todos, exceto eu, caem na gargalhada.

- Então vocês estão namorando..?- Claire pergunta.

Fiquei chocada com a pergunta. O que eu responderia? O que ele responderia?

Ele pode se lembrar do beijo e simplesmente disfarçar por não saber se eu lembrava. E ao mesmo tempo podia não fazer idéia e falar que não namorávamos.

Meu tempo se esgotava, todos esperavam ansiosos pela resposta.

- Não. - Respondemos juntos.

Ele não se lembra. Soou tão casual ao responder que percebo até um certo sorriso sarcástico surgir no canto de sua boca.

- Tuuudo bem.- Ben sorriu tristemente.

Uma pausa de dez segundos foi feita.

- Precisamos contar uma coisa. - Sophia segurou a mão de Johnny e olha com certo nervosismo para todos na mesa.

Johnny aperta a mão dela e olha para mim. Já compreendo seu olhar e sei que não gostarei nada da próxima parte da conversa.

Aperto os lábios e me esforço para não escutar.

- Estamos oficialmente namorando.

Blá blá blá blá blá.

Não pode ser. Johnny era meu melhor amigo. Meu. E se Sophia fosse sua namorada ele a daria toda a atenção. Não que eu me importasse, mas não é certo.

Meu celular vibra no bolso e mal consigo ler. Minhas mãos trêmulas se esforçam para se acalmarem quando leio a mensagem:

Mamãe:
" An,
Estou no hospital com seu irmão, parece que ele sofreu um acidente de carro. Estou preocupada filha, mas ele vai ficar bem.
Te amo"

As flechas eram atiradas e cada uma delas me atingia causando uma ferida, e, quando retiradas, as cicatrizes permaneceriam.

- Anna, o que foi?- Ethan pergunta.

O único gesto que consigo fazer é entregar-lhe o celular.

Ele o entrega rapidamente a Johnny e só percebo o movimento envolta da mesa enquanto todos levantavam e Ethan caminhava até mim.

- Leve Anna para casa. Eu vou para o hospital.- Ouvi a voz de Johnny.

Nada fazia sentido. O mundo girava e minha visão estava embaçada. Precisava ver meu irmão, precisava.

Mas sei que Johnny não me deixaria ir. Estava desabando e quando percebi já estava do lado de fora do restaurante com os braços de Ethan em minha volta.

Minhas pernas estavam bambas e minhas mãos tremiam. Senti mãos em minhas bochechas.

- Anna, não posso deixar que vá agora, descanse e de manhã Ethan te levará até o hospital. - Johnny acena com a cabeça para Ethan.

Estou confusa. Não compreendo por quê não posso ver meu próprio irmão.
Não discuto com as medidas impostas por Johnny, não tenho forças, então simplesmente forço um sorriso.

Meu coração se despedaçou e bateu desesperado pelo resto do dia.

O apartamento de minha mãe nunca pareceu tão solitário. Ethan tomava banho.

Sentada na sala de estar, eu trocava os canais da TV na esperança de encontrar algo que desligasse minhas emoções.

A tristeza tomou conta de todo o meu ser. O que eu faria agora que ele não fazia idéia do meu amor por ele, por aquele beijo?

Pior: Ele me beijou somente por estar bêbado?

Estava me afogando nos pensamentos quando Ethan apareceu.

Ele murmurava algo, mas minha atenção estava voltada para seu corpo.

Como ele se atreve a aparecer praticamente despido?

Ele usava somente uma toalha branca em seus quadris e balançava seus cabelos com as mãos.

Gotas de água escorriam por todo seu corpo e não pude evitar o suspiro que dei.

- Anna. Ei!...- Ele estalava os dedos em frente aos meus olhos.

- O que disse?- Finalmente consegui cuspir as palavras.

- Onde estava?- Ele pergunta.

- Aqui no sofá.

- Não.- Ele ri, achando graça.- Quis dizer... O que estava pensando?

Em como você fica lindo de cabelos molhados e sexy só de toalha.

- Nada, só estava assistindo o jogo. - Respondo. Ele olha para a TV e logo em seguida faço o mesmo e percebo que nem um jogo se passava na TV.

Que mancada. Coloquei a mão direita na testa e fechei os olhos.

- Anna?

- Sim.- Abri meus olhos timidamente.

- Eu queria te perguntar...

Sim.

- Se se lembra...

Ai, Deus.

- De ontem a noite.

Ding ding ding!

Ele ficou sem graça de repente, provavelmente por eu o deixar esperando demais e decidiu prosseguir a pergunta.

- Quer dizer... As.. As chaves da moto. Onde as deixei.- As palavras perfuraram meu coração e provavelmente meu intestino também.

Corri para o banheiro e vomitei. Nada mais normal para um americano fazer em horas de nervosismo.

As próximas duas horas passei no banheiro rezando e me envergonhando por tudo o que pensei e fiz em frente a Ethan.