Escola

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Acordo no meio da noite com fome, muita fome. Sem fazer tanto barulho saio do quarto e vou para o corredor, desço as escadas e sigo em direção a cozinha, abro um armário e tiro um pacote de bolachas salgadas, devoro tudo, mas a fome não passa, e sinto sede devido ao salgado na boca.

Procuro na geladeira por algo para beber, e olho para a vasilha que continha sangue, Shauna deve ter guardado caso eu precisasse, pego a jarra ao lado, tomo todo o suco, mas ainda sinto sede e fome, abro a geladeira novamente e encaro a vasilha, pondero se devo pega-lá ou não, a fome é avassaladora, mas quando estou prestes a decidir, ouço o clique de uma fechadura.

Fecho a geladeira e vou investigar quem fez este barulho, caminho silenciosamente até a sala, e escuto alguns sussurros, tento espiar, mas não enxergo ninguém, pois estão fora do meu alcance de visão, até que escuto uma voz, Zeke, fico aliviada por ele ter voltado, sei que não é boa hora, mas quero me desculpar por ter batido nele, então saio de perto da parede e vou para a sala.

Não acredito no que vejo, afundo meu coração em dor, não sinto o chão é como se ele sumisse e eu simplesmente despencasse para a escuridão. Zeke está agarrado em uma mulher, a beijando selvagemente e ela tenta de todos os meios tentar tirar sua camisa, eles percebem que estou ali, Zeke olha para mim, as lágrimas querem cair, as contenho, eu apenas consigo girar os calcanhares e corro de volta para a cozinha, o único refúgio mais próximo que encontro, fecho a porta e tranco, apago a luz, ouço passos vindo pelo corredor, provavelmente vão procurar um quarto.

Sento no chão e me escoro na porta, ali sozinha nas trevas, deixo as lágrimas cair, uma por uma, me inundando na tristeza, a dor é terrível, a fome, a sede e a traição.

Se passa um longo tempo, não aguento mais ficar impune no chão, me levanto, mas eu quase caio, me seguro no balcão para me equilibrar, a fome estava ainda pior, cambaleio até a geladeira, pego a vasilha, aquele sangue não me atraia, era sangue extraído de carne crua, me transformo em vampira, e tomo o sangue, desce rasgando a garganta, era horrível, precisava de algo fresco, aquele não havia matado a sede.

Saio pela porta e olho a noite lá fora, faltavam três horas para amanhecer, ainda sentia muita fome, não teria tempo para chegar à floresta, os animais estariam muito longe,

Não conhecia a cidade direito, mas precisava ir a algum lugar onde quem eu matasse não faria tanta falta para ninguém, apuro a audição e escuto música não tão longe, era uma festa, o vento começa a soprar, o cheiro de sangue humano me domina, não consigo controlar meus instintos, sou levada pelos meus pés, até um beco ao lado da boate, vou até o fundo dele e fico escondida nas sombras, eu tinha que usar a razão, para não acabar matando sem pensar. Respiro fundo e espero, observo as pessoas passando pela rua, se passa meia hora até que alguém entra no beco, são dois homens encapuzados e uma mulher, fico horrorizada, ela está terrivelmente machucada, com sangue escorrendo pelas pernas, e braços, mas apesar da tentação eu me mantenho quieta, em um salto silencioso, me penduro entre as paredes do fundo para ver melhor, a mulher tem a boca amarrada, e tenta inutilmente se soltar, mas já está quase sem forças, eles a arrastam para o fundo do beco, eu precisava fazer algo, eles dão chutes na mulher até ela apagar, então eu pulo para o chão e caio atrás deles, eles se assustam e olham para trás, em um golpe giratório, arremesso os dois contra a parede, me impressiono com a minha força novamente. Ao se chocarem com a parede, ela desmorona, mas eles continuam o trajeto e caem uns bons metros para frente, mortos.

Olho para a mulher no chão estava muito pior do que eu conseguia imaginar, sinto nojo dos dois homens que fizeram isso á ela. Tiro seu cabelo do rosto, para ver ela e me surpreendo, era a mulher que estava com Zeke.

Havia sentido um ódio profundo por ela, mas agora tenho pena, se tivesse feito as escolhas certas, não teria sofrido, nem passado por isso, me ajoelho ao seu lado e tiro o pano de sua boca, lutando contra a fome avassaladora, tento ajuda-la, ela ainda está respirando, toco algumas vezes seu rosto, ela começa abrir os olhos e sussurra tão baixo:

-Faça a dor acabar.

- Desculpe, mas agora não, aguente firme vou pedir ajuda.

Ela segura minha mão, me olha profundamente e fala baixinho:

- Eu me lembro de você. - lágrimas saem dos seus olhos- desculpe, eu não sabia.

Meus olhos se enchem de lágrimas, as contenho e falo:

- Não se preocupe, agora vou cuidar de você. - antes de eu terminar de falar, ela aperta minha mão bem fraquinho e diz:

- Não, não, me deixe aqui, eu não quero mais essa vida, por favor. - ela começa a chorar.

Seguro as lágrimas e falo:

- Todos cometem erros, você vai conseguir uma vida nova. - sorrio fraco, minhas presas estão à mostra devido seu sangue estar se derramando pelo chão e ela as vê, e fala quase perdendo a voz:

- Faça a dor parar, antes que eu morra.

- Não posso.

Entre uma arfada de ar e outra ela implora:

- Por favor, está doendo muito.

A fome estava insuportável, que em segundos eu já havia mordido.

Acordo com Shauna tirando as cobertas de cima de mim. Levanto um pouco zonza e saio da cama, Shauna vai para o banho, então arrumo a cama e ajeito a roupa que vou usar hoje no meu primeiro dia de aula. Assim que Shauna saí do banheiro, eu entro, tomo um banho rápido, me visto e saio, Shauna assovia dizendo:

- Que linda.

- Obrigada, você também está bonita.

- Não tanto quanto você.

Sorrio gentilmente para Shauna, Arrumo meu cabelo e então pegamos nossas mochilas e vamos para a cozinha.

Tomamos café rapidamente, não vejo Zeke hoje. Vou atrás de Shauna, caminhamos até o ponto do ônibus e esperamos um pouco, subimos nele assim que ele chega.

Paramos em frente á escola, era muito grande, caminhamos por um pequeno jardim até chegar à entrada principal, Shauna me entrega o horário e me acompanha até minha sala.

- Boa Sorte Princesa, e se perguntarem seu nome é Lara Everton. Eu sei que não pode falar seu nome verdadeiro, então durante sua matrícula criamos um nome falso para você.

- Obrigada Shauna, por tudo.

- De nada, mas agora vou indo senão vou me atrasar.

Rio um pouco vendo Shauna andando mais rápido que o normal.

Respiro fundo e tento manter a noite de ontem o mais afastada possível da minha mente. Entro na sala, muitos param o que estão fazendo e me olham, alguns até me encaram.

Como ninguém se manifesta eu pergunto a menina da primeira fila se havia um lugar vago para mim, ela sorri e aponta para o fim da fila.

- Obrigada.

- Sem problemas.

Caminho até meu lugar reconheçendo três garotos da matilha que acenam com a cabeça para mim, eu me sento e retiro meu primeiro livro do dia. Ninguém vem falar comigo, então fico quieta sentada ali. Quando um garoto entra a sala inteira fica em silêncio e todos olham para ele, que caminha lentamente na minha direção, eu abaixo os olhos para meu livro e me concentro em ler o primeiro capítulo. O garoto se senta e remexe na sua mochila, instantaneamente os alunos voltam a conversar, sinto um formigamento na cabeça e olho para o lado, o garoto está me olhando, nos olhamos por um momento, tento quebrar isso com um sorrisinho, funciona e pergunto:

- Poderia me informar qual a página que vocês estão?

- 78.

- Obrigada.

Ele volta sua atenção à mochila.

Logo o professor chega e começamos a primeira aula do dia.

HEARTS DRAGON: Zoey a última GuardiãOnde histórias criam vida. Descubra agora