Confissões

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Tento me concentrar nas duas últimas aulas, mas não consigo, penso em tudo o que aconteceu ontem.

Até que sou interrompida pelo chamado de meu nome, era a professora, ela estava na minha frente:

- Lara, poderia ler o texto em espanhol da página 64?

- Ah, eh, tudo bem.

Começo a ler o texto, é fácil e leio perfeitamente, quando levanto a cabeça todos me olham, alguns com inveja outros até espantados. Fico confusa, até que caí a ficha, eu havia lido perfeitamente, para uma garota no primeiro ano do ensino médio, eu não poderia saber tão bem falar outra língua e para meu azar a professora pergunta:

- Onde aprendeu tão bem espanhol?

Tenho que inventar uma desculpa:

- Eu fiz intercâmbio para a Espanha.- digo sem pensar.

- Que bom Lara, você é ótima.

Ela me dá as costas e volta a explicar. Alguns alunos ainda me olham, respiro fundo e tento me concentrar no trabalho que ela está passando, seria em duplas sobre a cultura espanhola, algumas garotas acenam furtivamente para que eu faça o trabalho com elas, obviamente acham que como eu "fiz" intercâmbio, isso faria o grupo tirar nota máxima, rio baixinho com a ideia, Ethan está olhando para mim e diz:

- Quer fazer dupla comigo?

- Claro.

- Ótimo, me passa seu endereço, passo lá assim que eu sair do trabalho.

- Tudo bem.

Vou para anotar o endereço mas espero, penso que seria imprudente, então digo:

- Conhece a padaria da rua 4?

- Sim.

- Me espere lá.

Bate o sinal, me levanto e pego minha mochila, caminho até a porta, ele atrás de mim pergunta:

- Mas como vai saber que eu estou lá?

Olho para ele, sorrio e digo:

- Apenas sabendo.

Me viro e saio da sala, ele logo me alcança no corredor.

- Sabe, acho que vai ser legal, ter alguém para ir a minha casa. Quase nunca recebemos visita.

- Pode contar comigo Ethan, seremos bons amigos.

Ele sorri ao ouvir isso e eu também, ele pega na minha mão e me leva para um dos corredores secundários e fala:

- Obrigado Lara, eu achava que tudo estava perdido. - ele suspira, respira fundo e continua - mas quando vi você, percebi que as coisas para mim poderiam mudar e ser diferentes.

Eu sorrio gentilmente para ele e o abraço, ele retribuí, dou um beijinho na sua bochecha e digo já caminhando:

- Desculpe, mas tenho que ir.

Quando chego ao corredor principal vejo Zeke, ele está me olhando novamente, o encaro também, o corredor estava ficando vazio conforme os segundos se passam, decido ignora-lo de novo, me viro e caminho para a entrada.

Uma mão agarra meu braço e me puxa, me jogando contra a parede, Zeke me prende, tento me soltar, mas o aperto no meu braço é firme, têm pessoas o suficiente olhando para nós e que podem causar um alvoroço se eu resolver usar toda minha força contra ele. Tento me acalmar respirando fundo.

Ele procura meu olhar, assim que consegue o que quer ele fala:

- Precisamos conversar.

- Sim, claro que sim, mas que belo jeito de se conversar, quer que eu sirva chá com bolachas também, desse jeito? – eu digo furiosa.

Ele me solta, esfrego os pulsos e murmuro:

- O que você quer comigo, por acaso esta escola não está cheia de garotas para o seu harém?

- Zoey, me desculpa. Eu agi mal, muito mal.

- Sério, nem percebi?

Ele fala com lágrimas se formando no canto dos olhos.

- Para de ser irônica, por favor, me escuta.

- Escutar suas desculpas esfarrapadas? Você não me engana mais Zeke.

- Por favor, não fala assim, esta não é você. - ele diz aquelas palavras como se as estivessem o destruíndo, e eu percebo que é isso o está machucando.

Fico quieta e deixo que fale, ele respira fundo e me olha.

- Você mudou tanto. Ontem quando te fiz desmaiar, achei que a tinha matado, você ficou sem pulso e não se moveu por muito tempo, mas você acordou e quando olhei para você, fiquei angustiado, não era a mesma Zoey que eu amava, era uma assassina sangue frio, quando me deu o tapinha, entendi que a tinha magoado, mas eu fiquei furioso por aquela nova Zoey ter sido cruel em deixar sua marca no meu rosto, e eu me descontrolei, saí e entrei em um bar, bebi um pouco mais do limite e as coisas saíram do controle. Recebi uma mensagem hoje de manhã, depois que você me viu, eu voltei a mim, mandei a mulher ir embora, infelizmente ela foi atacada por dois homens que a violentaram e ela morreu. - ele respira fundo novamente contendo as lágrimas e continua - Agora, eu me sinto culpado, por tudo, tudo isso foi culpa minha.

Eu fico muda, ele havia sido imprudente, mas eu não sabia se poderia perdoá-lo. Ele duvidara de mim e me odiara. Suspiro e resolvo falar a verdade baixinho:

- Você não tem culpa, a mulher não morreu por que você foi um idiota ou por causa daqueles homens.

As lágrimas que eu tanto segurei começam a cair, estávamos só nós dois no corredor agora, nossa pequena plateia que haviam empunhado os celulares para ver uma briga saíram aborrecidos e agora, só com eu e Zeke ali, eu me deixava chorar, entre um soluço e outro eu consigo fôlego o suficiente para dizer:

- Fui eu que a matei.

HEARTS DRAGON: Zoey a última GuardiãOnde histórias criam vida. Descubra agora