Luto

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Ethan chorava em meio à soluços silenciosos, estava envolvido pelos braços de Zoey, que derramava suas próprias lágrimas, tentando confortar aquele que tanto amava e que tanto havia ferido.

Ethan

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(Flashback - aos 8 anos)

A pouco os sons de um grito apavorado poderiam ser escutados por toda a mansão, eu estava encolhido debaixo do cobertor, chorando em silencio, eles vinham do quarto de meus pais, juntamente com o estalar do chicote contra a carne.

Assim que cessaram os barulhos, me levanto lentamente e fico a observar o nosso jardim pela única janela do quarto. Quando vejo um vulto vestido com uma capa atravessar o jardim, tento ver seu rosto, mas estava ocultado pelo capuz. Curioso, resolvo investigar quem seria esse sujeito.

A passos rápidos e cautelosos caminho até a saída lateral, passando o mais distante possível do quarto dos meus pais.

Ao chegar ao jardim observo atentamente todos os cantos a procura da pessoa misteriosa, para a minha surpresa ela estava sentada no banco de madeira mais afastado, respiro fundo e caminho até lá, esmagando as flores da noite sob meus pés descalços, as quais se abriam gentilmente para a lua minguante.

O vulto percebe minha aproximação e se vira, meu coração acelera e eu tranco a respiração.

-Mamãe!? – digo em alivio.

Ela estava sentada de um jeito estranho, seu cabelo loiro platinado emoldurava o rosto dando-lhe uma aparência mais velha, seus olhos acinzentados estavam inchados, lágrimas escorriam pela sua face. Me cortava o coração vê-la de tal forma.

- Por que estas a chorar minha mãe?

- Por nada minha criança. - Ela limpa suavemente suas lágrimas e dá leves tapinhas sobre o banco, pedindo para que eu me sentasse com ela.

Assim o faço e fico virado de frente a ela, esperando que me dissesse o que realmente havia ocorrido, como ela permanece muda, eu decido lhe dizer em um baixo sussurro:

- Ouvi teus gritos mamãe. Por que o papai faz isso contigo?- Olho fixamente em seus olhos.

- Oh meu doce Ethaniel, sabes como teu pai és, não o julgue mal, ele nos ama. – Ela diz com os olhos marejados.

- A senhora sabe como eu gostaria de acreditar fielmente nisso. – falo entre um suspiro.

Ela me abraça, escuto seus dentes se apertarem, e um breve gemido se forma em sua garganta. Com muito cuidado a envolvo com meus braços, mesmo por cima do tecido grosso, eu sentia as feridas ardendo, eram cortes desordenados e profundos.

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(Flashback – A noite antes da morte de Cynthia)

- Olá, mãe, pai. - Faço uma breve reverencia a eles e entro no escritório.

Meu pai apenas me olha pelo canto do olho e continua a conversar com o Chefe da Gurda Hone, diferente de minha mãe, a qual me abre seu sorriso mais bonito e me convida para sentar ao seu lado no pequeno sofá de couro negro.

Olho friamente para meu pai, que estava sentado em sua poltrona luxuosa, as mãos fechadas apoiavam o queixo, seu rosto esboçava uma expressão de divertimento, fingia notoriamente estar analisando atentamente cada informação que o Chefe da Guarda repassava.

- Tudo bem filho? - pergunta minha mãe em um tom carinhoso.

- Sim mãe. - suspiro.

Olho para seu rosto, perfeito e sorridente, sem demonstração alguma de preocupação ou medo, nem parecia que há poucas horas atrás ela estava sendo abusada fisicamente pelo próprio marido.

- Seu tio estará aqui pela manhã. - ela fala me tirando dos pensamentos.

Apenas afirmo com a cabeça, olho para meu pai e depois para minha mãe, não entendia como ela suportava tudo isso, era um amor doentio e viciante, só podia, nenhuma outra afirmativa explicava tal comportamento.

- Ethaniel. - A voz de meu pai soa em uma ordem.

Olho fixamente para ele, que ergue as sobrancelhas, me forçando a perguntar o que ele queria, e eu odiava quando ele me forçava a fazer algo. O Chefe da Guarda faz uma longa reverência para todos nós e sai do cômodo.

- O que deseja pai. - digo lentamente, me segurando para não silíbar as palavras entre os dentes.

Minha mãe acaricia meus ombros, ela temia que algo de muito ruim aconteceria se nos opuséssemos ao meu pai, então ela sempre tentava me acalmar, e por obediência, eu a respeitava.

- Não acha maravilhosa a visita de meu irmão Mathews?

- Pai, não é como se estivéssemos tão longe dele, só poucos quilômetros até a nossa casa em New World.

Ele apenas balança a cabeça em uma falsa afirmação.

- Ethaniel querido, você precisa sair agora, vamos resolver assuntos importantes, os quais você não pode participar. - Minha mãe diz.

Ela se levanta, entra na sala de reuniões ao lado do escritório e segura a porta entreaberta falando para meu pai:

- Estarei organizando tudo aqui.

Ele sorri para ela, que fecha a porta, deixando apenas eu e meu pai no aposento. Santiago se levanta e vem em minha direção, parando a minha frente. Olho para ele e me levanto.

- Acho melhor que você vá terminar seu trabalho. Talvez mais um ataque devesse ser feito antes que amanheça, o planejamento está em suas mãos, se os vampiros falharem, já sabe.

- Sem sangue para mim. - Digo terminando a frase.

Ele começa a rir e dá algumas palmadas nas minhas costas, depois me acompanha até o corredor, ficando parado na porta e eu continuo meu trajeto.

Antes de virar no corredor ele me chama:

- Ethan, filho.

Me viro e olho para ele, seus olhos dourados brilhavam levemente.

- Oi pai.

- Não me decepcione, eu confio em você. - ele me dá as costas e os guardas fecham as portas duplas.

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Cenas dos momentos que vivi com minha mãe passavam em minha mente, até aquele momento, não havia nem me importado com a sua morte, eu estava sendo tão frio, como meu pai. Mas o fato de Zoey dizer que a tinha matado me fez ficar muito confuso, meu pai apenas havia dito que minha mãe foi empurrada para a luz por um lobisomem, e eu estava, até aquele momento, odiando essas criaturas, mas Lara, ou melhor, Zoey, como essa bela garota pela qual eu estava cada vez mais apaixonado teria matado a minha mãe?

Eu queria saber mais, o que a havia motivado a fazer tal coisa, mas a única coisa que eu estava fazendo era chorar e lamentar, entrando em meu próprio luto.


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Olá leitores da série Hearts Dragon!! 

Eu entendo perfeitamente que atrasei nesse capítulo, mas não é por que eu queria matar vocês de curiosidade, mas sim por eu estar com falta de tempo para escrever, o motivo vocês já sabem, festas, natal chegando e etc. 

E eu sei que esse capítulo não responde a principal questão, "Será que ele perdoou mesmo a Zoey?", mas eu deixo vocês com a pulga atrás da orelha novamente, comentem o que vocês acham, querem que o Ethan perdoe a Zoey?

Bem, espero que tenham gostado, até o próximo capítulo, beijosss. :3


HEARTS DRAGON: Zoey a última GuardiãOnde histórias criam vida. Descubra agora