Sangue

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Zeke tem uma mistura de emoções ao contarmos o que aconteceu, ele primeiramente fica bravo e preocupado conosco, mas depois sua expressão fica séria e ele até me elogia por ter matado os dois sub-líderes vampiros, não me orgulhava disso, mas havia sido necessário.
Agora Zeke estava sentado ao meu lado no sofá, com os braços em volta de mim, me acariciando discretamente, preocupado com a minha transformação.

Isabely e os outros membros da matilha estavam rondando a cidade para manter a área afastada de qualquer criatura indesejada.

Shauna tenta manter o humor no ambiente com algumas piadas, mas logo desiste de suas falhas tentativas.

Eu havia falado para Mia que tentaria não arriscar me transformando em criaturas malignas, mas ser um vampiro, não ameaçava a minha vida, pois se tornar um vampiro não significava se tornar mal, isso dependia da sua personalidade e da sua saúde mental durante a transformação.

E eu já estava sentindo os efeitos da minha, em mim o processo ocorria de maneira muito mais rápida do que nos humanos e diferente deles eu não precisava morrer, para depois sair da cova com uma nova vida e ir procurar por sangue.

Quando os últimos raios de luz somem, eu começo a passar mal e sou obrigada a mudar para minha parte, recém-criada, vampírica.

Os lobos haviam se preparado, Shauna e Zeke me prendem em uma cadeira de metal reforçada, dentro de uma pequena sala, que eu nem sabia que existia. Eles ficam ao meu lado, olhando piedosamente pra mim enquanto eu sinto a agonia da transformação. A dor é forte e constante, tenho febre alta, pois minhas presas crescem rápido demais, estou impotente, olho para os dois, e cerro os dentes para não gritar, eu deveria passar por isso sozinha e ninguém deveria me ajudar, mas Zeke não se aguenta em ficar me vendo sofrer, então ele olha para mim fixamente e eu foco totalmente nele, meu coração acelera, ele se aproxima de mim e sussurra tão perto que sinto sua respiração.

- Desculpa. - após ouvir isto, sinto um golpe forte na cabeça e desmaio.

A dor e a febre não vão embora, ainda as sinto só que agora eu não sofro tanto quanto antes. Não sei quanto tempo se passa, mas em algum momento eu começo a relaxar os músculos, que estão se aliviando da dor, e a febre abaixa rapidamente, logo posso ouvir, Shauna está consolando Zeke, que soluça seco.

Vou abrindo os olhos devagar, pisco inúmeras vezes, percebo que minha cabeça está abaixada e meu crânio latejando, então levanto o rosto e olho para Shauna sentada no chão ao lado de Zeke, sinto-me incomodada ao ver os dois tão juntos assim, ela cutuca ele, que levanta a cabeça e me olha, imediatamente ele fica em pé e vai ao meu lado, Shauna suspira e pega uma tigela com tampa.

Zeke me ajuda a sair da cadeira, assim que ele me solta eu dou um tapa bem de leve em sua cara, mas minha nova força como vampira é surpreendente que minha palma marca sua pele, ele me olha atônito e com os olhos lacrimejando, eu respondo:

- Pelo galo na minha cabeça, está doendo também, sabia?

Ele apenas balança a cabeça e da lugar a Shauna que vem com a tigela e abre a tampa revelando um líquido vermelho, sangue, mas não me sinto atraída por ele, e eu murmuro:

- Que estranho, não tenho a necessidade de beber sangue. - Shauna escuta e pega minha mão e se assusta, dizendo:

- Você não é fria como pedra e nem dura, sua pele não mudou.

- Acho que isso tem haver com o fato de eu não precisar morrer para me transformar. - Passo as mãos pelos braços, Shauna tem razão, não mudei nada, passo a língua pelos dentes, e acabo cortando ela nas presas, bem nem tudo.

Eu olho para Zeke, a marca da minha mão está bem vermelha na sua bochecha e me arrependo por ter feito aquilo.

Shauna saí com a tigela e vai para a cozinha, começar a fazer a comida para o jantar, Zeke fica me olhando e não diz nada, então eu digo baixinho:

- Obrigada pela ajuda, eu só fiquei frustrada por não conseguir superar isso sozinha.

Ele se aproxima de mim, e coloca dois dedos sob meu queixo e levanta meu rosto para que eu o olhe, ele está furioso e então diz:

- Nem tudo na vida deve ser feito por uma pessoa só.

Essas palavras frias me machucam, mas eu também havia machucado ele, muito mais do que aquela simples marca no rosto, percebo isso, mas não entendo por que está tão furioso, quero tentar concertar as coisas, então toco levemente sua bochecha marcada, mas antes de eu conseguir falar, ele abaixa minha mão e me empurra de leve para o lado, me dá as costas e saí da sala.

Eu fico frustrada, não entendo por que ele agiu desse jeito, eu iria pedir desculpas. Ouço a porta da frente bater, ele saiu.

Vou para meu quarto, sei que devo ajudar Shauna, mas eu presciso de um tempo para me acalmar.

Olho para o pequeno espelho na cômoda e vejo uma pessoa estranha, pego o objeto e encaro meu reflexo, não acreditava que era eu, sem imperfeições ou defeitos, não suporto mais me ver desse jeito, então volto a minha forma normal. Respiro fundo e me olho de novo, eram tantas formas de ser, de pensar e de agir que eu poderia controlar, e agora eu em menos de dois dias era três em uma.

Desço as escadas e ajudo Shauna em silêncio, quando terminamos apenas poucas pessoas voltaram para comer, nos informam que estão alterando turnos para que todos descansem. Como ocorreu hoje pela manhã, um menino chamado Kevin, com aparentemente 14 anos, veio e lavou a louça acompanhado de outro garoto chamado Jonas, que tinha 16.

Eu e Shauna agradecemos e vamos para nosso quarto. As comprar ainda estavam lá, e Shauna é a primeira a abrir as sacolas e começar a tirar os objetos e roupas novas. Ela tagarelava animadamente sobre tudo, mas eu não prestava total atenção, estava nervosa, não parava de pensar sobre o porquê de Zeke ter ficado furioso, mas esperava que ele ficasse melhor. Logo começo a realmente dar atenção para Shauna, que estava escolhendo roupas para eu usar na escola amanhã, e sinceramente eu me divirto muito com ela, logo Isabely chega para seu descanso e propõe uma noite de beleza para comemorar minha primeira noite com elas. Nós concordamos e em segundos o quarto vira um salão, passamos creme no rosto e rimos muito da bagunça que fizemos quando a sessão de beleza acabou.

Um pouco mais tarde, já na cama, a felicidade acaba e a tristeza afunda em meu peito, eu não iria chorar, mas as lágrimas ameaçavam, como em poucos dias minha vida mudou por inteira, dá paz e tranquilidade da floresta bem protegida, para o perigo e a insegurança do mundo real. Mas começo a pensar, que hoje, do lado de fora da barreira, descobri o que significa ser amigo, vou fechando os olhos com um sorriso no rosto, Shauna e Isabely me fizeram companhia quando eu mais precisei, mesmo sem elas saberem que eu precisava de ajuda.

Antes de pegar no sono, ouço um uivo cheio de dor, e então adormeço.

HEARTS DRAGON: Zoey a última GuardiãOnde histórias criam vida. Descubra agora