Prisão

69 9 2
                                    

Ethan

Minha cabeça lateja e meu corpo está muito dolorido, percebo que eu não consigo me mexer sem que uma forte dor me atinja, respiro fundo e engasgo, até respirar estava difícil, meu peito parecia não querer cooperar comigo, abro lentamente os olhos esperando estar cercado por claridade, mas tudo o que recebo é a intensa escuridão, pisco algumas vezes tentando encontrar algo no meio de tudo, e ouço a respiração de alguém, viro a cabeça, cerrando os dentes para não emitir nenhum som de dor, apenas as sombras, então ouço uma voz feminina:

- Você está bem?

Fico em silêncio por um tempo ponderando quem poderia ser e então decido que precisava de respostas:

- Quem é você e onde estou?

- Você está preso numa cela seu grosso. – ela diz irritada ignorando minha primeira pergunta.

- Desculpe não foi minha intenção. – Digo calmamente.

- Tudo bem – percebo seu tom de ironia quando fala isso.

- Quanto tempo estou aqui? – pergunto.

- Não sei, aqui não tem relógio ou luz do sol para se perceber alguma mudança de horário. – ela diz tristemente.

Suspiro pesadamente tentando ignorar a dor em meus pulmões, sabia onde estava esta era a minha aposta no lugar aonde meu pai iria me confinar, nunca soube onde este inferno ficava, mas sabia que nas três mansões havia um lugar como este, um dia espiei o escritório dele e encontrei um mapa desse lugar, três corredores de celas, onde as vítimas de suas experiências eram mantidas "hospedadas" na mais insalubre vida, fecho os olhos e me lembro de seu olhar sobre Lara, seus olhos estavam negros e não dourados, estava acostumado a sua crueldade mas aquele não podia ser o meu pai

Meus pensamentos são interrompidos quando percebo uma movimentação vinda do lado da garota, ela se aproxima de mim e consigo enxergar sua silhueta, então ela pergunta:

- Ainda está acordado?

-Sim, por quê?

- Achei que tinha desmaiado de novo. – ela dá de ombros e volta para onde estava.

Tento me levantar, a dor em minhas costelas não ajudava, mas por fim consigo ficar numa posição confortável com as costas apoiadas na parede fria, eu estava suado e minha garganta queimava, havia me esforçado muito e precisava me alimentar.

Suspiro, espero que a doce Lara esteja bem e que meu pai não lhe tenha feito mal, apesar de eu saber que isto é muito improvável.

~·~

Zoey

Minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento, abro os olhos lentamente, tudo girava ao meu redor e uma forte tontura me atinge, arfo em busca de ar e fecho os olhos com força para tentar espantar aquilo, meu pescoço estava grudento e um cheiro de ferrugem estava perceptível em meio aquela podridão, apalpo, com a mão boa, meus cabelos e percebo que estão cobertos por um líquido, aproximo minha mão do nariz e confirmo minhas dúvidas, é sangue, eu provavelmente cortei a cabeça ao me chocar com a parede de pedra, respiro fundo e tento me levantar ainda com os olhos fechados, sinto a tontura em meu corpo e meu estômago se embrulha, encosto o rosto na pedra fria e a sensação ruim vai passando, sei que em breve estarei curada, me apoio na parede e me levanto, continuo um bom tempo com os olhos fechados até que me sinto segura que não terei mais tonturas, abro os olhos e observo o lugar onde estou, era uma cela e a única coisa que tinha ali era a grade de ferro e aço fundido, ando lentamente até lá e tento encostar nas barras, vários sinas incandescem mas não me fazem mal, tento entortar as barrar invocando minha força vampira e lobisomem ao mesmo tempo, sinto a selvageria e a energia percorrerem meu corpo me fortalecendo completamente, aos poucos minhas dores vão se acalmando, olho para minha mão baleada, o grande furo de antes não passava de um pequeno orifício em minha palma e outro nas costas da mão, sorrio e seguro a grade, mas antes de fazer algo para tentar escapar alguém toca meu ombro.

Viro instantaneamente e me preparo para usar um golpe contra a pessoa atrás de mim quando encontro belos olhos violetas me olhando com curiosidade, abaixo os braços e observo o homem na minha frente, aparentava ter cerca de dezoito anos, seus cabelos castanhos bagunçados quase cobriam seus olhos, o que mais me impressionou depois daquele olhar violeta foi a sua pele, se assemelhava a um tom pardo, mas tinha manchas verdes como se fosse o tronco de uma jovem árvore, vestia-se com uma camiseta que estava rasgada em alguns pontos e uma bermuda esfarrapada, ambos de um tecido muito leve, seus braços eram marcados com alguns símbolos verdes que realçava ainda mais a beleza exótica dele, ele então diz quebrando o silêncio:

- Desculpe, mas como fez isso? – ele aponta para as barras de ferro.

- Isso o que? – franzo as sobrancelhas em sinal de dúvida.

- Como tocou nelas? Estão marcadas com símbolos contra fadas. – ele diz com curiosidade

- Ah, eu não sei – minto.

Ele assente com a cabeça por um tempo, depois me dá as costas e vai ao outro canto da cela onde estava escuro e eu não conseguia vê-lo, me viro de novo para as grades e respiro fundo , quem seria aquele sujeito misterioso?

Ouço o som da porta se abrindo e o corredor ganhando forma enquanto as pedras se afastavam, duas sombras se refletem na parede em frente à cela e percebo que são vampiros, rapidamente me escondo nas sombras e tento observar o que acontece, há o ranger das grades se contraindo e o grito abafado de uma garota, pela movimentação das sombras percebo que ela tenta se soltar, vejo um dos vampiros bater na cabeça dela e ela desmaia, fico furiosa e estendo a mão por entre o vão da grade mirando próximo a saída e me preparo para lançar um raio de luz no primeiro vampiro que aparecer, mas uma voz atrás de mim me adverte:

- Não faça isso, se quiser ajuda-la deixe eles a levarem.

- E por que eu não faria isso? – sinto o a energia fluir do pingente e se espalhar pelo meu corpo, subindo pelo meu braço, deixando um rastro quase translúcido sob a minha pele fazendo minha mão brilhar, bastava eu liberar a magia para fazer os dois vampiros virarem cinza.

- Sua magia não funciona aqui se tentar disparar as grades irão absorver tudo, se tornarão mais grossas e será impossível tentar escapar daqui. – ele diz com insistência.

Fecho os olhos e espero, podia sentir as faíscas saindo pelos meus dedos, assim que o clique da porta indica que já levaram a menina eu me permito abrir os olhos, olho para o lado procurando o garoto nas sombras, apesar de estar muito bem escondido eu agora podia saber onde estava, fecho a mão e faço a energia voltar à força para dentro de mim, me sento no chão e abraço os joelhos apoiando a cabeça nas barras, sinto um pequeno ardor no rosto e olho pelo canto dos olhos as marcas queimando o aço, não me importo com a dor da queimação e fico ali por muito tempo, até que a queimadura começa atingir a carne e eu me obrigo a mudar de posição, agora olho fixamente para onde o garoto está e tento ignorar a dor perto da orelha esquerda, resolvo lhe perguntar:

- Está aqui há quanto tempo?

Ele suspira pesadamente e diz tristemente:

- Há tanto tempo que às vezes espero que venham me buscar logo para que eu veja a luz do sol uma última vez.

- Sinto muito. – digo baixinho.

- Não, tudo bem. – ele respira fundo – é bom ter alguém para conversar, a última pessoa que esteve comigo se foi há pouco tempo atrás – ele engasga e percebo que está chorando.

Respiro fundo e tomo coragem para me levantar, caminho até ele e sento ao seu lado, permaneço quieta apenas confortando-o com meu silêncio.

Ele não havia feito perguntas sobre mim, eu deveria lhe fazer o mesmo, encosto minha mão sobre seu ombro e a mantenho ali até que ele se acalme, ele já não chorava mais mas permaneceu com a cabeça abaixada apoiada nas mãos, como que se estivesse com vergonha de revelar seu rosto por ter chorado na minha frente, depois de um longo silêncio ele levanta o rosto e encosta a nuca na parede olhando para cima, então diz:

- As vezes finjo que estou em uma floresta, numa noite de lua nova, sem estrelas, faz com que eu me sinta melhor, lembrar da sensação do doce mel das abelhas. - ele sorri fraco e continua - Sinto falta da minha casa, espero conseguir voltar um dia.

Eu afirmo com a cabeça, também sentia falta, mas ao seu contrario eu saí por que eu quis e não porque me arrancaram. Sinto falta de Ethan, me lembro de seu corpo caído no chão e as lágrimas caem sem que eu consiga impedi-las, desejava com todo meu ardor que ele estivesse bem.






HEARTS DRAGON: Zoey a última GuardiãOnde histórias criam vida. Descubra agora