HEARTS DRAGON: Zoey a última Guardiã

A Velha Cabana

Zoey

Minhas pernas estão doendo, mas mesmo assim eu continuo correndo. Corro mais e mais, meus pulmões ardem como fogo, porém eu não posso parar, tenho que continuar, o mundo depende disso, meus amigos dependem disso, Ethan depende disso.

E eu precisava encontrar uma maneira de despistar dos vampiros.

Eles não descansaram um segundo sequer, estavam sempre na nossa cola. Apesar de estarmos na dianteira, não conseguiremos sair do rastro deles tão facilmente.

Ethan corria próximo aos meus cotovelos, estava pálido e seus olhos completamente azuis, percebia-se que ele estava com fome, eu não poderia respirar fundo, mas era o que eu queria fazer, me acalmar e sentir a floresta ao meu redor. Estávamos correndo a mais de três horas e nossa última parada havia sido há provavelmente uma hora e meia atrás, quando Ethan passou Camila para os braços de Vinícius, daqui a pouco seria a minha vez de carrega-la.

A floresta estava mais aberta agora, as árvores eram altas e suas copas enormes, impedindo a entrada de qualquer vestígio do sol, o que dificultava o processo de cura de Camila, já eu e Vinícius estávamos exaustos demais para deixarmos alguma corrente de energia e luz fluir para fora de nosso corpo e ajudar na recuperação dela.

Ethan move os lábios formando a frase "1 km leste". Afirmo com a cabeça e todos nós começamos a correr para o lado oeste, nos distanciando ainda mais dos vampiros.

Depois de quase meia hora eu já não aguentava mais, as árvores pareciam um borrão para mim, minha visão estava ficando turva e distorcida, acabo enroscando o pé em uma raiz e caio com força no chão, apoio meu corpo com os braços e tento me levantar, eu estava muito ofegante, o ar não parecia entrar em meus pulmões, olho para o lado e vejo Ethan de joelhos e curvado sobre o chão na mesma situação que eu, Vinícius tenta largar Camila o mais devagar que consegue, mas logo seus braços fraquejam e ela acaba despencando de costas na terra úmida, ele se joga para trás, sentando abruptamente no chão cheio de folhas secas, havia lágrimas se formando em seus olhos.

Olho para Camila, tínhamos improvisado uma bandagem em sua cabeça para conter o sangue, mas agora o pano já estava encharcado, seu rosto estava inexpressivo e sua boca semiaberta. Finalmente consigo respirar fundo, o que faz minha respiração ficar mais regular, me apoio numa árvore e me levanto com cuidado, abaixo de minhas costelas estava doendo, seguro o local com força e começo a andar para onde Vinicius e Camila estavam, me agacho próximo a ela e retiro o cabelo de seu rosto, com muito cuidado, desfaço as amarras da bandagem, tranco a respiração ao ver o ferimento, o corte ia da sobrancelha direita até o meio da testa, saia muito sangue, precisava ser fechado o mais rápido possível se não ela morreria por infecção, com minhas mãos tremendo agarro a barra da saia e a rasgo, Shauna provavelmente me mataria por conta disso, isso se os vampiros não me matassem antes, respiro lentamente e levanto um pouco sua cabeça, começo a enfaixa-la, após três voltas faço uma amarra bem firme, então me levanto do chão e corro alguns metros para frente ficando longe o bastante deles, o sangue em minhas mãos havia pingado no chão, formando uma trilha, começo a limpar as mãos na terra e nas folhas, sorrio fraco, seria uma pista falsa a ser seguida pelos vampiros.

Respiro fundo o ar da mata e fecho os olhos, sinto a natureza ao meu redor, o bater das assas de uma libélula, o coachar de um sapo, as folhas caindo lentamente no início do outono, apenas eu e a floresta, uno as mãos e faço uma oração em silêncio para os elfos e fadas da mata, pedindo por um abrigo no qual pudéssemos ficar protegidos de nossos perseguidores, ainda com as mãos unidas começo a rezar baixinho para que apenas as árvores a minha volta escutem e levem a mensagem para alguém do povo fada.

Ouço, então, o canto de um canário, abro os olhos e procuro por ele, o pequeno animal estava em cima de um tronco caído, bem a minha frente, pisco duas vezes para ver se não era sonho, mas ele continuava lá, me olhando atentamente, o passarinho tinha seu peito totalmente em branco, algumas tonalidades de amarelo apareciam se misturando ao marrom das penas de sua cauda, o observo com curiosidade, era uma bela ave, mas o que fazia ali? Será que meus pedidos se realizaram e as fadas me mandaram ajuda?