Quem eu sou?

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Ethan

Estaciono o meu carro na enorme garagem da mansão, entro em casa e vou para a sala de jantar, meu pai com certeza estaria me esperando furioso pelo meu atraso, suspiro e penso em Lara, ela me fizera feliz e tornara meu dia um pouco mais alegre, mesmo a conhecendo a tão pouco tempo sentia algo diferente por ela, mas não sabia direito o quê.

Caminho pelo corredor largo e sombrio iluminado apenas pelo lustre do salão principal, subo a escadaria e viro á direita, vou andando rapidamente sendo reverenciado por algumas criadas e guardas que passam por mim ao longo do trajeto, até que finalmente paro em frente ao portal de mogno, os guardas abrem as portas e eu entro, meu pai como sempre estava sentado na ponta da mesa cumprindo perfeitamente seu papel como soberano, olho tristemente para a cadeira vazia a sua direita, minha mãe até antes de ontem estava sentada ali, me encaminho para a cadeira a esquerda da bela mesa de mármore negro, assim que me sento, meu pai estala os dedos e os mordomos vão buscar nossa refeição, ele me olha o tempo inteiro com seu olhar de reprovação, meu pai era arrogante não se tinha dúvidas mas era um inventor brilhante, criara diversas máquinas e atualmente se empenhava em um projeto muito secreto, que nem eu mesmo poderia saber do que se tratava.

Suspiro ao ver a bandeja com o prato de hoje que tinha acabado de surgir na minha frente, para esse invento muitas bruxas foram mortas tendo sua magia drenada, apesar de ser incrível meu pai era extremamente cruel. Essa máquina estava lá na cozinha, uma bancada mágica, assim que a comida era posta sobre ela, aparecia imediatamente na mesa ou em qualquer outro cômodo da casa dependendo de onde estávamos, era prático para nós, mas saber que deveríamos matar para poder produzir mais e mais coisas como essa me deixava triste.

Hoje, percebo que meu pai está ainda mais estressado comigo, mandou os cozinheiros fazerem peixe para mim e eu odiava peixe, olho para ele, estava se deliciando com seu cálice de sangue ignorando totalmente minha presença, suas presas estavam a mostra e seus lábios vermelhos, ele pousa suavemente a taça na mesa com um barulho proposital, e eu encaro o meu copo de suco de morango com apenas o necessário de sangue para eu não ter fome, sempre fora assim depois que ele me viu pedindo aos cozinheiros sangue de animais e não de humanos, seu jeito particular de me castigar. Começo a comer lentamente sob seu olhar, as vezes ele fazia eu me sentir no inferno, como agora. Não o odiava completamente, mas se alguém o matasse, certamente eu não choraria como chorei por minha mãe.

- Ethaniel, como foi seu dia?

Ele pergunta severamente, sua voz ecoa pelo local, eu me surpreendo, desde quando ele se importava sobre minha vida? Respondo devagar olhando fixamente para seus olhos dourados.

- Foi normal.

Ele sorri e lambe os lábios, limpando o sangue, então faz outra pergunta que me deixa desconfiado:

- Tem algo para me contar filho?

- Não pai, não. - Digo num sussurro quase inaudível, que se ele não fosse vampiro certamente não escutaria.

- Não minta para mim - Ele exige.

- Eu disse que não tenho nada para lhe falar. - digo com a voz muito mais alta que o normal.

Ele me encara furioso, certamente hoje eu iria sofrer uma punição severa.

Termino de comer mesmo contra gosto e bebo meu suco em um só gole. O sangue desce pela minha garganta e vai me revitalizando, era uma sensação muito boa. Me levanto e digo:

- Vou ir agora. Se o senhor me permite.

Dou-lhe as costas e caminho para fora da sala, quando ele pergunta:

- Quem era a garota que você quase atropelou?

Fico pasmo, como ele pode ter me espionado sem eu perceber? Encaro o chão e penso em uma desculpa, levo dois segundos, me viro e então digo:

- Uma aluna da escola. Por quê?

- Realmente acha que sou tonto?- ele quase grita comigo.

O encaro, meu castigo estava chegando podia sentir isso, mas não me importaria então eu me atrevo a dizer:

- Estou dizendo a verdade, apenas uma garota da escola.

- Que bom por que não convida ela para vir aqui?

Eu fico surpreso, ele provavelmente estava planejando algo contra mim, mas eu não deixaria encostar em Lara para me chantagear, ela era minha única amiga naquela bosta de escola. Eu digo olhando desconfiado para ele:

- Talvez um dia.

Ele suaviza a expressão e fala mais calmo:

- Olha meu filho, me desculpa por ser tão direto, mas eu gostei desta garota, ela me lembra sua mãe e eu ficaria feliz de tê-la perto de você, faria você se sentir menos só, não é?

Eu ainda estava desconfiado, mas conhecia meu pai o suficiente para saber que estava falando sério e digo a verdade:

- Sim.

- Que bom meu filho, sua mãe ficaria orgulhosa de você. - ele sorri para mim.

Faço uma pequena reverencia para ele que é retribuída e vou para meu quarto.

Pego meu IPod e coloco os fones, ponho numa pasta aleatória e me jogo na cama. Suspiro penso nas palavras de meu pai seja lá o que ele estiver aprontando vou adiar ao máximo que ela venha aqui em casa. Olho para o porta retratos em minha cômoda, pego ele e analiso as três pessoas da foto, minha mãe, meu pai e eu quando bebê.

Abro ele e de trás de nossa foto tiro outra, desta vez só meus pais, olho para minha mãe, nesta imagem ela ainda era humana, respiro fundo e contenho as lágrimas, não iria chorar de novo, sentia falta dela, era meu conforto, mas as vezes pensava que era melhor assim ela ter ido, meu pai a fazia sofrer muito, quase todas as noites eu ouvia ela gritar do quarto deles o som do chicote em suas costas, era horrível e eu não podia ajuda-la a escapar de meu pai, mas no outro dia ela estava lá, firme e inflexível, ao comando de nossos vampiros, sempre mantendo sua imagem de boa esposa. Viro a foto e leio a bela caligrafia dela "Santiago e Cynthia. 1995.".

Eu era importante para os vampiros e uma arma secreta para meu pai. Penso em Lara que não sabia nada sobre mim, então levanto da cama, abro a gaveta à procura de uma caneta e pego meu caderno da mochila, de dentro dele caí várias bolinhas de papel que eu escrevi para ela sobre mim, mas não lhe entreguei, suspiro pesadamente e então escrevo:

"Eu sou um vampiro mestiço, que não morre pela luz do sol, que entra em lugares sagrados e possuí toda a força de um vampiro puro. Eu sou Ethaniel Hone."


HEARTS DRAGON: Zoey a última GuardiãOnde histórias criam vida. Descubra agora