Beber, lutar, navegar

I - Carta

Stiles se encontrava debruçado sobre a mesa no escritório do pai, observando os diversos mapas ali espalhados. Claro que eles eram antigos, da época em que seu pai ainda servia na Real Marinha Britânica, então estavam incompletos e inúteis quanto a novas descobertas.

No entanto, apenas aquilo bastava para atiçar a sua vontade de lançar-se no mar e viver as mesmas aventuras que seu pai descrevia em seus diários também sobre a mesa. Desejava enfrentar piratas, descobrir novas terras, voltar como um herói... No entanto seu pai parecia não pensar o mesmo.

O som da maçaneta o fez fechar os diários e saltar para longe da mesa do pai, mas pela expressão do homem ao entrar, não parecia surpreso. Seus olhos desconfiados fizeram Stiles engolir em seco, sua atenção se desviando para as cartas que ele trazia nas mãos.

- Tem uma pra você, do Scott. - disse John caminhando até sua mesa com o auxílio de uma bengala, seu rosto estava cansado e tinha fios grisalhos, mas ainda parecia um tanto enérgico.

O homem mal terminara de falar e o rapaz já havia se lançado sobre si tomando a carta de suas mãos com empolgação, abrindo e começando a ler ali mesmo. Scott era mais do que o melhor amigo, ele era seu irmão, seu pai os criara desde que o sr. McCall desapareceu no mar, assim como toda tripulação sob comando dele.

- Ele conseguiu, e é apenas alguns anos mais velho que eu... - murmurou o jovem Stilinski soltando um suspiro pesado. Na carta o irmão narrara as aventuras no mar, ele havia seguido a carreira e ingressado na marinha real. Agora podia não ter uma alta patente, mas já era imediato do navio onde servia.

John quase se ressentiu do que faria, mas o melhor para o filho seria que vivesse longe de perigos, ele tinha uma mente brilhante, podia salvar vidas. Pegando outra carta do interior do casaco, depositou-a com cuidado nas mãos de Stiles, um tanto hesitante com a reação dele.

- O que é isso pai? - indagou virando, o selo com o qual a carta havia sido lacrado, agora rompido, era o símbolo da universidade de Cambridge. - Pai, só pode estar brincando, eu já disse que não vou! - jogou a carta na mesa, andando de um lado a outro num ataque de raiva. - Não quero ser médico! Eu quero ser um marinheiro, quero viver aventuras e não ficar trancado num consultório até o fim dos meus dias!

- Eu não estou te dando escolhas Stiles, eu sou seu pai e você vai me obedecer. - disse John com sua voz neutra e aparentemente tranquila. Somente por o conhecer bem Stiles sabia que ele estava se controlando para não gritar com ele, o rosto adquirindo tom vermelho deixava aquilo claro. - Querendo ou não, vai embarcar rumo à Inglaterra em uma semana.

O homem deu-lhe as costas e seguiu porta afora, seus atos e postura deixando claro que dava aquele assunto por encerrado. Cerrando as mãos em punhos, Stiles deu um soco na mesa, ignorando a dor por ato tão estúpido.

- O senhor apoiou Scott na decisão dele. - disse num tom baixo, o que fez seu pai parar, no entanto sem se virar. - O ensinou a ler os mapas, a usar uma espada e lhe deu uma carta de recomendação no momento do alistamento dele... - Stiles precisou se controlar para não chorar, não deixar a voz falhar. - Desculpe por não ser um filho perfeito, é a única explicação para não me querer seguindo seus passos.

John fechou os olhos e respirou fundo, seu coração se apertando no peito. Stiles tinha a mesma teimosia dele quando jovem, mas o mesmo gênio difícil e curiosidade de Claudia. Ele não suportaria as perdas que tal vida proporcionava, céus, ele tinha uma mente brilhante, mas sua coordenação era péssima, ele morreria no primeiro combate.

E John não enterraria mais ninguém. Foi por esta razão, que decidiu por tamanha crueldade.

- Você não serve para vida no mar, se tem alguém que pode honrar meu nome, é o Scott. - disse olhando para o filho de forma fria. - Se quiser ser útil, vá para universidade e seja alguém. - seus passos lentos recomeçaram, o som da bengala ecoava de encontro ao piso de madeira. - Talvez se você fizer isso, não seja mais apenas uma carga.

Dessa vez Stiles não se controlou, apenas sentou-se no chão ali mesmo e abraçou os próprios joelhos, tremendo, a cor deixava seu rosto e as lágrimas escorriam. Ele sempre pensara que era um peso para o pai, uma carga, sabia que ele desistira no auge da carreira apenas pois tinha que cuidar de si. No entanto, ouvir aquilo da boca do pai era muito diferente, era muito doloroso.

Passando a costa da mão para apagar a trilha de lágrimas, levantou-se e seguiu rumo ao seu quarto para preparar suas malas. Ele iria para universidade, mas seu pai estava enganado se pensava que ele voltaria para casa depois que se formasse, ele não iria depender do Stilinski mais velho.

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