VII- Capitão

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Uma das coisas que você aprende quando se está no mar é que nem todos nasceram para essa vida. Corrigindo, nem todos tinham estômago para a vida no mar, e a prova disso estava nas centenas de pessoas que ele indicava chás para enjoos todos os dias, por sorte ali tinha um grande estoque sendo vendido aos passageiros.

Era seu dia de folga, na verdade ele tinha nenhum paciente agendado, por isso fora para o convés sentar-se aproveitando a brisa e ler um de seus livros, bom. Seu plano de relaxar estava indo bem até que duas crianças, aparentemente em seus 12 anos passaram correndo e tropeçaram em suas pernas, rolando no chão com suas espadas de madeira.

- Vocês estão bem? - indagou se aproximando para ver se eles estavam machucados.

- Eu sou o Comoro McCall, o maior caçador de piratas! - dissera um dos meninos se pondo de pé e inflando o peito, algo adoravelmente engraçado. - Um tropeção não me machuca!

O outro garoto se colocara de pé, e logo ajeitou um falso tapa olho, enquanto erguia a espada de madeira pronto para recomeçar o duelo com o seu maior inimigo.

- Nunca vai pegar minha tripulação! - disse o suposto pirata atacando, e foi rindo que Stiles largou seu livro e pegou um cabo de esfregão e o ergueu como se fosse uma espada.

- Veremos se são tão fortes assim, desafio os dois! - dissera, e logo estava sendo atacado pelos dois garotos, claramente se divertindo com um adulto disposto a diversão.

As duas crianças claramente haviam praticado esgrima, pois tinham certa noção do que estavam fazendo com aquelas espadas de madeira, e pareciam achar que Stiles seria uma luta fácil. Entretanto uma das coisas nas quais o homem investira o tempo livre foi praticando esgrima, uma vez que não queria ser um fiasco novamente caso tivesse problemas.

Recuou um passo esquivando/tropeçando enquanto o "comodoro" fazia uma estocada com a espada na altura de seu estômago, e o "pirata" fazia um corte diagonal, que ele conseguiu aparar usando a sua arma improvisada. Aquilo deu tempo para o "comodoro"  erguer a espada com tamanha força que tirou o cabo da mão de Stiles.

Rindo, ele se levantou com as espadas passando da altura de seu pescoço para a altura e seu peito, enquanto os meninos sorriam e faziam um cumprimento pela tão merecida vitória.

- Por favor, poupem minha vida, não me abandonem numa ilha deserta! - suplicou com os braços erguidos, algumas pessoas que passavam balançavam a cabeça em negação por tamanha infantilidade, enquanto outros riam da atitude do seu médico.

- Ele vai ser meu prisioneiro e limpar o convés inferior! - dissera um, enquanto o outro passava a retrucar dizendo que queria que o capitão fosse o seu prisioneiro.

Sorrindo divertido, Stiles observou uma ave sobrevoando o navio, um belo gavião, pelo que pôde perceber, ele indagou-se como uma ave poderia voar tanto em mar aberto, e deduziu que ela deveria pertencer a alguém da tripulação, afinal vira a mesma ave no dia anterior.

Foi com espanto que ouviu o grito de cima, de alguém avisando que era um navio desconhecido, de velas negras. Aquilo deixou o rapaz alerta, que logo tocou os ombros das crianças, se abaixando e ficando muito sério.

- Procurem os pais de vocês e fiquem no convés inferior. - dissera, sem dar espaço para que eles retrucassem. - Agora! Podemos estar sendo atacados, vão!

Observando os garotos irem aos tropeços, ele começou a ajudar algumas pessoas a voltarem para o convés inferior, ele berrava ordens para que eles ficassem quietos até que fosse dito que estavam em segurança. Quase riu com a ironia que antes ele teria simplesmente permanecido lá em cima ao invés de tentar salvar vidas.

Beber, lutar, navegarOnde histórias criam vida. Descubra agora