XIV - Pode ir falando

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Não demorou muito para que Stiles encontrasse Isaac, na verdade, bastou parar na frente de uma taberna de onde vinha muito barulho e som de coisas quebrando, pois no instante seguinte um corpo foi jogado contra as portas, parando aos pés de Stiles.

- E se voltar a me cantar, eu te jogo no mar com uma bola de canhão amarrada no pescoço! - disse um rapaz louro furioso, que o doutor reconheceu como o seu amigo. - Stiles, veio se juntar aos marujos? - indagou secando as marcas de sangue das mãos na camisa.

- Eu vim atrás de você, Derek disse que tinha algo a resolver com a família. - comentou desviando do corpo no chão e entrando junto do rapaz. - Você ficou bem irritado com aquele cara, Peter, não é? - indagou, vendo o homem se sentar e puxar uma caneca meio cheia na mesa.

- Peter é velha história, com sorte não  verei novamente aquele idiota por alguns anos. - virando a caneca de uma vez, ele fez um sinal com a mão pedindo duas. Aquilo fez Stiles notar que Isaac tinha uma tolerância anornal ao álcool, pois quase sempre o via com uma caneca na mão, e tinha certeza de que não era leite de cabra que tinha ali.

- Que tal me contar sobre essa velha história? Parece um relacionamento complicado. - comentou antes de pedir para a atendente trazer o prato do dia, ele pegou sua caneca e sorveu o líquido, tinha um gosto amargo e forte, mas teve de admitir que era bom. - Acho que ele não superou a velha história.

Isaac bebericou olhando para a mesa oposta, onde se encontravam Boyd, Johnson e Max, no entanto seu olhar era o de alguém que estava distraído. Stiles estava desistindo de obter uma resposta, ao menos agora, e já havia começado a comer o prato trago quando ouviu o rapaz voltar a falar.

- Eu era pastor. - disse Isaac, fazendo o amigo ficar chocado. - Feche a boca, me deixe continuar.  Meu pai era um alcoólatra, eu quem cuidava da casa e se algo acontecesse de errado ele me agredia.

"Um dia quando eu tinha quinze anos, ele chegou muito bêbado e foi tosar as ovelhas, ele levou a lamparina para os fundos. Não sei bem o que aconteceu, mas acho que ele estava tão bêbado que derrubou a lamparina no chão, o óleo se espalhou no feno.

Acordei com o cheiro da fumaça, o fogo já havia se espalhado e começado a atingir a casa, eu sabia que a essa altura tudo que poderia fazer era fugir e tentar me salvar. Sendo assim, me troquei e peguei uma bolsa com as poucas moedas que restaram e sai correndo dali, me afastando o máximo possível. Já viu um incêndio de longe, Stiles? Toda aquela chama era linda, mas desesperadora.

O dinheiro que eu tinha me manteve por alguns dias, mas ninguém ali planejava me dar um serviço descente, eu trabalharia de tudo, doutor, mas jamais permitiria vender a mim mesmo por um pão e copo de água.  Eu passei a morar em cais não muito diferente daquele que você viu, eu ganhava trocados para ajudar a carregar as cargas, mas deve imaginar que a vida de alguém na rua não é fácil.

Naquele ano as coisas haviam ficado difíceis com a presença dos piratas rondando o lugar e abordando navios, então eu comecei a assaltar pessoas.  Veja bem, fingir estar bêbado ou doente e esbarrar em alguém e rapidamente puxar o saco de moedas não era algo difícil, e aquilo pôde me manter bem, talvez com um ou outro inconviente com a polícia, mas eu podia lidar com aquilo facilmente.

Naquela noite eu fiquei no cais até mais tarde, eu não estava particularmente interessado em assaltar ninguém, até que eu o vi, usando vestes escuras, porém elegantes, aparentemente desarmado, era um alvo perfeito."

- Você assaltou o Peter?! - o rapaz praticamente gritou, enquanto se erguia empurrando acidentalmente seu prato, derrubando algumas ervilhas na mesa.

- Cala a boca e senta, eu ainda não terminei. - disse o rapaz empurrando o ombro do médico para baixo, a fim de que ele se sentasse. - Sim, eu fui estúpido o suficiente para tentar o assaltar.

Beber, lutar, navegarOnde histórias criam vida. Descubra agora