Missing Scene: Scott

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Neste momento eu, Scott McCall assumo o comando para narrar a vocês o que aconteceu cerca de 17 anos atrás, em Londres, Inglaterra.

Estava eu sentado no cais como já era costumeiro, observando o horizonte enquanto aguardava que surgisse a conhecida bandeira da Companhia das Índias Orientais. Mesmo dois anos tendo se passado, eu aguardava pelo dia que meu pai voltasse do mar, independente do que as pessoas dissessem, eu sabia que ele não seria capaz de abandonar a mim e a minha mãe.

Quão enganado eu estava a respeito, não?

- Scott! Graças a Deus! - ouvi a voz de minha mãe e virei-me, estranhamente ela não estava sozinha, mas acompanhada de um homem e de um garoto um pouco menor do que eu. - O que está fazendo aqui? Mandei esperar-me em casa!

- Eu vim esperar o papai. - afirmei com convicção, notando um olhar triste passar pelo rosto de minha mãe. Ela não acreditava que ele voltaria, eu sabia disso.  - Quem são eles?

Sim, talvez eu estivesse soando grosso ou mesmo desrespeitoso, mas acredite em mim, isso não importa muito para um garoto aos seus oito anos. Exceto quando sua mãe lhe dá um puxão de orelha, que foi exatamente o que a minha fez no momento.

- Não seja malcriado, Scott! - eu teria revirado os olhos se não soubesse que me resultaria em outro puxão. - Esse é o Almirante Stilinski, ele veio nos visitar pois ele e seu pai foram amigos. E esse é o filho dele, Stiles.

Olhei com certo interesse para o homem, se ele fora amigo do meu pai e estava ali, seria por ter notícias dele? Desviei o olhar dele por um instante para o garoto, Stiles. Ele tinha uma expressão adorável, o modo como segurava firmemente a barra do sobretudo do pai lhe passava uma imagem de insegurança.

Hoje quase ouço o mundo rir de minha ingenuidade.

- Vamos para casa, lá poderemos conversar melhor, sra.McCall. - dissera o sr. Stilinski, ao que minha mãe assentiu e logo estávamos voltando para a casa em que morávamos.

O lugar era pequeno, porém aconchegante. Minha mãe trabalhava dia e noite em casas de família e eu a ajudava no que preciso, normalmente me era dada função de cuidar dos cavalos, ao menos naquilo que eu conseguia fazer.

Ao chegarmos em casa, ficou claro que os adultos iriam querer conversar, o que resultou em Stiles e eu indo para o quarto. Claro que podíamos ouvir toda conversa dali se ficássemos calados, e foi exatamente o que fizemos.

- John, eu não sei se posso, seria uma mudança grande demais para o Scott. - dizia minha mãe em um tom baixo. - E o que eu faria? Não teria nada nas colônias.

- Por favor Melissa, eu preciso de você. - John soava cansado, suplicante. - Desde que Claudia morreu Stiles não foi o mesmo. Ele mal fala, se tornou muito quieto, eu me preocupo com o estado dele, já se passou um ano. Sei que a perda da mãe foi um baque... - meu olhar recaiu sobre o garoto, que se encolhia como se toda aquela situação fosse sua culpa. Se ele começasse a chorar, eu sinceramente não saberia o que fazer, por isso apenas toquei o ombro dele e apertei, lhe lançando um sorriso encorajador. - ... Eu prometo que vou cuidar de vocês dois, podem morar comigo. Não somente por nossa amizade, Melissa. Lembre que isso pode ser o melhor para nossos filhos.

A conversa foi encerrada por aí mesmo. Minha mãe me contara depois que iríamos nos mudar e ir morar com aqueles dois. Obviamente eu disse que não iria, afinal o que meu pai faria se voltasse e não nos encontrasse ali? Não queria que ele se chateasse e pensasse que o abandonamos.

Mas um garoto de oito anos nada tinha a decidir sobre seu futuro, e por esta razão, em poucas semanas estávamos em um navio rumo a um mundo novo. Naquela noite eu me soltei dos braços de minha mãe e com cuidado para não acordar os outros, segui para o convés superior.

Ali foi meu primeiro contato verdadeiro com Stiles. Ele estava recostado na borda do navio, se movendo para frente e para trás distraidamente enquanto as ondas se chocavam contra o navio. Em um destes movimentos bruscos, seu corpo pendeu para frente e eu agi instintivamente, correndo e segurando sua camisa, puxando-o para trás.

Ambos caímos no convés, ofegantes e assustados pelo barulho, afinal ser encontrados por um adulto poderia ocasionar sérias punições.

- Fique quieto. - pedi para ele enquanto nos escondíamos atrás de alguns barris, Stiles apenas assentiu, aparentemente nervoso.

O som de passos afastou-se, e suspirei aliviado. Ao olhar para o lado, não tive como não sorrir ao ver o pequeno Stiles agarrado ao meu casaco, aparentemente assustado. Eu sempre quisera um irmão, e naquele momento percebi ter encontrado.

- Stiles, certo? - indaguei baixo, o vendo assentir. - Eu sou Scott. - olhou para os lados. - Quer ser meu amigo?

- Quero. - respondeu hesitante, admito que me surpreendi, afinal seu pai havia dito que ele não falava.

- Ah! Aqui estão vocês dois! - a presença de John fez Stiles voltar a esconder-se atrás de mim, o que fez o homem sorrir.- Vejo que ficaram amigos. Espero que não fique se deixando levar pelo que esse garoto apronta. - comentou sorrindo, antes de pegar Stiles no colo.

Stiles logo o abraçou e escondeu o rosto em seu pescoço, e quanto a mim, bem, devo dizer que fiquei meio desconfortável com aquela cena, afinal eu ainda sentia muita falta do meu pai, de alguém que me desse aquele carinho. Foi com surpresa que senti um cafuné, e ao erguer os olhos, notei ser John.

- Vamos, filho? Melissa vai se preocupar se levantar e não lhe ver. - foram gestos simples, palavras simples, no entanto a quantidade de carinho que existia me tocaram profundamente.

Aceitando a mão que ele me estendia, caminhei ao seu lado rumo ao convés inferior.

Levariam meses até que eu aceitasse chamá-lo de pai, meses até que me adaptasse com a nova vida que me era oferecida. Mas no final, eu não sentia nada além de amor e gratidão por aquela visita. Por ter me dado um pai e, mais do que um amigo, um irmão a quem passei a amar incondicionalmente.

-x-
Desculpem o atraso! A autora está viva, apenas está sendo consumida por um dementador chamado "Faculdade"

E então, alguém ainda acompanha? Espero que tenham gostado desse Missing Scene.
Um grande beijo, Yagami Hina 💝

Beber, lutar, navegarOnde histórias criam vida. Descubra agora