IX - Esfregão

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"Eu vou matar o Derek. Vou pegar o bisturi e remover todos os órgãos dele. Vou arrancar as unhas dele... Vou arrancar aqueles lindos olhos verdes e..."

- Você esqueceu aquele pedaço. - disse Isaac sentado na lateral do navio que se mexia com as ondas, o rapaz apontava para uma área mais escura no convés, antes de voltar a sorver o conteúdo de sua caneca distraidamente.

- Eu vou arrancar os cabelos do Derek e usar como esfregão! - rosnou Stiles enfiando o esfregão no balde, antes de limpar a madeira do convés com tanta brutalidade que Isaac temeu que um buraco se abrisse ali. - Você não tem nada pra fazer?! - disse irritado, mas se arrependeu ao notar o louro se encolher, mas o fitar como se fosse um filhote chutado. Certo, tinha de parar de comparar os membros da tripulação com cães.

- O capitão ordenou que eu fiscalizasse seu trabalho. - disse balançando as pernas distraidamente, antes de ficar de pé e inflar o peito. - "Isaac, você está responsável pelo médico! Vigie ele, coloque ele pra trabalhar e mantenha ele seguro!" depois ele falou algo sobre minha garganta se algo te acontecesse. - comentou engolindo em seco e tocando a jugular.

Stiles não conteve a risada perante tal imitação, era cômico ver alguém com aparência tão inocente e inofensiva quanto Isaac ali, parecia que ele simplesmente não combinava com o estilo de vida pirata. Saber que o capitão prezara sua segurança melhorara um pouco seu mau humor, e logo a madeira estava limpa e sem nenhum buraco.

Aparentemente contente por terem terminado aquilo, ou melhor, Stiles ter terminado enquanto ele bebia alegremente, ele puxou o outro pelo braço até os cordames, dando uma rápida aula sobre o funcionamento do navio, sobre como saber que as cordas estavam em bom estado, se a madeira do mastro não estava apodrecendo ou rachando devido algum combate.

- Olha só, o sol vai se pôr logo. - comentou batendo nos ombros do médico. - Seu paciente te espera, tente não envenenar ele, ou usar ele como esfregão. - brincou.

Droga. Por mais estúpido que parecesse, torcia para que não tivessem ouvido suas reclamações naquela tarde sobre Derek, mas aparentemente não havia sido tão discreto quanto imaginara. Ajeitando as mangas compridas no lugar, adentrara a cabine do capitão sem cerimônias, mas antes que abrisse a porta que dava para o quarto, parou ao ouvir vozes baixas.

- ... arriscado, mas é nossa chance. - dissera a voz feminina que ele sabia pertencer a Cora.

- Laura não nos quer envolvidos nisso, ninguém garante que essa excursão dará certo! - disse Derek num tom irritado. - Não temos nada além de lendas, se fosse algo certo Deaton nos diria!

- Capitão, Alan deu o mapa para vocês dois. - dissera uma voz masculina, era o mesmo homem que havia o sequestrado do barco. - Se essa planta existe mesmo...

Boyd se interrompeu ao ver Stiles entrando quase caindo no quarto, atrás de si vinha um Isaac com expressão um tanto quanto séria. Apesar de no fundo ele se culpar, ele quem havia ordenado que o rapaz fosse até Derek, mas não achou que o mesmo estivesse em uma reunião.

- É muito feio ouvir atrás da porta, Stiles. - dissera Derek, o mesmo estava sentado na cama sem camisa, as bandagens parcialmente visíveis, uma vez que a coberta azul ocultava abaixo da sua cintura. - Boyd mantenha a rota até o mar do Caribe, Isaac, fique com o primeiro turno da vigia. - olhou para a irmã, sentada na sua cama como se a pertencesse. - Nossa conversa está encerrada, não vamos mais falar nisso.

Aos poucos todos deixaram o quarto para cumprir as suas ordens, Cora parando no meio do caminho para mostrar a língua para o irmão num ato totalmente infantil, antes de sair da cabine. Eles estavam novamente a sós. Era algo muito estranho estar na presença do outro, por isso ele tentou se manter o mais profissional possível enquanto se aproximava, sempre sob o olhar atento de Derek.

O rapaz ficou refletindo se deveria ou não se desculpar com o outro enquanto seus dedos cuidadosamente soltavam a bandagem, antes de desenrolar a mesma, que já estava manchada de sangue. Soltando um suspiro aliviado ao ver que apesar de vermelho, o local não estava inchado, sem pus, sem sagramentos novos.

- Fique quieto. - ordenou pegando um pouco de água e limpando ao redor da ferida com cuidado. Ele sequer notava a proximidade que havia entre os dois, ele sequer tentava pensar naquilo. Derek, por outro lado, podia sentir o hálito quente do rapaz contra seu peito de tão próximos que estavam, podia sentir notar as pintinhas em sua pele, podia sentir seus toques e...

- Ai! - reclamou o capitão ao sentir o outro tocar sua ferida, e somente então percebeu que em algum momento Stiles havia parado a limpeza e notara que estava sendo observado. - Isso doeu.

- Era pra doer mesmo, não fique me encarando assim, me distrai. - disse revirando os olhos e fazendo cuidadosamente um novo curativo no lugar do outro. - Você estava perto demais de mim, aliás, e não é como se eu... - o rapaz foi bruscamente interrompido ao sentir algo contra sua boca.

Foi com surpresa que notou que era outra boca! Se existia um momento para entrar em pânico, aquele certamente o momento ideal para isso, não tinha como simplesmente se deixar ser beijado por outro homem e... Um gemido baixo escapou seus lábios ao sentir Derek sugar seu lábio inferior e o mordiscar, o seu momento de choque foi o suficiente para que sentisse a língua do capitão invadindo sua boca intensificando o beijo.

Certo, o rapaz tinha certeza de que ele deveria fazer alguma coisa, mas os lábios sobre os seus, o toque gentil e firme em sua cintura acabava o impedindo de lembrar o que era, então apenas se contentou em passar os braços ao redor do pescoço do Hale enquanto aproveitava aquele momento. A única razão dele ter se afastado era que ainda precisava respirar, infelizmente era algo necessário.

Ah! Sabe a coisa que deveria ter feito? Enquanto se encontrava ofegante, com o rosto vermelho, os lábios inchados observando o seu atual paciente, conseguiu se lembrar do que era.

- Obrigado Stiles. - disse o rapaz, não era um sorriso de escárnio, ou um sorriso de lado, era um sorriso simples e natural. - Aliás faça o que mandei, tire essa barba, está ridícula. - cruzou os braços. - E é incômodo te beijar com a barba desse jeito.

E foi revirando os olhos que o rapaz se levantou e saiu da cabine, num misto de irritação, constrangimento e excitação, inorando completamente o chamado de Derek.


Beber, lutar, navegarOnde histórias criam vida. Descubra agora