You must say goodbye.

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"[...] Quando o espírito se vai e cessa a centelha de vida, ritos de despedida são necessários.

Todos os rituais pelos quais passamos nos ajudam a dizer adeus.

É preciso dizer adeus."

Neil Gaiman.

Doze de outubro de 1888, sexta-feira. (manhã). Cemitério de St. James. Highgate. Inglaterra.

Encaro a boneca deitada imóvel em seu leito de paz, os olhos azuis fechados, o cabelo negro sobre o rosto caindo como uma cachoeira. Bela... Tão bela quanto minha mãe. Mas assim como ela jaz morta.

Desvio o olhar e vejo uma estátua de mármore vertendo lágrimas. Como eu odeio estar em velórios, não há nada pior, acima da tristeza que todos sentem eu não sinto nada, e tenho que fingir que estou triste por alguém que só vi algumas vezes.

Lilith por outro lado não veio até aqui, está em casa com Emmeline e Chevonne chorando, e bem, Barbie deve ter se juntado a elas. Também não queria estar aqui, mas já que sou obrigado.

Olho-a novamente, vendo assim nem parece que teve o abdômen aberto e as tripas retiradas. Mais um caso de "Jack o estripador", porém esse de alguma forma não foi divulgado, bem, às vezes a Nonsense age rápido. Às vezes.

- Com licença. – Sussurro me curvando. – Irei visitar uma pessoa. Com sua licença e meus pêsames.

Scorpio consente e saio, detesto cemitérios, mas esse particularmente, eu detesto mais que os outros. Cemitério de St. James, o local de descanso para todo Maurêveilles. Caminho entre as lápides pálidas e descascadas até ver o mausoléu negro no meio de tantas cruzes. Paro em frente à placa que indica minha família: "Maurêveilles".

Vejo rostos de pessoas que não conheci um que odiei minha vida inteira e outro que me dava paz...

- É sua família? – Arrepio-me quando escuto sua voz.

- Sim, Jared, seja apresentado aos Maurêveilles.

Ele para ao meu lado e olha os rostos, é estranho vê-lo sério, e seu lábio ainda está inchado de ontem...

- Essa é sua mãe? Michaella?

- Sim... – Digo encarando o retrato sorridente dela.

- Ela se parece com você... – Ele me encara e sorri. – Só que parece mais com a Lilith. – Seus olhos se desviam. – Bell sempre disse que queria conhecer sua família, bem, se eu fosse ele não ia gostar de encontrá-los assim, reunidos em um mausoléu.

- E se sua família também estiver aqui? – Digo um pouco ríspido.

- Se estivessem eu diria "olá" para ela.

- Vamos caminhar? Quem sabe encontramos ruivos sardentos que gostam de se pendurar em lustres?

Ele sorri, abraça seus ombros, e depois nega.

- Eles não estão aqui, e também... Não quero encontrá-los, não sei o que faria de verdade, tenho medo.

- Tudo bem...

- Vamos voltar? Não devemos fazer tal desonra a senhora Rebecka.

- É. Você tem razão.

XXX

O clima da casa declinou como o tempo, estranhamente os pais da falecida estavam aqui, Emmeline por outro lado, nem ao menos desceu para vê-los. Lilith disse-me que é porque ela fugiu de casa, e há muito não via os pais. Mas então ela devia falar com eles, se bem, que não é um momento apropriado. Sento-me ao lado de Chevonne que está belíssima trajada toda de preto, mas suas lágrimas destoam o belo contraste dela e do vestido. Os olhos âmbares sobre o véu me fitam tristonhos. Sorrio algo não muito forçado e ela retribui, e depois apoia sua cabeça em meu ombro.

The Ripper - Saga Maurêveilles - Livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora