13 || William

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— William... você tem mesmo certeza? — digo ciente do que pode se seguir. Relembro-me de Jim. Talvez a agressão física tivesse sido melhor.

— A mais absoluta e real certeza. Uma Besta nunca me controlou porque eu sempre bloqueei minha mente. Quero ver seus poderes em ação Dimitri. Quero ver e sentir... — William levanta-se da cadeira e aproxima-se de mim. O homem é alguns centímetros mais alto, porém, não fico muito para trás. O encaro.

— É você quem está pedindo...

Eu vou entrar na mente de William. Vou entrar na mente do líder dos Rebeldes.

— Tudo bem. Pode começar — William pigarreia.

Concentro minha mente. Desligo-me de tudo ao meu redor. Respiro fundo e sinto o cheiro mortífero da sala. Fecho os olhos e vejo em minhas pálpebras a imagem de William. Não consigo. O homem está bloqueando a mente. Sinto perante tal ação.

— Você está bloqueando... pense em algo sem importância, pense em qualquer coisa que envolva seus sentimentos — digo ainda com os olhos fechados para não perder a sintonia.

Entrar na mente de uma pessoa é como pegar água. Se você deixar as mãos fechadas, em forma de concha, a água não cairá, apesar de se armazenar em pouca quantidade, mas, se você pegar a água e deixar certos espaços entre os dedos a mesma irá cair. Eu preciso, vulgarmente, "pegar" a mente e as lembranças e então agarrá-las formando uma espécie de barreira ao seu redor para elas não fugirem. Mas, se eu deixar um vão no controle todas as lembranças irão se esvair. Como água caindo entre meus dedos. Preciso me concentrar para armazenar todas as memórias e lembranças. Se uma sequer ficar excluída outras não irão fazer o menor sentido. Uma lembrança desencadeia outra. Mas, como citei "apesar de se armazenar em pouca quantidade", as memórias as quais "pego" nem sempre são todas, costumam ser as que mais marcaram o indivíduo.

E então consigo adentrar a mente do homem. Sentimentos fortes. Indescritíveis. Não são rasos como os de Jim.

Flashes tomam conta de minhas pálpebras. A primeira lembrança e a mais importante de William surge. Uma mulher jovem com cabelos pretos e olhos da mesma cor intensa sorri enquanto percorre um imenso jardim. É o jardim da sede dos Rebeldes. A memória é tão vívida e intensa que escuto a mulher dando risada. Sinto paixão. E então tudo muda e a atmosfera é outra. A mesma mulher retorna, porém, ela aparece grávida. Sinto felicidade. É a mãe de Jake. Mais uma vez a cena muda. Agora vejo uma floresta e, abaixo de uma clareira, uma garotinha magra e pálida. Ela treme e também chora baixo. A garotinha é Frances. Um sentimento de algo novo e de necessidade de ajuda. Mais uma vez a cena é mudada. Vejo em minha pálpebra uma Frances sorridente, saudável e feliz. Sinto-me feliz. A imagem de Frances é afastada. Em seu lugar surge a imagem de Jake sorrindo. Mais uma vez sinto felicidade. E então surge a minha imagem. Eu deitado sobre uma cama. Dormindo. Esperança.

E então eu tenho total controle do homem.

Posso mandar você fazer o que eu quiser. Digo e sei que minhas palavras perfuram a cabeça de William. Encerro o meu controle. Agora vem a pior parte.

Vejo a mulher de cabelos pretos morrer no parto de Jake. Sinto tristeza. A cena muda e vejo Jake ser ferido por uma Besta. Sinto desespero. E então vejo Frances berrando e chorando enquanto enfia uma faca em um homem já caído no chão. William sente um desejo de proteção.

E eu também. Isso é um grande problema. Nós dois sentimos o mesmo sentimento.

Não. Uma dor dilaceradora aflige minha mente. O problema é que William também sente. Estamos compartilhando nossos sentimentos, porém, parece não haver mais nenhuma lembrança ruim para substituir essa. Sinto meu corpo sucumbir. Meus joelhos batem no chão do laboratório. Continuo tentando sair da mente de William. Impossível. Nossos sentimentos parecem estar entrelaçados a ferro e fogo.

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