30 || Missão

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Como já era de se esperar eu não consigo dormir. Daqui algumas horas estarei indo até a Comunidade Centro...

Eu matei o William. Ainda não me acostumei com isso.

Frances também não vai se acostumar, Madison muito menos.

Acho que ninguém vai se acostumar.

Estou sentado no chão, apoiando minhas costas na cama. Mexo na minha pulseira de couro... ela parece estar com uma textura diferente. Estranho.

— Teria sido bem mais fácil se você não tivesse me deixado nas margens de um rio... — falo com a pulseira, como se o objeto inanimado abrigasse a alma de minha mãe, ou de meu pai.

Talvez, se eu tivesse sido informado sobre o meu desfavorável destino... Talvez eu não teria sido sempre tão cego.

Paro de cutucar a pulseira. Olho com o cenho franzido para a mesma. Ela está... descascando? Não. É como se... houvesse uma segunda camada de couro. Sou guiado por algo além de mim. Tiro a pulseira de meu pulso e começo a descascar. Por que esotu fazendo isso? Nao faço a mínima ideia.

Vejo letreiros surgirem. Cerro meus olhos.

— Mas que... — não termino minha fala.

Finalmente consigo enxergar os letreiros.

River.

É isso que os letreiros dizem. River Dimitri.

O que isso significa?

— River Dimitri? — parece-me familiar quando verbalizo.

Alguns minutos se passam. Ainda não consigo identificar de onde eu reconheço "River".

Escuto passos no corredor. Volto a colocar a pulseira no meu pulso. Os passos vão se aproximando.

O indivíduo para em frente a minha porta. Levanto-me, já me preparando para qualquer coisa que vier. Folhas passam debaixo de minha porta. Espero mais alguns segundos. Seja quem for que estava atrás de minha porta, foi embora. Vou até as cartas.

Solto um suspiro de alívio quando abaixo-me e leio: "Matt". Ele está indo embora.

Pego as folhas. Uma delas reconheço como sendo a que encontrei no quarto de Robert: "Área Restrita". Tem outra folha. É a letra de Matt.

Leio atentamente: "Já conversei com Max. Tudo está bem. Cuide de Frances para mim. Por que você não quer ser um líder? Não quero uma resposta. Quero que você apenas pense". Franzo meu cenho quando termino de ler.

Penso em uma resposta enquanto guardo as folhas em minha mochila.

Volto a me sentar no chão, encosto-me na minha cama.

É simples. Não quero ser um líder porque, se eu errar, a culpa vai ser só minha. Só minha culpa. E eu sei que vou me arrepender. Eu sempre me arrependo. Sempre.

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— Matt foi embora. Por que ele faria isso? — Frances questiona enquanto olha para sua refeição da manhã. Até o momento ela nem sequer olhou para mim e isso me incomoda muito.

Depois do refeitório nosso destino é a floresta. É a Comunidade Centro. Na mesa, há apenas eu, Frances e René. Robert ainda não apareceu... diferente de seu filho Max que não para de trocar olhares comigo. Yan, o homem que vai nos acompanhar na missão até sua própria comunidade, está sentando em uma mesa próxima a nossa.

Até agora ninguém comentou o sumiço de William. Até agora todos estão unicamente preocupados com a missão. Até agora. Vejo Madison vindo na direção de nossa mesa. Até agora. Ela se senta.

Até agora.

— Oi. Vocês viram o William? — ela senta-se ao lado de Frances.

Todos nós da mesa a olhamos.

— Até agora não. — Frances franze seu cenho.

Eu cutuco minha pulseira, escondendo o "River".

— Estranho. — Madison é quem franze seu cenho. — Vou ir até o alçapão.

Mordo o lado interno de minha bochecha.

— Se estiver trancado é porque ele não quer interrupções. — Frances dá de ombros.

Eu tranquei. Ótimo.

— Eu sei. — Madison se levanta. É claro que sabe.

Vejo Ben e Justin entrarem no refeitório. Justin carrega Katherine nos braços.

Lembro da carta de Matt. Sou muito fraco para ser um líder.

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Estamos no estabelecimento onde há os carros. Robert finalmente apareceu. Ben, Justin e Katherine vieram para se despedir... já se foram. Max também aparece. Ele sussurra algo no meu ouvido.

— Estranho William não ter aparecido. — Frances coloca sua mochila nas costas. Robert concorda com a cabeça.

Alguém abre a porta do recinto. É Madison.

Ela me encara. Sinto sua raiva me consumir como fogo.

O olhar dela me diz: "você o matou".

Também a encaro.

O meu olhar responde: "sim, eu o matei". Madison respira profundamente.

— Vamos. — René quem diz. Yan está ao lado dela.

Eu concordo com a cabeça e desvio meu olhar de Madison. Queríamos usar outra saída que não a da frente da sede para nos retirarmos do local. Mexo na minha pulseira e engulo em seco. Olho uma última vez para trás e Madison continua me encarando. Sinto uma mão no meu ombro. Viro-me para a pessoa. É Frances.

— Está tudo bem? — ela questiona. Olha diretamente nos meus olhos. Sou apenas um irmãozinho para ela.

— Sim. — minto. Ela concorda com a cabeça.

Saímos da sede, quando olho uma última vez para trás vejo Madison.

Ela tem sangue nas mãos.

Max sussurrou no meu ouvido que Robert e Madison já sabiam da morte de William.

Não é Max quem vai liderar os Rebeldes. É Madison.

E eu não posso fazer nada. Não consigo fazer nada. Cutuco minha pulseira e abaixo minha cabeça.

Meu Comentário.

Gente, me desculpem por não estar mais respondendo os comentários. Não estou conseguindo mais. Beijos e obrigada por tudo!

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