Após minha saída do refeitório fui até meu quarto e dormi o resto do dia. Justifiquei esse ato pelo meu recente cansaço em relação à invasão da mente de William. Dormi até o sol se pôr. Alguns minutos depois que eu acordara Frances surpreendeu-me batendo em minha porta e avisando-me que os treinos seriam pela manhã na sala de treinos e que, de minha parte, não poderia haver atrasos. Quando a noite chegou, entretanto, não consegui fechar meus olhos por um momento sequer. Fiquei a noite inteira: acordado e ao mesmo tempo devaneando. Ouvi inúmeros barulhos de portas sendo batidas.
Quando o sono estava mostrando-se presente o início de outro dia também o fazia. Frances não esclarecera qual seria o horário de treino, porém, quando ela disse que eles seriam pela manhã o deixou bem claro. Sem atrasos, isso ela também deixou bem claro. E ver Frances logo de manhã brava não é algo ao qual almejo muito, não com a disposição que estou.
Resumindo: eu estou cansado e sem disposição alguma para qualquer tipo de treino.
Encontro-me neste momento saindo do banheiro, tomei um rápido banho com o objetivo falho, diga-se de passagem, de despertar-me. Visto minhas roupas e pego minha arma, dou uma última olhadela na foto de minha família. Já no corredor vejo a porta de Frances fechada, ela deve estar dormindo. Afinal, onde é a sala de treino? Ando com passos calmos pelo corredor. Vou até a escada que leva para o andar inferior, onde se localiza o refeitório, por lá há algumas salas as quais eu nunca vira. Estou prestes a abrir a porta da escada quando sou surpreendido por outra pessoa que, do outro lado, está a abrindo também. Deparo-me com uma Madison cansada e com um pequeno machucado no supercílio.
— Dimitri! — ela parece surpresa e ao mesmo tempo triste. Então me recordo: ela deve ter voltado da patrulha.
— Madison... o que aconteceu? Você está bem? — pergunto.
— Sim, estou... acabei de voltar da ala hospitalar... — Madison leva sua mão até seu machucado no supercílio, ela própria não parece notar sua atitude.
— Aconteceu alguma coisa na tal patrulha? Alguém se machucou? — pergunto preocupado. Ela me encara com seus intensos olhos escuros, suas pupilas poderiam camuflar-se perante aquela escura cor. Madison é de meu tamanho, porém, ela parece ser mais velha do que a Frances.
— Sim. Quase perdemos algumas pessoas mas tudo deu certo... acontece que temos feridos... — a voz de Madison sai entrecortada.
— Feridos? Gravemente? — pergunto.
— Sim, gravemente. São pais Dimitri... como vamos contar para os filhos? — Madison gesticula, sua voz sai exaltada. — O problema é que sou eu sempre quem conto. Estou indo agora até o dormitório onde as crianças estão... — Madison deixa explícito sua tristeza e também seu medo de dizer para uma criança que os pais da mesma podem estar perante à morte.
Madison começa a chorar. A compreendo. Aproximo-me mais dela e a abraço, ela, a princípio, para de chorar, acredito que de surpresa por causa de minha ação, então, segundos depois, a garota volta a fazê-lo, agarrando-se ao meu corpo. Sinto os fios de cabelo pretos de Madison fazerem cócegas em meu queixo.
— Queria que as coisas fossem diferentes.
— É, eu também.
Ficamos por alguns segundos abraçados, em silêncio... o único som que se faz presente é o choro baixo de Madison.
Ouço alguém pigarrear. É Frances. Madison desvencilha-se de meu aperto.
Madison e Frances encaram-se, de repente sinto como se minha presença não tivesse mais importância.
— Quantos? — Frances pergunta. Compreendo que Frances refere-se à quantidade de feridos.
— Três. — Madison responde.
Frances fecha os olhos e nega com a cabeça, como se estivesse se repreendendo por algo.
— Jake está bem? — Frances questiona abrindo seus olhos. Eles parecem mais cinzentos.
— Está... se não fosse por ele provavelmente teríamos perdido mais pessoas. — Madison responde engolindo em seco.
— Depois falo com ele... — Frances não olha para lugar nenhum em especial ao pronunciar-se. — Vamos Dimitri. — Ela apenas profere. Madison parece por alguns segundos perdida mas se recompõe.
Madison me dirige um sorriso triste, lhe retribuo com outro. A abraço mais uma vez. Ficamos assim por alguns segundos.
— Abrace as crianças e demonstre confiança. Tenho certeza que, com suas palavras e com seu abraço, elas vão se sentir seguras apesar de tudo. — digo olhando os olhos pretos de Madison. Ela me dirige um sorriso sincero.
— Obrigada. — Madison solta-se de meu aperto.
— Não tem de quê. — dirijo-lhe um sorriso triste.
Frances despede-se da amiga, ela não demonstra reação alguma perante tudo.
— Vamos. — Frances não olha para mim quando ordena. Vejo Madison virar o corredor.
Descemos as escadas com passos rápidos, sigo Frances e nos mantemos em silêncio, pergunto-me se ela já tinha passado no refeitório e se alimentado, concluo que sim. Já no andar térreo nos encontramos na sala de treinamento. A sala não possui características definíveis, uma vez que o recinto está vazio, sem nenhum apetrecho decorativo. Sinto a arma no meu bolso. Vamos usá-la? Estou ansioso para isso.
No final das contas, não utilizamos a arma. Passei o resto do dia treinando com Frances, apesar de já ter percebido antes a ideia se tornou ainda mais forte em minha mente enquanto observava Frances me ensinando como matar uma Besta rapidamente: ela era forte, não apenas na questão física como também na questão mental já que havia passado por momentos tensos em sua vida. Ela era uma ótima treinadora.
Meu Comentário.
Deem uma olhada na obra da Poxannie! Acreditem não vão se arrepender nem um pouco.
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Liberdade
Science FictionLer e manipular mentes são dons aos quais Dimitri prefere manter em segredo. Há uma grande e peculiar justificativa para isso: as repugnantes Bestas - seres alienígenas invasores da Terra - também possuem esses poderes. A vida de Dimitri nem de lon...