25 || Desconfiança

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Encontro-me já no refeitório, assim como: William, Matt, Max, René... e o cara que conheci quando vim pela segunda vez na sede, nomeado por mim como o cara da cicatriz. Ele é o Robert. Todos estão sentados em uma mesa no centro do recinto, me aproximo e também me sento. Há uma cadeira vazia ao meu lado. Falta Frances. Toda vez que lembro do acontecimento do terraço tenho vontade de virar cinzas.

— Bom dia Dimitri, até que enfim chegou. Agora só falta Frances, mas, ela já está informada sobre a maioria dos acontecimentos. — William diz encarando-me.

Rapidamente olho para todos na mesa: Matt tem um sorriso de lado que, percebo com as sobrancelhas levantadas, ele faz questão de dirigi-lo para mim... enquanto Max parece, como sempre, perdido em um mundo que envolve suas bobeiras... se eu não o tivesse visto lutando me indagaria porque o rapaz é um Rebelde com tanta consideração. Encaro René, lembro-me da mulher quando meu pai estava ferido, ela encara William sem nem sequer piscar... olho para Robert, o homem da cicatriz dirige seus olhos intensos para a minha direção... ele parece estar procurando por algo estampado no meu rosto que mostre meu significado. Sustento o olhar do homem por alguns segundos, tentando não focar em sua cicatriz.

— Certo, vamos começar. — William aproxima uma folha enrolada que, até aquele momento, estava sobre a mesa e eu não havia me preocupado em notá-la. O líder dos Rebeldes abre a tal folha, noto que é um mapa.

A distância, de acordo com o mapa, da sede até a tal Comunidade Centro parece grande.

— Uma semana. Esse é o tempo sem desvios, mas todos vocês sabem que desvios, no mundo em que vivemos, é quase algo necessário. O primeiro desvio é em relação à Comunidade Norte, vocês vão deixar Yan lá... — William não consegue terminar sua fala, pois ele é interrompido. 

— O quê? Ele vai largar os Rebeldes? — Max, parecendo pela primeira vez atento, pronuncia assustado. Todos nós o encaramos.

— Sim. Ele tem uma família Max... não é como você que tem seu pai por perto. — William indica Robert com a cabeça.

Levanto minhas sobrancelhas ao perceber: Max é filho de Robert. Max dá de ombros, parecendo querer deixar para lá o assunto por ele discutido.

— Certo... quem guirá vocês será Robert... entretanto, caso algo aconteça tenho certeza que um mapa não será problema. Os suprimentos e o armamento já foram por mim mesmo separados... Bom, continuando sobre os desvios: temos como grande problema... — William para no meio de sua fala, mais uma vez sendo interrompido.

Ouço o barulho de passos atrás de mim, viro-me e vejo uma Frances com os olhos inchados, seus roxos no rosto estão mais acentuados de forma que sua feição jovial parece doente. Concluo: ela estava chorando. Encaro-a preocupado, ela desvia seu olhar do meu e, ao sentar-se ao meu lado, afasta sua cadeira. Todos a encaram meio assustados.

— Você está bem Frances? — William questiona encarando Frances.

— Estou. — Ela solta um suspiro e encara suas unhas. William pisca algumas vezes e então desvia o olhar. Até parece, bem é o que menos a define. Será que está assim por causa dos acontecimentos de ontem?

— Certo... voltando para a missão: temos como grande problema os refugiados... — William passa a me encarar.— Dimitri, você provavelmente não deve saber sobre a existência deles... bom, os refugiados não são como vocês das Comunidades... eles são mais... selvagens. Vivem, assim como nós Rebeldes, fora das regras da Comunidade Centro, entretanto, eles não matam Bestas e nem dão a mínima para a segurança de outras Comunidades... — levanto as sobrancelhas com a mais nova revelação, não fico chocado. — Caso encontrem os refugiados... já sabem o que fazer, não hesitem... matem. Também temos às Bestas, mas sei que quanto isso não temos problema, ainda mais com Dimitri por perto. Vocês precisam ser discretos. Ninguém pode saber ou descobrir para onde vamos, para entrar na Comunidade vocês usarão uma passagem... a mesma lavará até a mansão de Matt... — William faz uma pausa para respirar. Ele parece cansado, lembro de sua asma.

— Por que não usamos a nave de Matt para ir até a Comunidade? — é René quem pergunta, pela primeira vez se pronunciando.

Frances se mexe em sua cadeira, mostrando que está viva e fazendo com que eu a encare.

— Que parte de: precisamos ser completamente discretos, você não entendeu? E também isso nunca daria certo, a nave de Matt só compartilha oxigênio para uma pessoa... A Comunidade Centro tem uma espécie de radar que identifica a proximidade de qualquer nave, seria a maior idiotice do mundo fazer isso. — Frances, cada vez que fala uma nova palavra, aumenta seu tom de voz. René a olha sem reação. A encaro com o cenho franzido. Todos na mesa encaram Frances meio assustados, porém Matt dirige um sorrisinho de lado para a Rebelde.

— É... Frances tem razão... naves estão sem dúvida alguma fora de cogitação... o único jeito de entrar na Comunidade é pelas passagens. — William faz círculos imaginários sobre a Comunidade Centro no mapa. — É isso. Apenas, sigam o mapa e enfrentem os desvios... na Comunidade tanto Matt quanto Frances os guiarão.

Encaro todos na mesa, demoro meu olhar em Robert. A reunião terminou, sei disso no momento em que Frances se levanta e Matt cutuca o braço de Max falando algo em seu ouvido. Levanto-me também seguindo Frances, alguma coisa aconteceu com ela e tenho medo do que possa ter sido.

Vou até meu quarto onde passo o resto de minha manhã.

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Estou indo até o refeitório sem um objetivo exato, o almoço já acontecera há uma hora, me deparo com duas figuras conversando no corredor: Max e Matt. Os dois me veem e param de conversar. Tem algo aí. Aproximo-me deles e os rapazes me lançam sorrisos.

— Dimitri, gostaria muito de ficar na sua presença mas preciso me retirar... — Matt me lança um sorrisinho que eu não correspondo. Ele se despede de Max com um aceno.

Quando o rapaz já está longe passo a olhar para Max.

— Não vou mais na missão... nem eu e nem Matt. — demoro alguns segundos para processar a fala de Max. Quando o faço cruzo meus braços e franzo o cenho.

— Como assim? Por quê? — Questiono. Aparentemente só seremos então eu, Frances, Robert e René.

— Porque minha namorada está grávida... quanto a Matt, não sei o motivo dele — Max dá de ombros. Mudo minha postura quando o rapaz pronuncia "grávida". Encaro o filho de Robert por mais tempo, ele parece... sereno. Ele está feliz. — Você devia estar feliz por mim.

Dirijo então um sorriso para Max... Não paro de pensar nas coisas que aconteceram comigo e com a Frances no terraço.

— Estou... — digo.

Nem todos os Rebeldes são doidos. Max, por exemplo, parece normal na maior parte do tempo. Ficamos nos encarando por alguns segundos.

— Você é um cara legal Dimitri. — franzo o cenho com a fala do rapaz a minha frente, ele se aproxima mais de mim e então olha para nossos lados... como se estivesse procurando alguém, quando vê que não há ninguém bota sua mão no meu ombro. — Escute... não confie no meu pai, não confie no Robert.

Max me lança um último olhar e começa a se distanciar, se encaminhando para o refeitório.

Tem algo muito errado acontecendo aqui... o próprio filho não confia no pai. Encaminho-me até meu quarto.

Meu Comentário.

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