Liberdade

29 || Alma

Faltam apenas 24 horas para a missão de invadir à Comunidade Centro acontecer.

Já tomei minha decisão.

Analiso os meus arredores mais uma vez para ter plena certeza de que estou sozinho. Então abro as portas do celeiro. Essa chave está sendo de muita utilidade. Adentro o local e tranco as portas por garantia. Vou até o local onde há armas que são controladas pela mão.

Abro um sorriso quando vejo uma lança reluzir.

A pego e testo sua precisão. Ótimo. Vejo que no centro do objeto mortal há uma espécie de botão... franzo o cenho e o aperto, deixando-me atônito, a lança se torna um pequeno objeto... quase do tamanho de uma faca. Abro um sorriso. Prático. Não preciso de mais nada.

Saio do celeiro. Já começo a me encaminhar para o único local ao qual sei onde William pode estar: o alçapão.

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Adentro o alçapão. Desço as escadas no escuro. Quando piso no solo, acendo as luzes. O local está vazio. Vejo que a passagem na parede está aberta. Seguro com força a lança em minha mão. Vou até o local que já não me provoca mais arrepios. Adentro o mesmo e observo meus arredores: também vazio. Sinto a presença da Besta que não é uma Besta. O ser está quieto... como se soubesse de algo que ninguém mais sabe.

Onde ele está?

Ouço um barulho... de algo sendo arrastado, viro para trás e me deparo com mais uma surpresa: outra passagem. A parede do anexo começa a se abrir. Respiro fundo e sigo até o local.

William sabe que estou aqui e, de alguma forma, sabe os meus objetivos.

Adentro o local e aos poucos minha visão vai se acostumando com as coisas horrendas que sei fazerem parte da mente conturbada de William: o local, concluo, é o quarto dele já que no centro há uma grande cama. Há várias bancadas e em cima das mesmas há objetos estranhos ligados às Bestas. Vejo vários monitores afixados nas paredes... todos mostram imagens do meu quarto. É por aqui que ele controla tudo. Deixando-me mais chocado ainda vejo dois cubículos de vidro... em um deles contém o meu cabelo branco e em outro o estranho sangue azul.

Callum, preciso de você. Eu penso.

Pensei que nunca fosse chamar. Ouço a voz de Callum e abro um sorriso.

Não resisto soltar um suspiro de susto ao ouvir uma música tomar conta do arrepiante recinto... é um som que envolve piano. Estou perdido mas não estou com medo. Repito para mim mesmo. Olho ao meu redor. Foco minha visão em uma parte escura do local: há uma mesa grande e uma cadeira que gira. Sei então que William está sentado lá.

— O que achou da decoração de meu dormitório? — William levanta-se de sua cadeira.

Não o respondo.

— Vou considerar o seu silêncio como um... singelo elogio. — o homem solta uma risada que me causa arrepios.

Nem sequer pisco enquanto olho para o líder dos Rebeldes. Ele também o faz em relação a mim. Quando o vejo movimentando as mãos, a dirigindo para o bolso de sua calça, já sei suas intenções. Pego minha arma também e a aponto para ele. William, ao ver minha ação, levanta suas mãos, indicando que está rendido.

— Meus parabéns... raciocínio rápido. — William umedece seus lábios. Não considero como se tivesse ganhado algo. — Mas antes de me matar, não acha que seria interessante saber o por que te vigio e também as minhas intenções? — William abaixa suas mãos e as cruza em frente sua barriga.

Novamente, não o respondo. A música envolvendo piano permanece tocando. Empunho a arma com segurança.

— Seu silêncio é apavorante... mas reconfortante. Bom Dimitri... sou obcecado por você. — William faz uma pausa dramática. Permaneço com as mesmas feições. — Eu já sabia sobre você muito antes de Frances surgir em minha vida e me contar sobre os relatos de sua mãe. Correu boatos sobre o nascimento de uma criança meio humana e meio Besta. A história de Frances fora apenas um complemento... eu sempre fui fascinado pelas Bestas... e aí minha mais nova fascinação surgiu. Passei a procurar loucamente por você. Quando o achei, foi uma conquista que me gerou noites sem sono... quer dizer, quando Frances o achou... Eu já soube que você era um Evoluído. Comecei rapidamente a estudar você... suas ações e reações. Fiz as pesquisas com seu cabelo e com a estranha textura azul... Tanto eu, como Madison e Robert fizemos inúmeras pesquisas. E então as pesquisas revelaram o que eu mais sonhava. O seu DNA humano de nada se assemelha ao seu DNA Evoluído... quando você se transforma suas mudanças genéticas são complexas demais para nós humanos entendermos. Você é uma criatura incrível. Duas espécies e ao mesmo tempo uma. Descobri, que sua parte Evoluída é... Imortal. Isso só me fascinou mais. Você é perfeito Dimitri. O meu plano, desde que conheci você era: possuir o seu corpo. Isso mesmo que você ouviu. Estou criando uma tecnologia capaz de transferir a alma de um corpo para outro... é isso que eu tanto conserto. Você pode estar me julgando um louco... mas eu estou conseguindo. Sugar a essência de uma pessoa para outro corpo... Você me julga louco e eu me julgo um gênio. Eu quero seu corpo, vou tirar sua alma dele e colocarei a minha no lugar. Eu serei você, serei um Evoluído poderoso e imortal. Cansei dessa casca humana imprestável. Será a maior descoberta já feita... eu serei vangloriado. — William, conforme vai falando, vai aumentando seu tom de voz. Estou mais do que pasmo e assustado, porém seguro a arma em minha mão.