"Os bons vencem, mas penam para fazê-lo"
O despertar nunca poderia ter sido tão bom. Presos no jardim das Expectativas Amadeus e Pérgamo experimentaram toda a sorte de pesadelos possíveis. Verana os enfeitiçara para que toda a falsa alegria que a névoa causava nos perdidos do cânion se transformasse em terrível dor.
Pérgamo pôde ver seu pai estirado morto aos seus pés enquanto Verana asfixiava Amadeus com suas mãos. Ele não conseguia se mover, a sua magia era tão forte que seus olhos não conseguiam se fechar diante da cena hostil que se desenrolava diante dele.
Mas um sopro estranho e quente foi tomando conta de sua face e de repente sentia-se desperto numa estranha sala. Havia espessas cortinas cor de vinho e uma lareira que fumegava a espera de algum propósito que não saberia explicar.
Amadeus estava ali do seu lado parecia também ter acordado de seus pesadelos. Abraçava os joelhos e se balançava copiosamente para os lados. Pérgamo estendeu sua mão para tocar o ombro do amigo ele se assustou e olhou com os olhos marejados.
─ O que houve conosco, meu bom amigo? – Perguntou Amadeus. Sua voz estava embargada e seu semblante estava muito abatido.
─ Eu realmente não sei Amadeus... Deveríamos ter passado por aqui sem ser vistos, mas ao que tudo indica fomos enganados por alguém.
A porta atrás deles rangeu e uma fresta de claridade branca como a luz do sol iluminou em contraste ao fogo da lareira. A feiticeira Belinda adentrava com uma expressão muito gélida e compadecida. Algo em seu olhar escondia alguma bondade.
─ Suponho que seja a tal feiticeira da neve... – Hesitou Amadeus ─ Claramente foi você ou sabe-se lá quem que nos trouxe para essa toca selvagem. Por acaso pretende nos matar em algum ritual primitivo? – Reclamou descontente.
─ Bom... Não somos feiticeiras tribais, forasteiro. Mas, entenda que não poderíamos deixá-los no frio daquela névoa a espera da morte... Então... queiram me acompanhar para que possam seguir o seu caminho.
Pérgamo não parecia nem um pouco temeroso com o que poderiam encontrar. Já estava se acostumando ao jeito exótico da vida fora dos domínios do Vale Almíscar. Amadeus por sua vez estava sempre a ponto de deixar a raiva escapar e fazer um incidente amigável se transformar numa guerra desnecessária.
Os corredores da caverna onde as jovens irmãs moravam eram sem dúvida muito rústicos, pareciam ter sido construídos há muitos séculos. Às vezes as luzes das tochas bruxuleavam com alguma corrente de ar gelado que passava por ali. Os passos ecoavam por um silencioso caminho que os conduzia a galerias muito profundas. Algo muito tenebroso se escondia ali.
─ Escutem com atenção... – disse Belinda ─ Minha irmã Malina é a guardiã da sala do oráculo do abismo. Ao contrário dela ele não tem coração e por isso se alimenta de corações mentirosos. Não ousem mentir para ele. Desejo-lhes sorte. Que a verdade os acompanhe. – Os jovens a olharam silenciosos, mas de certo o medo ia crescendo por dentro.
Ela abriu a porta e antes que pudessem entrar estendeu a bolsa para Pérgamo com um breve sorriso.
─ Nunca se esqueçam do que os trouxe aqui. – disse como última recomendação.
Uma gruta úmida e muito fria era o lugar onde estavam agora.
─ Sinto-me tão triste por não termos uma espada que mate dragões. – sorriu Amadeus.
─ Só você para pensar em brincadeiras numa hora dessas.
─ Não riam tanto – disse uma voz distante ao fim da escada. ─ Apressem o passo e terão sua liberdade outra vez.
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O sonhador, a velha árvore e o rei
FantasiaVentura é uma pequena cidade no Vale Almíscar, um lugar onde muitas coisas podem acontecer dependendo de sua crença. Esseno era um jovem rei e isso era um peso demasiado para sua consciência. Nesse reino não tão distante assim, uma velha árvore míst...