Um encontro inesperado

36 1 2
                                    

O dia já raiara e como havia dito Pequenino, o mago da montanha, era a hora para que Esseno partisse dali o mais rápido possível e fosse se encontrar com os jovens mestres em Vanilla. Esta não seria uma tarefa nada fácil já que ele estava no extremo norte do mundo conhecido e não existia nada tão veloz o suficiente que o fizesse alcançá-los em tempo de ainda estarem na cidade. Mas não era qualquer lugar que estava Esseno, ali era a casa de um velho mago, e pensou consigo "Deveras poderá me dar algum apetrecho para que eu chegue até lá", ledo engano, ao ser questionado pelo rei, o velho lhe mostrou um burro cansado de aparência tristonha que estava preso na entrada da caverna. Ele realmente não entendia a falta de vontade do velho em lhe oferecer uma montaria mais digna e veloz.

A mensagem era muito clara: se na falta de certeza sobre o seu papel nesta jornada, Esseno deveria ajudar como pudesse aos que estavam em Vanilla. Antes de sair da caverna do mago recebeu do homenzinho uma garrafa vazia, mas tampada com uma rolha, no rótulo se lia "Emergências estupendas ou ataques repentinos". Meio sem entender o que realmente aquela garrafa velha fosse lhe fazer de bem, colocou-a na sua bolsa e despediu-se do seu anfitrião.

─ Acho que isso é um adeus, caro rei. - sorriu Pequenino displicentemente.

─ Talvez seja... Mago! - a aspereza na sua voz denotava certo abatimento. ─ Espero conseguir encontrar os meus jovens mestres, os últimos servos que ainda tenho. Devo cumprir minha missão para que Palma se alegre de mim caso nos encontremos brevemente. - O seu rosto pálido e assado pelo frio estava carregado de muitos ressentimentos.

O vento continuava temeroso e o desgosto do rei só não era maior do que o do burro. Ele ia dando pisadas lentas e zurrava enquanto Esseno tentava se ajeitar no lombo do animal. A encosta era extremamente alta e qualquer deslize poderia significar morte certa. Naquelas montanhas o silêncio era absoluto e o vento era a única coisa que poderia fazer os viajantes não se sentirem a beira da loucura. A misteriosa garrafa ainda inquietava os pensamentos dele, insatisfeito por deixá-la quieta, resolveu testar sua serventia, mas na mesma hora que fez menção de tirá-la de sua bolsa um barulho estranho ecoou ao longe. Tudo indicava um desmoronamento de terra, isso era perfeitamente corriqueiro. Ainda tentado pela curiosidade segurou a garrafa em sua mão e ficou absorto olhando aqueles dizeres que não faziam o menor sentido de ser.

Passos apressados foram ouvidos e um murmúrio de vozes zangadas: "Movam essa pedra do caminho" dizia uma voz masculina e rouca. Mais vozes faziam coro para que a ação fosse executada. Esseno colocou o capuz sobre a cabeça e tocou o burro para que continuasse o seu caminho. A sua frente ele pôde observar vários homens tentando remover uma maciça pedra que aparentava ter muitas toneladas. Ela não bloqueava a estrada, mas sim o que parecia ser a entrada de uma caverna. Um homem muito forte com um chicote na mão assenhoreava uma quantidade assustadora de homens que puxavam com todas suas forças, mas não produziam efeito algum na tentativa de tirá-la de lá. O melhor que Esseno poderia fazer era passar por ali sem que ninguém o notasse. Já estava quase se desvencilhando da confusão quando um dos homens o avistou muito animado.

─ Olha, Astolfo! - apontou um homem raquítico e com nariz adunco para Esseno ─ Um mendigo. - Seus olhos brilharam como se tivesse encontrado um tesouro ─ Qual seria o problema em forçá-lo a trabalhar para nós? - gargalhou.

─ Nenhum! - respondeu sorrindo o homenzarrão que estalava o chicote.

Os homens ainda puxavam bravamente a corda sem dar a menor importância para Esseno ou a conversa que o seu capataz mantinha. Esseno sentiu o seu coração gelar, não tinha ao menos uma espada para defender-se daquela gente toda que agora o via como um mero possível escravo. No íntimo do seu ser, fez algo inesperadamente patético:

─ Saiam do meu redor! - esbravejou com o dedo em riste e, na outra mão segurava a garrafa vazia.

─ Um bêbado?! ... Francamente. Ele só nos atrapalhará - ponderou astutamente o magricela que outrora o chamara de mendigo. Mal sabia ele que Esseno fora o rei que mais defendera os moradores daquelas bandas e em inúmeras batalhas passara acampado no sopé das Montanhas das Feiticeiras Negras. Mas seu rosto estava longe de lembrar os dias de glória, então reconhecê-lo seria muito difícil.

O sonhador, a velha árvore e o reiOnde histórias criam vida. Descubra agora