A maga foi descendo os lances da escada em sua frente. Ela era estreita e circundava como um caracol, mas seus degraus eram de madeira que rangiam como se fossem maltratadas por fazer mal a alguém; onde iria dar ninguém sabia, eram novos mistérios que se revelavam a cada passo. Eles a acompanharam tateando o corrimão de madeira. Estava tudo tão enegrecido que apenas se guiavam por ele. Amadeus se assustava com os eventuais nós do rústico corrimão. O silêncio era tão grande que só se ouvia o ranger dos pés ao descerem a escada. De repente pararam de escutar a maga e numa pausa não anunciada, Pérgamo fez que Amadeus lhe desse um encontrão, forçando sua queda sobre o chão frio.
Um fulgor como de uma estrela revelou uma ampla e vazia sala de cor branca. Perto dali em uma cadeira com entalhes primorosos e um amarelo que lembrava ouro sentava-se uma velha senhora, os jovens não entenderam sua presença; de sorte imaginaram ser Macadâmia.
Aproximaram-se desajeitados e observaram que a sala não parecia ter um fim conhecido, livros e mais livros flutuavam como se estivessem em estantes invisíveis. A velha senhora agora estava de pé e esboçava um breve sorriso, usava uma bengala nodosa para se apoiar.
─ Pelos Mestres! - gritou Amadeus; inclinando-se para o amigo perguntou ─ Quem é esta velha? - agora sussurrava ao ouvido dele, que também parecia muito surpreso.
─ É melhor ficar quieto, meu amigo. Não podemos irritar essa senhora, mestre Palma nos mandou aqui para buscar ajuda.
A senhora foi até os jovens, se aproximou tanto que puderam ter certeza que ela não era a mesma maga que os tivera levado até ali. Seu olhar cândido e complacente por sinal os acalmou. Estendeu uma das mãos e segurando o rosto de Pérgamo, fitou bem no fundo dos olhos.
─ Não se preocupe jovem Pérgamo, Macadâmia já não está mais aqui, mas isso não é sinal de que eu seja má ou que vá infringir-lhes alguma pena por entrarem a minha casa. - Sorriu a senhora.
─ Isso para mim é muito suspeito! - desabafou Amadeus - Daqui a pouco ela nos lança um encanto e nos joga para algum dragão que ela tenha escondido neste buraco.
─ Não seja tolo, não existem dragões no Vale Almíscar. - corrigiu Pérgamo.
A senhora se afastava indo em direção aos livros e não parecia sentir nenhuma ofensa nas bobagens que Amadeus proferira. Pérgamo também tinha dúvidas quanto a ajuda que a mulher poderia lhes oferecer.
─ Senhora! - Disse Pérgamo ─ Quem é você e o que tens a ver com Macadâmia? Precisamos que nos diga, é realmente importante. - denotou seriedade em sua voz.
Ela parecia não lhe dar ouvidos, antes olhava cautelosamente sobre os livros que flutuavam como se procurasse algo deveras importante. Estendendo o braço para um velho livro azul fez um sinal como se o chamasse a descer para suas mãos. O analisava com muita atenção e cuidado, mas de súbito virou-se para Pérgamo que estava em seu encalço.
─ Por que o nome de uma velha senhora te interessa Pérgamo? Eu já sei o seu nome, mesmo sem tê-lo dito. E acredite isso não faz diferença, mas lhe direi, pois vejo nos seus olhos uma bondade que há muito não via.
Ela continuou caminhando e Pérgamo não sabia o porquê da senhora saber seu nome, talvez soubesse até mesmo o de Amadeus. Voltando para a cadeira a senhora pediu para que se sentassem num velho banco de madeira que aparece misteriosamente ali. Os jovens se entreolharam confusos, mas não pareciam temer um ataque inesperado.
─ Sei que vocês não têm tempo para histórias tristes e coisas folclóricas. - pareceu pesarosa por não poder contar mais ─ Mas Macadâmia é a personificação do Guardião do Sul, a velha nogueira sempre usa sua forma humana de tempos em tempos; não tem tanto poder como antes, entretanto conseguiu salvá-los de um perigo maior. - seus dedos tamborilavam sobre o livro como se ela escolhesse as palavras ─ Eu sou apenas uma maga velha, me chamo Margarida Presto e sou da ordem do Vale... Vocês descobrirão outras ordens e se surpreenderão com o que podem fazer. - concluiu repentinamente.
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O sonhador, a velha árvore e o rei
FantasyVentura é uma pequena cidade no Vale Almíscar, um lugar onde muitas coisas podem acontecer dependendo de sua crença. Esseno era um jovem rei e isso era um peso demasiado para sua consciência. Nesse reino não tão distante assim, uma velha árvore míst...