Eu insisti para ficar com Dimitria, mas ela não quis, até que acabou aceitando. Não contei a ela sobre o bilhete e nem pretendo. Pensamos em comunicar a polícia, mas tínhamos que esperar 48 horas pra isso. Nós já tínhamos andado pelo quarteirão e informado aos vizinhos que a senhora Deméter tinha desaparecido.
Eu estou na sala, sentado no sofá maior e ela no menor, abraçada aos joelhos e chorando baixinho, já é noite. Depois de muito silêncio, falo:
- Então, eu sei que é ruim, mas com certeza ela está bem... Pense positivo...
Ela levanta a cabeça e me olha, com olhos vermelhos e inchados:
- Ela gritou... - Soluço - Pedindo ajuda... Eu... Não deveria ter... Deixado ela sozinha... - Dimitria não aguenta e começa a chorar novamente.
Todas as minhas experiências com choro alheio eram desastrosas, nunca sei o que falar ou fazer. Nunca. O relógio em forma de folhas na parede marca 20h50min... Eu estou com fome, mas não me atrevo a falar nada. Ouvimos alguém gritando:
- Dimitria! Dimitria! Tá em casa? - Era a voz de um garoto.
Ela levanta rapidamente, limpa os olhos na manga da camiseta e corre para a porta. Abre e vai até o portão. Eu a ouço falando:
- Oi Eron... Entre. - O portão foi aberto e em seguida fechado.
Olho para a porta quando ela entra puxando o tal Eron pela mão. Um garoto de no máximo dezoito anos, com olhos meio violeta, deve ser lentes, altura igual a minha, pele muito branca e cabelos loiros bagunçados. Suas roupas são normais, blusa azul e calça jeans azulada, usava tênis all star azul. Quanto azul.
- Esse é o Héditer, Héditer esse é o Eron.
Cumprimentamo-nos com um aperto de mão. Eron usa um perfume meio doce.
- Prazer Héditer! Seja bem vindo à cidade. - Sua voz é suave.
- Obrigado, eu estou gostando daqui. - Respondo.
Dimitria o abraça e começa a falar:
- Minha mãe desapareceu. - Ela explica, quase chorando. - Eu estava no quarto quando ela gritou e depois desapareceu.
Eron acaricia suas costas enquanto fala:
- Eu entendo Dimi, ela vai aparecer, não chore, uma menina linda como você não merece chorar...
A situação está meio desconfortável. Eu não deveria estar ali. Eles ainda estão se abraçando. De repente Eron se vira pra mim e fala:
- Obrigado por ficar com a Dimitria, mas agora deixa que eu cuido dela, pode ir agora Héditer.
Ainda não sei o porquê, mas espero Dimitria falar alguma coisa, só que ela fica em silêncio, com o rosto escondido no peito de Eron. Levanto.
- Tudo bem, eu vou indo. Qualquer coisa, Dimitria, você sabe onde me procurar. Tchau.
Ela não me responde. Bem que dizem que as pessoas mudam na companhia de outras. Apenas me viro e saio.
A rua está deserta. A noite muito escura, mesmo assim eu enxergo bem. Enquanto ando pela calçada reparo que eu estou sendo seguido pela pantera, a mesma de mais cedo. Estranho, mas não tenho medo. Ela passa correndo na minha frente e dobra a esquina, o mesmo caminho em que eu moro. Começo a correr, e logo estou em casa. A pantera negra está parada em frente a porta de entrada.
Passo por cima da cerca caída, eu tenho que consertar isso, e ando alguns passos até chegar em frente à porta, a poucos centímetros da felina, que se afasta da porta liberando passagem. Eu a encaro, seu olhos são brilhantes e sombrios, meu pensamentos formam uma frase novamente: O livro... Pegue-o. E a felina desaparece atrás da casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O filho de Hécate
ФэнтезиHéditer não é um garoto comum. Quando finalmente sai do orfanato, ele volta para sua antiga casa em outra cidade e logo percebe que os moradores de lá são estranhos. De outras dimensões e novas habilidades até pessoas que o perseguem, Héditer descob...