Dimitria está segurando o bilhete e me encarando, assustada.
Encaramos-nos por alguns segundos. Ela quebra o silêncio:
- Viu? Não é culpa sua. É um simples bilhetinho. Eu ainda estou aqui.
Sinto-me envergonhado. Eu tinha certeza que esse tal bilhete fazia as pessoas desaparecerem. Desço as escadas e pego o livro. Não sei o que falar agora. Dimitria ainda está me encarando.
- Eu não estou imaginando coisas. - Falo, chateado - Aliás, você fez uma árvore crescer do nada, deveria ser menos cética.
Ela suspira:
- Eu não sou cética. E estou demorando pra engolir essas... Novidades.
- Dimitria - Digo - Você está mais reservada, menos escandalosa, está quase... Tímida!!
Ela abre a boca, mas a fecha novamente. Sabe que tenho razão.
Sento no sofá ao lado dela, e reparo que ela exala um aroma de... Flores. Não falo nada. Abro o livro na segunda página. Ela lê. E quando vai dizer alguma coisa, o vento faz o livro ir para a página três. E me assusto quando percebo que tem algo escrito: Mas ontem não tinha nada nessa página!!
Leio:
"Lição 2: Convocação do Submundo.
Feche os olhos e concentre-se. Imagine uma luz em forma humana, guie-a até você e a receba."
- Que tipo de livro é esse, Héditer? - Dimitria pergunta olhando para mim. Desconfiada.
- Outra lição! Apareceu outra lição!! - Falo animado. - Tenho que fazer isso agora!!
Dimitria me olha com a testa franzida, sem entender. Pego-a pela mão e conduzo-a até lá fora. Está escuro, e eu gosto disso.
- Héditer! Está frio, vamos entrar.
- Confie em mim, Dimitria. Fique aqui.
Vou até o mesmo lugar em que realizei a lição 1. Coloco o livro aberto aos meus pés. Ergo as mãos para a lua e fecho os olhos.
- Héditer, você está fazendo macumba? - Dimitria pergunta, séria.
- O que? Não! Apenas... Espere.
Com os olhos fechados, tento imaginar uma luz em forma humana. E de repente vejo uma pequena luz, ou imagino, não sei, então a chamo mentalmente, ela se aproxima de mim e começa a parecer uma silhueta, fica cara a cara comigo.
Dimitria grita. Quando abro os olhos percebo que tem uma pessoa na minha frente! Um homem. Ele é meio transparente e brilhoso, totalmente esbranquiçado. Usa uma roupa diferente, de outra época. Parece ter uns 25 anos, ou menos. Os cabelos parecem loiros.
Encaramos-nos. O homem parece assustado. Sinto Dimitria me puxando pra trás.
- O que você fez? - Ela está desesperada.
- Olá. - O homem/espírito fala com uma voz meio rouca.
- Olá, como vai? - Respondo, sorrindo.
- O QUE? Você vai mesmo conversar com um morto? - Dimitria grita.
- Olha, eu sei que é estranho, mas esse livro - Pego o livro do chão - me ensina a fazer coisas. É incrível, Dimitria, ontem eu...
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O filho de Hécate
FantasyHéditer não é um garoto comum. Quando finalmente sai do orfanato, ele volta para sua antiga casa em outra cidade e logo percebe que os moradores de lá são estranhos. De outras dimensões e novas habilidades até pessoas que o perseguem, Héditer descob...