Oito

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                   Mais um dia de aulas acabado para a minha felicidade como também para todos os alunos. Hoje está um belo dia, algo  que parecia improvável de acontecer, e seria um desperdício não aproveitar este dia. Supostamente hoje iria ficar em casa fechada a estudar, mas a beleza deste dia fez com que eu mude os meus planos para algo melhor.

                   Um pacote de bolachas irá ser o meu almoço.  Não tenho dinheiro suficiente para comprar algo melhor, e como não tenho muita fome, não irei a casa comer. Poderei comer este pacote de bolachas enquanto caminho em direção à floresta. Espero que Harry esteja lá. Não sei porquê, mas as minhas tardes tornaram-se mais interessantes e diferentes a partir do momento que o conheci. Ainda não o considero um amigo, apenas um mero conhecido, mas tenho que admitir que a partir do dia em que o vi ao pé da cascata, a minha monótona rotina mudou um pouco.

                      As árvores altas que dão origem à floresta entram no meu campo de visão e apercebo-me o quanto eu me afastei da pequena cidade num tão curto espaço de tempo.  Guardo o meu pacote de bolachas, já vazio, dentro da mochila, pois não existe nenhum caixote do lixo aqui perto. Olho para a minha esquerda e de seguida para a minha direita, certificando-em que ninguém se encontra ali perto, e entro por entre as árvores. Procuro pelas minhas marcas feitas nos troncos de algumas árvores e, quando as encontro, sigo-as. Tento ter cuidado para não escorregar na lama ainda presente na terra devido à chuva que ontem caiu. Irei ficar com os meus ténis castanhos, mas nada que não se resolva com a máquina da lavar, assim espero. 

                      Consigo ver a clareira ao longe e um sorriso forma-se na minha cara. O som da água a cair da cascata finalmente junta-se à maravilhosa melodia criada pelos pássaros e a minha música favorita é criada. Desvio-me das árvores que ainda se encontram no meu caminho e assim que entro naquela área aberta da floresta os meus olhos tentam encontrar Harry, Consigo ver uma manta estendida pela relva e em cima desta está uma mochila preta, mas nenhum sinal de Harry. 

                          Aproximo-me do lago que recebe a água da cascata e sento-me no limite deste. Coloco levemente a minha mão dentro de água e movimento-a, formando pequenos círculos. Observo um peixe ou dois a nadarem à volta da minha mão e rio-me quando um destes tenta morder-me, provocando-me cócegas em vez de dor.  

                           Desvio o meu olhar dos peixes quando oiço um barulho e sinto algumas gotas de água a embaterem no meu corpo. Retiro a minha mão de dentro de água e procuro o que causou tal impacto. Uma silhueta começa a sair de dentro de água e rapidamente me apercebo que fora Harry, levando-me a desviar os olhos da sua figura a dar mais um mergulho. Os peixes já não estão à volta da minha mão, talvez tenham percebido que esta não era comida e foram embora. Retiro a minha mão de dentro de água quando me apercebo o quão fria ela se encontra. Coloco-a dentro do bolso do meu casaco, apenas para a aquecer um pouco mais. A outra mão encontra-se a mexer na relva onde me sento enquanto eu agora observo a água a cair da cascata. 

                            Esta é a vantagem de não ter aulas à tarde, poder desfrutar este lugar em vez de estar a ouvir um professor a explicar alguma matéria é sem dúvida um dos meus muitos sonhos e posso dizer que ele está concretizado. Poderei não ter uma lista longa de sonhos, como a maioria das pessoas tem, mas pelo menos tenho uma lista com sonhos concretizados, algo que muitas poucas pessoas têm devido aos seus sonhos tão complicados de realizar. Quando era pequena tinha muitos sonhos impossíveis de realizar, mas com o passar do tempo esses sonhos foram-se desmoronando. Talvez devido a  estar a crescer e à medida que o faço o meu cérebro vai tendo outra prespetiva do mundo, ou talvez devido a ser tão indecisa com as coisas. A primeira opção é a mais credível, embora a outra possa ser a razão de algumas das minhas decisões por vezes não ser o meu para mim. 

-Hey.- oiço uma voz vinda do meu lado direito e quando olho para este consigo ver Harry a secar o seu cabelo com uma pequena toalha. 

-Hey.- digo com um pequeno sorriso na cara e volto a encarar a cascata à minha frente.

                 Permanecemos em  silêncio, tal como em todas as outras vezes que nos encontramos. Mas este silêncio não é constrangedor, pelo menos para mim. Talvez este silêncio é o resultado na nossa atenção na visão paisagística que  temos deste lugar, algo tão magnifico que deve ser observado com atenção. Já observei cada pormenor desta paisagem, mas nunca me farto da beleza que esta nos oferece. É algo que considero fora deste mundo, algo irreal. Poderia dizer que estou a sonhar com toda esta vida, se não fosse a dor que aquelas raparigas me provocam que me fazem acreditar que nada disto é um sonho, apenas a bela e cruel realidade. 

                Horas foram-se passando. As nuvens cinzentas foram-se acrescentando ao belo céu azul e quando estas o preencheram por completo o frio começou a instalar-se na clareira. Durante estas horas o silêncio continuou. Harry acabou por se aproximar mais de mim e eu deixei de olhar para a paisagem e olhei para ele, vendo um sorriso na sua cara enquanto os seus olhos se encontravam fixos no horizonte, algo que me fez sorrir também. 

                 O vento frio chegou numa questão de segundos e de seguida as gotas de chuva começaram a cair das nuvens que apareceram. Ambos fomos em direção às nossas mochilas e  começámos a ir embora daquela magnifico lugar. 

                   A chuva foi aumentando a sua intensidade à medida que nos íamos afastando da clareira. As árvores protegem os nossos corpos de alguma da chuva e não de toda como eu esperava que acontecesse. Consigo sentir as gotas a embaterem contra o meu corpo e algo me diz que quando chegar a casa irei levar um sermão da minha mãe onde andar à chuva e constipar irão ser as palavras mais usadas. 

                      Quando chegámos ao fim da floresta viro-me para Harry para me despedir de si. Este encontra-se a desviar um pouco do seu cabelo molhado da cara e quando este repara que estou a olhar para ele sorri. 

-Queres que te dê boleia? O meu carro não está muito longe daqui e não me parece que esta chuva irá abrandar.- diz e eu sorrio com a sua proposta. 

-Iria adorar.- digo e ele dá-me a indicação de o seguir.

                      Penso que o sermão da minha mãe irá ficar para outro dia. 











Waterfall |h.s|Onde histórias criam vida. Descubra agora