Catorze

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            Elisabeth já se fora embora quando Harry acordou debaixo das mantas que o aqueciam. No seu lugar estava um bilhete, escrito com uma letra descuidada, onde informava que se foi embora depois das várias chamadas da sua mãe para ir imediatamente para a escola.

             Harry não deixou a clareira, nem o frio que está o impediu de relaxar um pouco. Desde o dia que saiu da sua casa de família em Londres sem qualquer aviso que o seu telemóvel não deixa de receber mensagens e chamadas que nunca atende. Ele quer voltar, afinal ele já está feliz, já não se sente aquele rapaz solitário que era. Mas ele não consegue deixar aquela rapariga de cabelos castanhos que é a razão da sua felicidade. Desde o dia que a vira naquela floresta que a sua imagem nunca saíra da sua cabeça. Ele não sabe explicar o porquê, afinal eles nem falam muito, mas todos os momentos que passaram juntos naquela clareira são únicos e formam memórias inesquecíveis que Harry recorda todos os dias.

           Elisabeth também o faz, embora não tanto quanto Harry. Durante as aulas mais aborrecidas, ela recorda os momentos mais preciosos naquela clareira, ao lado daquele rapaz de olhos claros. Em todos os intervalos, quando está na biblioteca a fingir ler algum livro, Elisabeth apenas consegue pensar nele, ficando minutos sem reagir ao que se passa à sua volta. Quando passa por aquelas raparigas que tanto mal lhe desejam, ela nem dá pelos seus olhares por estar tão focada em Harry. E o melhor de tudo é que está feliz assim.

          Harry abandonou a clareira quando começou a chover. Trouxe as mantas consigo, arrumando-as no porta-bagagens do seu carro. Quando entrou neste ligou de imediato o ar condicionado, numa tentativa de aquecer as suas geladas mãos. Não resultando, Harry apenas começou a conduzir de novo. Não tinha caminho exato traçado na sua mente, apenas conduziu pelas ruas à procura de alguma aventura. Bem poderia ir para o seu apartamento, mas qual seria a piada disso? Ficar fechado num quarto a olhar para um computador não é agradável. Harry quer viajar, visitar cada canto do mundo e aproveitar a vida enquanto pode. Gastando tempo a olhar para um ecrã apenas irá atrasar o processo de realizar os seus sonhos.

          Elisabeth estava a saborear o seu lanche da manhã quando ouviu risos atrás de si. Poderia ter ignorado, mas isso foi impossível quando alguém pegou no seu braço e a arrastou para fora do bar, deixando para trás o seu croissant com chocolate. Elisabeth queria soltar-se daquela pessoa, mas depois de várias tentativas desistiu e deixou-se levar pelo momento, não se importando com o que iria acontecer.

             Quando o seu corpo foi empurrado contra a parede depois de uma brusca pausa, Elisabeth apenas fechou os olhos à espera que senti-se os murros contra a sua face, mas nada aconteceu.Em vez disso, ela apenas ouvia palavras e risos que a rapariga à sua frente dizia para as outras. Elisabeth abriu os olhos quando o riso delas aumentou de volume e num movimento rápido soltou-se da rapariga e saiu da escola o mais rápido que conseguiu.

             Harry estacionou o carro ao pé de um café, parando a sua pequena viagem apenas para beber um batido de morango. Um batido de morango pois o faz refrescar as ideias e pensar no que realmente quer fazer daqui a diante. O dinheiro que trouxe das suas poupanças ao longo dos anos está a acabar e sem trabalho vai ser difícil manter aquele apartamento por mais alguns meses. Com um batido de morango, Harry acredita que conseguirá pensar numa solução para este problema, apenas precisa que saborear o seu tão adorado batido.

           Saiu do café já com menos metade do seu batido na mão. Pequenas gotas de chuva caiem, mas são tão poucas que Harry ignora-as e continua o seu caminho até ao carro.

          Elisabeth não queria ir para a clareira, tinha medo que encontrar Harry e todas as lágrimas que tem armazenadas simplesmente saíssem. Ela não gosta de ser observada com pena. Ela gosta de chorar sozinha, ao pé daquela cascata, pela simples razão de não estar a ser observada. Estar sozinho para muitos é algo que não desejam, mas Elisabeth deseja mais do que tudo estar sozinha, para poder libertar toda a sua tristeza que armazena ao longo das semanas.

           Ela andava com um passo apressado pelas ruas, na direção oposta à de sua casa. Não sabia para onde ia, apenas queria afastar-se o mais que podia da escola e da clareira. Está neste momento a faltar ao seu teste de recuperação, mas não se importa, afinal ela já sabe que vai chumbar o ano, de uma maneira ou outra. Elisabeth não quer, mas as suas notas provam que ela não tem futuro para aquilo que tanto deseja.

          Avistou um parque infantil ao longe. Ninguém está por perto, então Elisabeth corre até lá, só querendo um sitio isolado para libertar as suas lágrimas que à tanto querem sair.

          Sentou-se num baloiço, não com o intuito de se divertir mas apenas sentir os seus pés a levantar voo com o vento a empurrá-la levemente, como se ela finalmente conseguisse voar e deixar os seus problemas para trás.

             Harry estava apenas a pensar, ainda com o seu batido na mão, quando a viu. Os seus cabelos castanhos poderiam ser comuns, mas ele não tinha dúvidas que aquela rapariga, ali sozinha no baloiço era Elisabeth. Então Harry foi ter com ela, esquecendo o seu batido de morango e nas tantas perguntas que tem na mente. Talvez o que ele precisava era Elisabeth e não um simples batido.

           Ele sentou-se no baloiço ao seu lado. Ela ouvi-o, e foi apenas preciso olhar para as suas botas para reconhecer a pessoa que ali está ao seu lado. Nada disseram durante segundos. Elizabeth agora continha as lágrimas, não querendo chorar à frente do rapaz dos olhos claros. Harry segurava o seu batido com uma mão enquanto olhava para a rapariga de olhos escuros. Ficaram assim, num silêncio ensurdecedor que parecia que nenhum deles queria interromper.

-A vida é como um baloiço.- Harry murmura, chamando a atenção de Elisabeth que olha para ele com curiosidade. - Lembro-me de quando me deixavam em baixo, quando tive de enfrentar desafios sozinho, sentia que a esperança não iria chegar nunca. Mas tive de baloiçar repetidamente para chegar ao topo. No topo, tudo é incrível, tudo está bem...

-Não há problemas.- ela murmura, completando a frase que Harry deixara.

-Exato.- os seus olhos estão fixos uns nos outros- Agora existe um problema, não interessa o quanto tu baloiças, tu sempre passas perto do chão. Mas se não existisse o chão, não existia um ponto de partida.

-Sem problemas para resolver, não havia necessidade para continuar. Portanto, os problemas são o propósito da nossa vida.

-Era aí mesmo que queria chegar.- Harry faz uma curta pausa, aproveitando para observar a rapariga à sua frente, não ignorando qualquer detalhe que Elisabeth tem.-Podemos estar agora tristes com a nossa vida, mas temos de continuar a tentar melhorar, até chegarmos ao topo onde somos felizes.- diz, aproximando-se de Elisabeth.

-E podemos começar agora.- ela murmura, antes de fechar o espaço que havia entre eles num beijo.

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último capítulo

obrigada  witch_kuilin e obrigada a todos que acompanharam esta fic até ao fim.

Waterfall |h.s|Onde histórias criam vida. Descubra agora