CAPITULO 11

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— Ainda não me acostumei com essa vida. — resmungou a menina, com a mochila nas costas. Marcos deu uma olhadinha para trás. Yuli mantinha o ritmo rápido, mas tinha perdido o sorriso no

rosto.

— Qual parte te incomoda tanto, guria?

— Agora nem é em incômodo que estou pensando. Tou pensando é nessa coisa estranha de ser vampira e loba ao mesmo tempo. — a garota suspirou. — A gente está andando há horas e não estou me sentindo nem um pinguinho cansada. Se fosse antes, não conseguiria mover as pernas desde umas três horas.

Marcos sorriu para a namorada.

— Pode crer. Só que no lugar da dor, vai crescendo essa queimação na barriga.

— E a sede.

— É, A sede também.

— Bá, eu daria tudo para morder um pescoço agorinha mesmo. Tomara que ninguém pare no acostamento. He! He!

Marcos riu. Era isso que gostava nela. Yuli era espontânea e carismática. Era reclamona, mas sabia fazer os outros darem risada.

— Pula na frente de um carro. O cara vai parar pra te xingar e você bebe ele.

Yuli olhou por um instante para o tráfego rápido nas pistas da Castelo Branco.

— Até que sua idéia não é de todo má, meu amor. Prefiro esperar a sorte me mandar a comida. Assim não vou ficar passando mal de pensar que acabei com alguém.

— Então vamos apertar o passo. Segura os dentes até amanhã que estaremos de volta a São Paulo. Lá poderemos caçar sem sermos notados. Aqui nessa estrada, em coisa de duas horas, já teríamos um bando de policiais vindo atrás da gente.

— Ah! Ah!

— Do que tu tá rindo, guria?

— Nada.

— Fala.

— Esse seu jeito... parece até que tá imitando o jeito do Leonardo falar. Todo cheio de cisma. Marcos riu também.

— Mas que é verdade, é verdade. — continuou. — Se você pega alguém aqui, logo tão atrás da gente. — Marcos apontou para um poste. — Olha o tanto de câmeras que a Via Oeste colocou aqui. Eles estão de olho em todo mundo.

Yuli aquiesceu e ficou calada.

Marcos notou o semblante noturno da namorada, mas nada disse. Sabia por que ele estava daquele jeito. Ela, como ele, se perguntava se estavam fazendo a coisa certa. Talvez Leonardo tivesse razão em esperar mais um pouco. Mas a saudade do Rio Grande do Sul era tamanha que seus pensamentos eram embotados e tudo ficava confuso, a única trilha clara como água era aquela que estavam percorrendo. O caminho de casa.

Yuli pensava no que o namorado acabara de dizer. Que na grande cidade poderiam caçar incógnitos. Olhou para a Lua no céu, quase cheia. Tinha consultado a folhinha. Quando ela subisse ao céu na noite seguinte seria lua cheia. A primeira lua cheia do mês. Yuli, sem dizer nada, apertou o passo e deu a mão para Marcos. Entrelaçaram os dedos e continuaram a silenciosa jornada. 


Os Filhos De Sétimo (saga O Turno Da Noite Vol.1) André ViancoOnde histórias criam vida. Descubra agora