Raul rastejou para fora do esconderijo. Tinha adormecido debaixo da cama de Patrícia. Tinha conversado bastante com a amiga antes de cair no transe das horas de sol. Olhou sobre a cama. A vampira já tinha levantado.
Tinham conversado sobre o estranho tutor. Patrícia alertara para o curioso fato de terem sempre um monte de perguntas sem respostas que sempre eram discutidas entre o quarteto a respeito das intenções e métodos de Ignácio. Haviam, sem sombras de dúvida, se rendido à presença carismática do veterano. Ignácio era envolvente. Bastava o vampiro aparecer que a discórdia e as perguntas desvaneciam. Ele sabia lidar com a cabeça dos novatos. No entanto, apesar de se verem já tão rodeados pela teia sedutora do vampiro, tinham muitos questionamentos que martelavam a mente. Se Ignácio era tão poderoso, por que não cuidava ele próprio daqueles malditos malfeitores? Aos olhos dos novatos, Ignácio parecia tão poderoso a ponto de estalar um dedo e fazer com que os alvos pretendidos simplesmente caíssem mortos, evaporassem, qualquer coisa desse naipe. Por que então precisa de quatro vampiros calouros, desajeitados e vulneráveis para fazer o serviço sujo? Novatos podiam fazer a coisa errada. Por que se dar ao luxo? Outro ponto: se era tão antigo e poderoso, certamente conheceria outros vampiros antigos, muito mais preparados do que o quarteto. Por que não os usava? As perguntas não paravam por aí. Se juntassem todas as dúvidas e estranhamentos encheriam um caderno universitário de anotações... mas, quando Ignácio estava entre eles, essas dúvidas, essa vontade de colocar o vampiro na parede simplesmente desaparecia. Era como se desse um branco. Não lembravam. Quando tiveram essa conversa, Patrícia levantara uma hipótese, mais um dado para ficar com a pulga atrás da orelha. Patrícia dissera que de alguma forma Ignácio entrava na mente dos componentes do quarteto, impedindo que se lembrassem de perguntar as coisas. Impedindo que pudessem espremê-lo e descobrir as respostas. Ignácio estava, de alguma maneira, controlando suas mentes.
No final, Raul concluiu que só podia se tratar disso. Ignácio era mais perigoso do que poderiam supor. Capaz de transformar repulsa em simpatia, desconfiança em cega devoção. Era um vampiro, dos melhores.
Agora ele andava pelo corredor e, antes de chegar à porta do quarto onde Alexandre tinha repousado, ouviu a voz do vampiro e da amiga. Falavam baixo, mas com muita energia. Raul encostou a orelha na madeira da porta para ouvi-los com maior clareza. Apesar das frases truncadas, encontrou uma grande verdade no meio.
— Impossível! — disse Patrícia.
— Goste ou não goste, garota, as coisas são assim.
— Não posso acreditar, é só isso o que te respondo agora.
— Acredite, acredite, Patrícia. É isso o que eu acho dele.
— Coisas assim não acontecem todos os dias, Alexandre.
— Isso eu sei.
— O que sugere que façamos?
— Mesmo com toda minha certeza, devemos esperar.
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Os Filhos De Sétimo (saga O Turno Da Noite Vol.1) André Vianco
VampirO Turno da Noite surgiu para agitar o submundo. Quatro vampiros recém-trazidos para a vida noturna são atraídos por um vampiro ancião que vive em São Paulo. Ignácio oferece proteção e ensinamentos para os novatos em troca de suas habilidades para lu...