CAPITULO 22

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Régis encostou-se rente ao batente da porta e olhou rapidamente para o corredor. Mesmo que os policiais pudessem vê-lo não iriam atirar. Sabia como as coisas funcionavam. Olhou para dentro da cela. Ali, naquele exíguo espaço de três por três os rebelados mantinham seis reféns. O resto dos detentos estavam espalhados pelo cadeião, tacando fogo nos colchões e cobertores, brandindo estiletes feitos de pedaços de ferro. O cheiro de fumaça e carne queimada infestava todo o complexo penitenciário, atribuindo-lhe uma atmosfera ainda mais hedionda, infernal e degradada. Os prisioneiros rebelados estavam aproveitando a desorganização instaurada para executar desafetos junto com dois dos reféns. Agora tinha sobrado meia dúzia de funcionários da cadeia pública nas mãos dos presidiários e iriam suar bastante naquele buraco. Régis voltou para a cela. Olhou para o carcereiro que duas horas atrás batia nas grades de seu cafofo para levar o Almir para o hospital do Estado. O carcereiro Xavier não era do tipo que dava mole, mas a encenação dos detentos chegou ao cuidado de obrigar Almir a vomitar e fingir um ataque de convulsões, batendo a cabeça contra o chão. Xavier abriu a grade esbaforido, com a pistola na mão mandou os malacos agarrarem os membros do suposto doente, mas no primeiro vacilo, assim que Xavier deu bandeira, Régis, malandro criado na periferia, freqüentador assíduo das rodas de capoeira, aguiu. O chute gingado arremessou a pistola do agente penitenciário da mão e com o movimento seguinte o malandro encostou a ponta do estilete de ferro afiado no queixo da vítima. Fácil. Almir levantou xingando os parceiros por causa do galo que crescia na cabeça. Zé do Baile pegou a arma no chão e tirou as chaves da cintura do agente que respirava ofegante, preso pela gravata de Régis e a ponta aguçada do estilete.

Em cinco minutos tinham reféns e o descontrole total do cadeião nas mãos. Quatro funcionários conseguiram barrar a passagem dos detentos à bala e lacrar a frente do cadeião, mantendo a passagem principal da carceragem bloqueada. Não acederam às ameaças dos bandidos que viram sua tentativa de fuga frustrada. A confusão aumentou. Os dois primeiros agentes foram estiletados e sangraram até a morte, seus corpos, arremessados a fogueiras, alimentaram as chamas. Só faltava agora a chegada da televisão para começarem a fazer as exigências. A superlotação do cadeião era ignorada, e a cada dia mais e mais meliantes eram atirados atrás das grades. Uma vez que não fugiriam pela porta da frente, transformariam aquela baderna num ato político.

Aléxia sentiu o cheiro da morte ainda longe. Hélio viu os pontos de luz e a fumaça subindo ao céu. Os olhos da dupla se encontraram e o bicho grunhiu, voltando ao galope. Aléxia reconheceu o formato da construção. Cercado por muros altos, por cercas e havia torres de vigia em seus cantos. Uma cadeia pública. A vampira já tinha visto aquilo nos telejornais. E era isso que buscava. Homens confinados, uma boa briga e muito sangue. Honraria a selvageria de Sétimo, buscaria energia para seu restabelecimento. Estugou Hélio como se fosse um cavalo. Agarrou-se firmemente aos pêlos do bicho. Quem visse de longe aquela forma estranha não saberia onde terminava a amazona e onde começava a montaria.

O comunicado chegou até os aparelhos do furgão oliva-escuro. Um dos operadores de Internet decodificou o documento e imprimiu a página, passando-a ao capitão. Brites leu o relato e devolveu o papel para o soldado.

Os Filhos De Sétimo (saga O Turno Da Noite Vol.1) André ViancoOnde histórias criam vida. Descubra agora