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Passei o dia no quintal, tentando reproduzir o que Harry tinha me mostrado no parque: escutar os pássaros. Nunca pensei que o simples ato de ouvir pudesse ser tão viciante. Talvez ele não fosse tão louco assim. Ou talvez eu esteja começando a ser. Talvez aquele rapaz chamado Harry não fosse tão louco assim por passar seu tempo ouvido os passarinhos. Ou caso fosse, desejaria ser igualmente louca.
Chegando a noite, tive que me vestir com um de meus vestidos mais sofisticados, pôr o colar de pérolas que minha vó me dera e calçar meus sapatos dourados. Eu estava deslumbrante para um jantar caseiro do cliente do meu pai. Mas, estar daquele jeito foi de sua ordenança, porque, de acordo com sua lógica, estar de boa aparência traz segurança ao cliente. "Quanto mais elegante, mais segurança. Tendo segurança, negócio fechado" ele disse. Mesmo não concordando com sua tese, apenas o obedeci. Somente espero que isso o traga sorte e ele consiga fechar o negócio. Pelo jeito alegre que meu pai ficou ao ver esse homem, ele deve ser muito talentoso. Eu estou realmente curiosa para ver suas obras.
Desci as escadas e encontrei meu irmãozinho todo engomado, usando uma camisa polo e calça jeans escura, e, o mais engraçado, ele estava com os seus cabelos ruivos encobertos de gel puxados para traz. Parecia um príncipe. Meu irmão jogava no celular da mamãe enquanto ela ajeitava o blazer do meu pai e tentava acalma—lo.
—Tem certeza que estou bonito? Estou cheiroso? Meu hálito está bom? —meu pai falava rapidamente e eu escondia a vontade de rir daquela cena. Creio que minha mãe também.
— Você está perfeito, Dax. Agora vamos! — ela disse abrindo a porta de casa. — Vamos, Valentim! — minha mãe chamou meu irmão, e com os olhos fixados no jogo em sua mão, ele foi andando até a porta. Eu fui quieta logo atrás, somente os observando. Caminhei até a garagem e fiquei lá parada esperando minha família. Até que eu os vi andando para o lado oposto da garagem. Não tinha entendido nada.
— Pai! Não vamos de carro? — corri até os meus pais e meu irmãozinho. Eles andavam tranquilamente pela rua e fiquei ainda mais sem entender. Meu pai se virou para mim e lançou-me um de seus sorrisos de lado.
— Para quê ir de carro se já chegamos ao nosso destino? — meu pai me respondeu.
Foi inevitável meu rosto se transformar em uma bela carranca ao ouvi-lo falar. Quando me dei conta, a casa vizinha estava ali, bem à minha frente. Justamente a casa vizinha que me amedrontava pela sua janela e fez meu melhor amigo urinar nas calças.
— O quê?! — senti meu corpo perder, levemente, a temperatura e o meu coração acelerar. Eu não queria entrar na casa. Olha o que uma merda de destino poderia fazer comigo: me levar justo no lugar o qual eu estava com tanto medo.
Destino. Soquei—me mentalmente. Talvez fosse algo que a vida estivesse me proporcionando resolver, não? Pensei então "O que uma detetive faria neste momento?" Investigaria, é claro. Mas, eu não sou detetive, porém sonho em ser o Sherlock Holmes, ou pelo menos o Watson. Podia tentar aquela noite... Uma Sherlock Holmes desastrada, ou uma Watson que tem medo de sangue. Isso não daria certo. Eu não sei o porquê mas eu sempre me pego caindo nas burradas da personagem burra do filme de terror.
Respirei fundo e dei um passo até a casa.
— Está tudo bem, filha? — minha mãe perguntou e veio até a mim. — você está pálida.
— Não, mãe, não aconteceu nada. Estou bem. É só fome. — Omiti. Até porque eu estava realmente com fome.
Eles assentiram e meu pai tocou a campainha. Enquanto esperava alguém abrir a porta, fiquei me perguntando do porquê de acontecer essas coisas comigo. Por mais rídiculo que fosse, o ursinho Georg me ajudaria muito nesse momento. Acho que não ficaria com tanto medo como estou agora. Eu não sei porque eu tinha uma mania desapegada com o meu celular, que eu sempre o esquecia em casa. Eu poderia mandar uma mensagem para Lynn agora e desabafar o meu medo e contar que "A-Missão-Investigar-O-Que-Está-Na-Janela, está perto de ser finalizada". Engoli o ar e repeti mentalmente para mim que como uma exploradora, não poderia ter medo dessas coisas. Devia ter uma explicação para os acontecimentos da janela. Sempre há um explicação. Eu não estou em um filme de terror. Eu não estou em um seriado da netflix.
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He Can't See Me • h.s
ФанфикHarry Styles é um jovem pintor que ama pássaros. Porém, não é um rapaz tão comum assim. Excêntrico é a palavra que o descreve. A menina ruiva, Alene, que adora pedalar, conhece o garoto de cabelos cacheados na Carolina do Sul. Ninguém imaginaria...