Capítulo 20

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Antes de tudo, quero dedicar esse capítulo a Evie, Foxy, Sallie, tommopossuido, e todas as outras meninas que me mandaram mensagens dizendo que não me abandonariam! Dedico a vocês e agradeço pelo apoio! A falta de inspiração e o cansaço me pegaram de jeito!!! Hahahah!

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Harry

Em plena terça-feira à noite eu estava em meu atelier de pintura, com todos os meus quadros espalhados, tentando escolhê-los. Faltava poucos dias para a exposição e eu tinha, imediatamente, que decidir quais quadros seriam expostos, mesmo que eu não tivesse nada de muito especial. Dax precisava de quinze quadros meus para semana seguinte, a fim de começar a instalá-los. Confesso que minha barriga já estava começando a gelar de ansiedade por isso. Tudo que estava acontecendo, era tão estranho... Tão intenso... Tão especial...

Em toda a minha vida, praticamente toda, eu pintei. Desde dos cinco anos já fazia alguma coisa, nem que fosse casinhas e bonecos de palito. Quando os garotos da minha idade estavam andando de bicicleta, brincando de pique-pega pela rua, eu os observava na varanda da minha casa, com um caderno de desenho sobre o meu colo, e tentava desenhá-los. Me achavam um garoto um tanto estranho por preferir o lápis à bola de futebol, mas, para falar verdade, nunca me importei.

Aos oito anos, pedi minha mãe para entrar na aula de pintura, e ela me colocou depois de dois meses de muita insistência. Nesse ano, os garotos continuavam me achando estranho — ainda mais quando na minha aula de pintura 97% era mulher, e os outros 3% era eu e um senhor de sessenta anos com Alzheimer. — ( Ah... o preconceito...) Nunca me senti intimidado, para falar a verdade. As garotas sempre me tratavam bem, e, por um lado positivo, confesso que elas flertavam comigo por eu ser o único menino que elas conheciam que se interessava por pintura. Romances infantis vinham e iam, mas naquele momento, o meu maior amor era somente a arte.

Nessa minha fase, dos oito aos dez anos, fiz alguns quadros, mas dei quase todos para a minha avó. Só fiquei com o quadro do avião com um menino na janela, e uma cidade.

Quando perdi a visão por completo, devido ao glaucoma, foi um ano no qual não consegui produzir nada. Tudo porque achei que eu não seria capaz. Mas por causa disso, eu passei a ser um garoto deprimido pois eu estava afastado do meu verdadeiro amor, a pintura. Lembro que as minhas amigas do grupo de artes enviavam cartas com desenhos em alto-relevo para mim. Algumas cartas vinham escritas, e nelas elas falavam que sentiam a minha falta e que esperavam me ver logo. Mas, quando elas disseram que havia entrado um novo garotinho na aula e que talvez quando eu voltasse não me sentisse sozinho, me entristeci. Mesmo elas dizendo que ninguém me substituiria, eu não gostava daquela situação pois eu gostava de ser o único lá. Mas eu fiquei com mais raiva porque eu não poderia voltar logo para o curso, pois eu estava cego e não pintaria mais. Então, depois de muitas análises psicológicas, voltei a pintar em casa. Perdi o contato com o grupo de artes, e nesse momento, nem queria ver mais ninguém porque estava revoltado demais e triste demais. Decidi, realmente, não voltar a vê-las e permanecer em casa, pintando lá mesmo. O quarto da bagunça, foi transformado pouco a pouco no "quarto em que Harry pinta ou fica lá mais tempo o possível".

Só que o mundo se tornou diferente para mim. Passei a não ter mais as inspirações através do que eu via, e sim através do que eu sentia. Aquilo era tão intenso, tão desafiador, que eu acabei me apaixonando ainda mais pela pintura. Cada abraço, aperto de mão, risadas, cheiros, músicas, cafunés de Gemma, se tornaram obras que eu nunca esperaria que nasceriam de mim. Mas o que eu menos esperaria, seria que alguém gostaria das minhas obras a ponto de querer expô-las. Eu fazia aquilo para me fazer feliz, e o motivo da minha felicidade tinha sido reconhecido. Era incrível!

He Can't See Me • h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora