Capítulo 23

871 76 129
                                    

Demorei, mas cheguei com um capítulo grande. 😍

-x-

Harry

Quem estava escrevendo a nossa história tinha muita mansidão e minuciosidade. Na maior parte das histórias de romance, nos primeiros beijos entre os protagonistas, a carne perde o juízo e age por impulso. Em outra história, seria mais que certo de Alene me beijar ali, naquele sofá, depois de ter chorado de alegria por algo que eu disse a ela. Se não fosse ela, seria eu. Ou me aproveitaria dela estar sozinha, e depois de uns amassos no sofá, faria amor com ela na sala de estar do senhor Ballard.

Mas não seria uma história qualquer.

Algo dentro de mim, mais forte que eu, dizia para aproveitar cada detalhe de Alene. Cada palavra, toque, risada. Cada momento porque ela era especial.

Até porque, beijos são simples detalhes de sentimentos indispensáveis.

Era um fato que não conseguia parar de pensar nela, desde sexta-feira, e já era um dia antes da exposição. Estava a caminho da galeria de Dax, para instalar os quadros, pois no dia seguinte seria o dia que minhas obras seriam expostas. Pois é, e eu só conseguia mentalizar a ruiva mais linda, cantando green day para mim enquanto eu pintava. Mesmo estando ansioso para minha primeira exposição de arte, as borboletas no estômago saltavam e se multiplicavam só de pensar em vê-la de novo.

Eu estava ferrado. Perdido. Apaixonado.

— Está tudo bem, filho? — escutei a voz do meu pai quebrar o silêncio no carro.

— Hum? Por que pergunta?

— Porque você está pensativo e balançando a perna como se estivesse ansioso. Está confiante com seus quadros? — meu pai era muito amigo e cuidadoso. Mas ainda bem que ele não era mais amigo meu que Gemma. Ela com toda certeza entenderia o que se passava dentro da minha mente, e estaria enchendo o meu saco agora com os poemas que ela sabe de cor, sobre uma paixão não resolvida.

— Foi muito difícil fazê-los. Espero que todos gostem, pai. — meu processo criativo foi realmente muito difícil. E não podia negar que estava um pouco nervoso para a exposição de amanhã. Mas resolvi omitir para meu pai para ele não gerar expectativas entre mim e Alene.

— Não tenho dúvidas que amarão, meu filho! — sorri em resposta. Eu era muito abençoado por ter um pai tão presente e que luta pelos meus sonhos. Robin era incrível.

Deixei-me escutar o canto das árvores com o vento, enquanto meu pai atravessava nosso bairro para a cidade. A galeria de Dax ficava em uma das melhores ruas do centro da cidade, movimentada e com muita arte. Acredito que muitas pessoas vão ter a oportunidade de passar na galeria de Dax, nem que seja por minutos, para olhar dois ou três quadros meus.

Mas, de todas as minhas obras, tinha uma que eu queria mostrar pra todo mundo, mais do que as outras.

— Chegamos! — Robin estava animado.

Abri a porta e meu coração acelerou. Coloquei o meu bastão de auxílio para fora, após conferir que estava tudo certo, sai do carro para ajudar o meu pai a pegar os quadros. Meu pai me entregou dois quadros médios, que estavam cobertos com lençóis e fita crepe. Os peguei com a mão que estava livre e fiquei parado, esperando o meu pai me guiar.

— Filho? — meu pai me chamou.

— Hum? — respondi, na medida que ajeitava os dois quadros de baixo do meu braço esquerdo e me apoiava no meu bastão.

— Que quadro enorme é esse?! Você usou a sua tela de aniversário? — ele parecia empolgado.

Eu tinha ganhado no meu aniversário uma tela maior que eu. Mas, eu estava esperando o momento certo para usá-la. Faziam 10 meses que eu estava guardando a tela. Meu pai já estava ficando triste por eu não ter usufruído do presente dele. Mas eu estava esperando a melhor inspiração.

He Can't See Me • h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora