Prólogo

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Maria

Olhos azuis, cabelos dourados, pele branquinha, nariz arrebitado, e bochechas gorduchas. Eu tentava memorizar cada parte do rosto da minha filha todos os dias, para acompanhar as mudanças que aconteciam com ela.

-Mamãe, posso tomar sorvete agora?-Lilliana perguntou, enquanto eu colocava o uniforme nela.

-Pode sim.-A autorizei sorrindo.

A minha princesa está com 3 anos e meio. Apesar de morarmos na França, eu a ensinei a falar italiano, e ao longo do tempo ela se acostuma com o francês. Ela é toda extrovertida, e adora pintar.

Beijei suas bochechas meladas de picolé, e coloquei uma tiara em seu cabelo, para domar suas madeixas rebeldes.

-Vamos logo, se não vamos nos atrasar.-Eu digo apressadamente, ela pega sua mochila cor-de-rosa e eu pego sua lancheira.

Descemos para o estacionamento e a coloco na cadeirinha no carro, o caminho é feito com músicas infantis tocando, Lilliana fica cantarolando todas elas.

Estaciono em frente ao seu colégio, saio do carro e a tiro da cadeirinha, este seria seu primeiro dia de aula. Parei em frente ao portão da escolinha e me agachei para ficar do seu tamanho.

-Você vai se comportar, certo?

-Sim!-Ela respondeu sorrindo.

-Boa sorte, mi amore.-Beijei sua testa, e ela saiu saltitando para dentro.

Suspirei pensando, Lilliana logo perceberia que todas as crianças tem pai, e as perguntas começariam. Cravei as unhas na palma da mão e mordi o lábio apreensiva.

—•—

Fui até o balcão da confeitaria e fiquei servindo os clientes, o meu estabelecimento era um sonho guardado, que ao longo desses anos se tornou realidade.

Não sou de me gabar, mas a minha confeitaria é um charme, e a cada dia mais clientes chegam. Então ela é relativamente famosa.

Entreguei uma porção de choux bem recheados para uma mulher alta e sorridente, ouvi o sino da porta tilintando, e uma pessoinha ficou observando a vitrine de doces.

-Esse aqui é muito bom, eu adoro.-Eu comentei apontando a eclair de chocolate.

Ele me olhou sorridentes, mas uma coisa me chamou a atenção, seus olhos, um era aparentemente normal, mas o outro...a íris era esbranquiçada, então eu entendi, o menininho só enxergava com um olho, senti um aperto no coração, ele era uma criança e ja deveria ter passado por tanta coisa.

-Filho! Matteo! Achei você!-Olhei em direção para a voz masculina e empaquei no lugar, Lucca estava aqui.

—•—
Lucca

Há 8 anos, eu era um moleque, tinha acabado de entrar na faculdade, então conheci Andreia, ela era encantadora, gentil e extrovertida. E aos poucos eu fui me apaixonando por aquela menina meiga.

Tomei toda coragem que eu tinha e pedi ela em namoro, Andreia aceitou e logo me vi realizado. Mas eu tinha um empecilho, ela não sabia que eu era rico.

Meus pais sempre me ensinaram que há pessoas muito ruins no mundo, e que não devemos nos esnobar pelo nosso dinheiro, e sim pelo nosso caráter.

Mas Andreia era o amor da minha vida, eu tinha certeza disto. Quando completamos 3 meses de namoro a levei para conhecer minha casa, e foi aí que ela começou a mudar. Talvez eu fosse burro demais, por não ter percebido os detalhes, como quando ela maltratava as faxineiras da faculdade, mas eu só tinha olhos para ela.

Andreia começou a tratar todos mal. E então em um dia qualquer, ela chegou e me disse que estavam grávida, eu a amei ainda mais por isto. Mas ela não agia como grávida, bebia e usava saltos altos, quando descobri que um menino viria me senti realizado.

E Andreia começou a se queixar de que não queria ter a criança, pois ela iria ficar gorda. Naquele dia discutimos feio, e no dia seguinte veio a notícia que ela havia se jogado da escada para tentar abortar o bebê.

A dor que eu senti era inimaginável, mas o meu guerreiro havia sobrevivido, e eu prometi a mim mesmo que assim que ele nascesse ela nunca mais colocaria os olhos nele. Para lhe manter seguro, coloquei Andreia numa casa aonde teria alguém a observando 24h por dia.

E assim os últimos meses da sua gestação seguiram, até Matteo nascer, ele era o bebê mais lindo que eu ja havia visto na vida. Mas em decorrência de tudo que Andreia havia feito durante a gravidez o fez nascer cego de um olho.

Minha raiva foi tanta que eu mandei meu advogado visitá-la apenas para lhe entregar uma medida restritiva, a impedindo de ficar no máximo à 1Km do filho. Eu jurei que não iria visitá-la, mas eu o fiz, no último dia da sua internação.

Ainda me lembro daquela conversa.

-O que está fazendo aqui?!-Ela perguntou assustada, minha feição estava assustadora, eu sei.

-Vim ver a vadia.-Ela tremeu na cama.

-E-Eu quero ver a criança.

-Nem por cima do meu cadáver, você nunca vai vê-lo. Você não merece, na verdade você merece apodrecer na cadeia, tentativa de aborto é crime.-Ela arregalou os olhos.

-Não, por favor Lucca, eu te amo!

-Que vá você e seu maldito amor paro inferno!-Eu rugi.-Se eu achar você de novo, eu juro que te jogo na pior cela de cadeia, sabe? Aquela cheia de ratos. Porque é o que você merece sua cadela inútil!

Depois daqueles dia, eu vim criando Matteo com todo o meu amor, e ele é igualzinho a mim.

Quando Maria apareceu na minha vida, eu vi uma maldita chance de esquecer o meu passado e seguir em frente, mas eu a dispensei, e reneguei a minha filha. Pensando que ela era mais uma vigarista, mas a forma que eu a vi protegendo nossa filha, me fez querer morrer.

Então ela sumiu, simplesmente sumiu, levando com ela meu coração, mas eu a procurei, procurei como um louco, e coloquei um detetive para procura-lá, e ele o fez.

Meu amor estava escondida na França, levei Matteo comigo, pois ele sempre fica triste quando viajo, eu nunca o expus na mídia, ninguém precisava saber que eu tinha um filho, eu precisava protege-lo desses abutres.

—•—

Matteo entrou em uma confeitaria, enquanto eu estava no telefone, as vezes ele era teimoso demais, puxou a mim. Entrei no lugar e o vi sorrindo para uma mulher, quando me aproximei para poder vê-la meu coração bateu mais rápido. Eu a achei.

—••—

Estreia 12/12

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