Maria
No meio da noite fui despertada pelo som da porta abrindo, e então senti um leve peso ao meu lado na cama, abri os olhos e observei Lilli se aproximar de mim, ela carregava Rufius no braço, a cobri e a abracei. Ela provavelmente tinha tido um pesadelo, eu não queria que ela soubesse dessa forma tão traumática.
-Mamãe, o tio Lucca é mesmo meu papai?-Me virei e acendi o abajur para poder ver seu rostinho.
-Sim ele é.
-Por que nunca me contou?
-Adultos são tão complicados, minha borboletinha.-Ela abraçou seu ursinho de pelúcia e me olhou.
-Ele vai morar com a gente?
-Filha, ele vai voltar com Matteo para Italia.
-Por que nós não vamos também?
-É complicado, mas prometo que logo iremos visitar a tia Giullia e visitaremos eles.-Ela assentiu e fechou os olhos.
Acariciei seu cabelo, até sentir sua respiração uniforme, ela havia adormecido.
—•—
LuccaFechei a mochila azul e entreguei para Matteo, ele a colocou nas costas e empurrou sua mala de rodinhas pelo apartamento.
-Vocês já vão?-Ouvi Maria atrás de mim e levei um susto.
-Sim, na verdade, ja estamos atrasados.-Ela olhou para o chão por alguns segundos e então se aproximou de mim.
Nossa briga tinha me deixado muito abalado, e a conversa que tivemos depois, com ambos mais calmos, nos ajudou a esclarecer algumas coisas, mas eu decidi que eu tinha que voltar para casa. Lilli parecia estar com medo de se aproximar de mim, eu queria que minha filha gostasse de mim. Mas isso teria que esperar, eu decidi voltar também, pois recebi um e-mail importante, era o oftalmologista de Matteo, ele disse que talvez tivesse como curar a doença do meu filho. Eu precisava voltar com urgência.
Maria tocou na minha mão, ela parecia envergonhada.
-Boa viagem, tome cuidado, ok?
-Vai ficar tudo bem...-E ela me surpreendeu se aproximando e beijando o meu rosto.
-Espera!-Ouvimos uma voz infantil e nos afastamos.
-Matt! Matt! Olha, eu tenho uma coisa pra te dar.-Lilli se aproximou de Matteo e lhe entregou um urso de pelúcia, ele ja estava bem gasto, mas ele ainda usava um terninho de algodão.
-O-Obrigado Lilli.
-Cuide bem dele...irmãozão.-Ela sorriu e o abraçou, Maria sorriu e pareceu relaxar do meu lado.
Nos despedimos e mesmo ela insistindo em nos levar para o aeroporto eu chamei um taxi. O voo foi tranquilo, a distância era bem pequena então o tempo que passamos de viagem foi bem curto. Matteo ficou o tempo inteiro abraçado ao urso de pelúcia. Ele iria sentir falta da irmã.
Chegamos em casa rapidamente, e eu liguei para os meus pais para avisar que havíamos chegado bem. Marquei uma consulta para Matteo na semana que vem e fui descansar um pouco.
—•—
MariaFechei os olhos tomei um gole do meu chá, meu pai comia avidamente uns dos doces que eu havia trazido da confeitaria, Lilli estava concentrada em seu desenho recém-começado.
-Ele foi embora ontem?
-Sim.
-Como você está com isso?
-Não faça perguntas difíceis, papa...-Ele sorriu e abocanhou um canolli.
-Lilliana se deu bem com o garoto?
-Sim, acho que ela ficou até mais feliz por ter uma companhia. Matteo é um bom garoto, apesar de ter a deficiência ele é muito feliz.
-E Lucca soube lidar com a filha?
-O senhor está fazendo perguntas difíceis de novo, papa.-Ele riu e segurou a minha mão.
-O que acha de arrumar um namorado?
-Papa, eu não tenho tempo para isso, eu tenho Lilli, e ela é quase como um namorado.-Ela me olhou subitamente interessada.
-Mamãe, por que você não tem um namorado?-Ah que ótimo!
-Porque eu não preciso de um, minha borboletinha. Tratem de mudar de assunto já!
-Eu terminei meu desenho, olha mamãe!-Ela me mostrou e eu fiquei subitamente enjoada.
Era eu, Lilli, Lucca e Matteo, e no canto da folha uma versão rabiscada de seu ursinho Rufius descansava em um balanço.
-É a nossa família.-Lilliana concluiu animada.
-Lilli...nós não somos uma família, quer dizer...Eu e você somos uma família, e o papai e o Matteo são outra, entende?-Ela me olhou confusa, e então pareceu ficar desapontada.
-Entendi, mamãe.
Meu pai que assistia tudo em silêncio decidiu se pronunciar.
-Obrigado pelos doces, minha filha, mas eu preciso ir.-Assenti e me despedi dele, Lilli deu um beijo no avô e foi para o quarto.
Ela estava chateada, esse era um problema de Lilliana, ela é muito sensível, é só elevar um pouco a voz e ela começa a chorar. Fui até seu quarto e a observei em silêncio, ela pegou o desenho e o rasgou, eu me assustei e me aproximei dela.
-Filha, por que rasgou o desenho?
-Porque eles não são a nossa família.
-Lilli...-Ela me olhou irritada e começou a me empurrar para fora do seu quarto, e bateu a porta.
Ela era tão geniosa! As vezes me perguntava de quem puxou, e o pior que ela tem só três anos! Imagina quando ficar mais velha.
—•—
LuccaEntrei com Matteo no consultório e ele ja se encolheu, ele odiava vir ao médico, pois quase sempre tinha que tomar vacinas, mas não dessa vez. Como sempre o doutor examinou o olho de Matt. E como de costume não havia mudado nada.
-Bom Sr. Apozzi, o tratamento que mencionei no e-mail envolve uma cirugia, e como o Matteo ainda é muito novo vamos apenas inserir os remédios.
-Mas ele ja toma bastante remédios, não vai afetar em nada essa grande quantidade de drogas?
-Não, talvez o humor dele mude um pouco, mas nada fora do normal.-Assenti.
Ele passou a receita e me assustei com a quantidade, guardei no bolso e levei Matteo para casa, pedi para que a nossa empregada comprasse os remédios naquela tarde, e deixei ele com a babá.
Eu estava muito atrasado para uma reunião, quando cheguei todos os acionistas e meu pai ja haviam chegado, apesar de tudo eu não consegui prestar muita atenção, minha cabeça estava cheia.
O tratamento de Matteo, os problemas com a Maria, minha cabeça estava explodindo. O meu reencontro com Andreia. Tudo estava indo de mal a pior e eu precisava me manter firme.
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Jogos do Passado - Série Jogos Da Vida
RomanceLucca Apozzi era o típico homem galinha, porém um erro do passado o fez guardar um segredo, um segredo que ele protegia com as próprias mãos, ele havia se fechado para todos. Mas ao longo do tempo ele voltou a ser um homem que tudo o que ele queria...