Capítulo Oito

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Peter não mais habitaria meus pensamentos. E tudo que tive para Kalanova, foi o silêncio.

No momento em que aquele lindo garoto com os olhos ocre mais amáveis do universo acenou para mim, ao lado da árvore, enquanto eu o observava da janela, tive certeza de que aquela era melhor coisa a ser feita. Logo após, Peter, meu Pete, afastou-se, foi embora da Academia e da minha posse; agora era o Peter de qualquer outra pessoa, mas não mais me pertencia.

A sensação de abandono não me era desconhecida, porém, não foi menos dolorosa por isso: parecia pior. Da outra vez, eu ainda me dera ao trabalho... Agora eu ficaria quieta, buscando outras formas de esquecer e superar. Por mais que ele dissesse que voltaria, do que sabia do futuro? Talvez estar lá acabasse provando ser algo maravilhoso para ele, talvez fizesse muitos amigos queridos, talvez... se apaixonasse.

E era exatamente por isso que eu precisava tirá-lo da minha mente.

Mas a solidão e as saudades eram implacáveis e foram me consumindo pelos dias que se seguiram, afinal, cada pedacinho da Academia continha uma memória diferente. Busquei o apoio dos meus outros consortes (ou, preferível dizer, a cama), que antes costumava visitar ocasionalmente, graças a minha escancarada preferência por Peter. No entanto, nem Emile, Adrian, ou qualquer um deles foi capaz de apaziguar a tempestade dentro de mim. Num efeito placebo temporário, eu me sentia bem pelas horas que seguiam após o apoio deles, só que não mais que um dia depois... já voltara ao terrível estado emocional de antes.

Ao menos parecia que Frederick havia relaxado um pouco. Eu não sabia se era por pena de mim, ou outra coisa, contudo, quando estávamos sozinhos, costumava permitir que eu apelasse aos outros consortes. Provavelmente acreditava que eles não importavam tanto para mim quanto Peter, e de uma forma, estava certo. Já Jason... Bem, desde aquela noite não havíamos trocado mais que palavras necessárias e ele era indobrável: ao seu lado, eu não tinha sossego, sequer permitia que eu ficasse sozinha por mais de alguns minutos.

Suas palavras ainda me doíam.

― Você está perdida ― ouvi as palavras que me tiraram daquela divagação antes de ser derrubada ao chão. Os olhos laranja de Lowe eram um contraste perfeito com seu cabelo negro. ― Nos seus pensamentos. Lutando pior do que de costume. O que houve?

Quis beijá-lo ali mesmo, enquanto ele jazia sobre mim, imóvel. Pena que se o fizesse, o treinador me expulsaria da classe e eu teria que encontrar Kalanova.

― Nada de importante ― menti, mas que mal faria? ― Só imaginando como seria melhor estar dormindo.

Então, ele levantou, rindo, e me puxou para que fizesse o mesmo. Sua mão era quente e eu o agradeci mentalmente por nunca ter se candidatado a ser consorte de ninguém. Assim, eu poderia tentar aproveitá-lo...

Quando a aula chegou ao fim, porém, eu estava sem sorte. Os olhos de Jason cruzaram com os meus logo que os alunos se dispersaram, indo para a direção de onde ele vinha. Lowe acenou antes de enfim partir e eu engoli a seco enquanto o ahnkalov parava na minha frente, a seriedade consumindo sua expressão.

― Helena quer que você a visite hoje ― ele falou, sem paciência. Os braços já se cruzavam sobre o peito e eu desviei o olhar antes que fosse tarde demais; não queria lidar com aquilo, ao menos naquele momento.

― Eu tenho tempo para tomar um banho?

E logo, eu estava sob a água escaldante, lavando o suor para longe e me ocupando em esfregar a pele encardida. Era tão bom estar em um lugar quente depois de tanto tempo sendo castigada pelos ventos gelados que acompanhavam o miakdrir.

Sacerdotisa de Landar - Livro Um (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora