Capítulo Dezesseis

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Olhos laranja.

Como os de Éden.

Deixei o fogo se apagar dentro de mim e com uma última encarada em Lucien, corri para bem longe; havia uma pessoa a quem eu precisava encontrar naquele momento.

As botas afundavam na neve até quase os meus tornozelos, dificultando um pouco a parte de correr, mas não seria isso que me impediria. Durante o percurso, não chorei, embora estivesse bem perto disso ― e se o fizesse, também, poderia dizer que havia sido o vento gelado que ressecou minha vista.

De qualquer forma, eu não poderia parar. Parar seria permitir que a ideia bizarra que tentava me invadir finalmente conseguisse e eu não queria sofrer por antecipação.

Escorreguei no gelo da calçada de pedra que contornava o palácio e bati de costas, com o ombro esquerdo no chão. Se eu começasse a chorar, poderia simplesmente dizer que era graças a dor terrível que iniciava a sua propagação pela área. Mas eu jamais conseguiria mentir para mim mesma e me sentiria mal, muito mal. Por isso, tudo que pude fazer foi permanecer como estava, deitada e fechar os meus olhos, esperando pegar uma hipotermia e morrer, porque era essa a vontade que o pensamento horrível me dava.

Eu negaria o fogo, o elemento daquele que poderia ser meu pai e permitiria que o gelo me trouxesse o acalento da morte. Eu preferiria morrer a isso ser uma verdade; até mesmo uma possibilidade. Agora eu esperava que ela não desviasse de mim, que viesse e me levasse para perto de Alafer, como era para ter sido há muito tempo.

E com esse pensamento, fechei os olhos.

Quando acordei, estava deitada em minha cama, no quarto do palácio que me foi designado. Ao meu lado, Jason estava sentado, lendo o mesmo livro de leis que tinha em mãos no primeiro dia em que nos conhecemos. Uma sensação de dejavu veio na hora e foi mais rápido ainda ao notar que não havia nada de Freddie: apenas uma pessoa loira, um tanto alta demais que se encontrava de pé, parada em frente à janela aberta, olhando através dela com bastante concentração.

― Ela acordou ― Jason disse, provavelmente me observando, mas nem me dei ao trabalho de encará-lo, estava concentrada demais em Donovan para isso. Ele se virou e passou a me fitar também. ― Você bateu com a cabeça?

Neguei e subitamente me dei conta de que talvez meus olhos ainda estivessem daquela cor maldita. Saltei da cama, buscando pelo espelho que havia em uma penteadeira do outro lado do quarto ― para o meu alivio, eram verdes como os de Alafer.

― Eu preciso falar à sós com o Donovan ― falei e acabei chocando ambos. Jason, porque talvez tivesse sido incisiva e séria demais e o outro... Bem, eu havia dito que não falaria mais com ele e até então, tinha cumprido a promessa.

Contudo, aquela não era a hora para o meu silêncio.

Assim que Jason saiu e fechou a porta do quarto, nos deixando sozinhos, Donovan sentou na cadeira que antes o outro ocupava. Esperei até que o ahnkalov talvez tivesse se afastado o bastante para liberar os pensamentos que me assustavam.

E se em algum momento bizarro do nosso universo Éden tivesse sido honesto pela primeira vez em sua vida? E se ele realmente fosse metade do DNA que eu carrego no corpo? Isso significaria que Alafer, minha mãe, em algum momento, tinha amado ou não, ele; tinha ficado com aquele homem horrível. Não era possível, certo?

Ele estava apenas tentando me atingir, só podia ser isso. Ou não?

― Você é meu pai? Quem é meu pai? ― atirei, sem piscar os olhos. Estava fixo nos dele, até que me respondesse algo. ― Pelo bem da minha sanidade, por favor, me diz.

Sacerdotisa de Landar - Livro Um (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora