Epílogo

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Onde eu vivo, há uma crença bastante difundida pelos nossos ancestrais sobre a morte. Quando ela vem, toca no lugar e em todas as pessoas que estiveram perto dela, ou que contribuíram para a sua chegada. Os guerreiros que estiveram lutando na guerra passam a vida inteira convivendo com esse toque e tendo que lidar com as consequências. E para quem teve o azar de encontrá-la várias vezes, vai além disso: existe uma sombra que marca o desafortunado e parece atrair ainda mais a ela, tal como um eco.

Os antigos estavam certos, no fim das contas.

Desde a morte de Helena, ressoava como um grito. Não importava o que eu fizesse, o quanto tentasse calar sua voz, não havia como fazê-lo ir embora. Talvez nunca houvesse uma fórmula para isso; eu tinha um tipo de marca que atraia aquela força primordial. E depois disso, tudo que eu podia perguntar sempre que rezava para os deuses no bosque da Academia era quem seria o próximo; eu estava exausta de ver tanta gente morrendo na minha frente.

De todas as mortes que vi, em todos os ciclos de minha vida, três me marcaram. A mais recente, minha companheira de destino, Helena, morta em uma noite em que tudo que sobrou dela fora apenas uma massa ensanguentada e disforme na neve sepulcral, sobre a ponte do Rio de Fogo. A segunda, Éden, pelas mãos de minha vingadora, Elai, nossa rainha que trancou sua alma em um dos tão temíveis Vasos da Morte, onde o tem cativo até hoje. E a mais importante, minha mãe, Alafer, destruída pelo fogo de meu pai, que a explodiu e tirou de mim a pessoa que mais amava na vida.

Minha mãe era a terra; meu pai, o fogo ― e com sua fúria em chamas, ele a consumiu.


Fim

Sacerdotisa de Landar - Livro Um (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora