Capítulo Doze

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Meus pulmões ardiam: brasas que o frio não apagava, mas fazia queimar mais. Eu não tinha o porte físico para uma corrida em plena madrugada, muito menos no meio do miakdrir. E ainda assim, lá estava eu, o vento no meu rosto, e o medo de algo que sequer sabia o que era, só que estava ali. Só havia a certeza de que parar não era uma opção.

Então, um rastro de fogo; eu cai.

Tudo pareceu se mover, rápido demais, como um sonho distorcido.

Um sonho... um sonho... Algo fazia tic tac, embora eu não visse as horas passando e nem os ponteiros de um relógio. Aquilo que me derrubou parecia fogo, queimava como fogo, e não era fogo: uma mera ilusão. Se fosse mais do que isso, eu poderia tomar para mim e controlar... Então, um clique, o último. E mais uma vez, a fênix.

Muito maior do que da última vez, um monumento colossal de fogo e cinzas que morria e renascia incontáveis vezes na minha frente. Um ciclo repetitivo da Vida, do Destino e da Morte, a tríade que nos guiava desde o início dos tempos em um simbolismo nada discreto. E toda vez que ela morria, era em meus olhos que olhava. Como se a própria Deusa dissesse para mim que estaria sempre me observando; eu não tinha dúvidas nenhuma de que se havia algum Deus me olhando, esse Deus era a Morte.

Até que o ciclo cessou.

Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, uma única palavra ressoou, tal como uma canção em minha caixa craniana, e então... Eu acordei.

Cuidado.

Meus olhos se abriram. Percebi que me encontrava aquecida na segurança do quarto, isso foi constatado logo que fitei o teto branco. Um suspiro escapou dos lábios, o claro alivio de aquilo realmente ter sido só um sonho, não um momento de ira dos Deuses. A satisfação me permitiu respirar fundo, puxando o ar lentamente para dentro dos pulmões, que não queimavam, só realizavam seu trabalho sem esforço; talvez eu ainda pudesse dormir mais um pouco.

No entanto, assim que virei para o lado direito, tombei com algo que me fez tomar um susto e, em seguida, jogar meu corpo para trás; bati em outra coisa. E dessa vez, não ficou só por isso ― fui segurada por um par de braços.

― Por que você veio deitar conosco, Kate? ― Jason sussurrou com a voz embaralhada pelo sono; o hálito quente contra minha nuca.

― O que você está fazendo aqui? ― desta vez quem perguntara fora Frederick, que provavelmente despertara com minha movimentação e por causa do amigo.

Sentei e olhei para os dois, um de cada vez.

Ambos estavam sem parte das roupas pesadas que vestiam na noite anterior. Os peitorais nus e o que quer que tivesse embaixo dos lençóis... comecei a prestar atenção no delineado de suas handark: a pureza azul de Jason, e a mistura de verde e negro que ornavam em Frederick. Por alguns instantes, pensei em como eram belos em suas próprias formas, e tão rápida que veio, a ideia também partiu, cedendo seu lugar a racionalidade.

Não havia dado liberdade para aquilo, somente concordamos na noite anterior que os dois dormiriam no chão. Porém, quando me dei conta, não estávamos em minha cama e sim, aos pés dela. Na verdade, quem havia ido contra as regras era eu.

― O que eu estou fazendo aqui? ― falei alto demais algo que deveria ter sido um mero questionamento interno. Tentei começar a entender em que parte da noite eu escapulira de minha cama para encontrar conforto entre aqueles dois, mas antes que pudesse encontrar uma resposta para aquela questão, algo mais importante surgiu.

― Acho que é mais importante agora é saber: porque você está praticamente nua? ― ouvi Jason perguntar. Como reflexo daquilo, encarei meu corpo constatando a veracidade da pergunta e minha incapacidade de formular uma resposta para aquilo. Eu estava apenas vestindo as handark. ― Aliás... Você está molhada? ― Roçou então o dedo sobre as supostas gotículas de água em meu ombro nu; Freddie fez o mesmo. Sequer tive tempo de cogitar subir minha temperatura para queimá-los.

Sacerdotisa de Landar - Livro Um (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora