Capítulo Um

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Minha cabeça parecia a ponto de explodir quando eu abri meus olhos e encontrei a escuridão de um veículo em mobilidade. Só havia a luz dos faróis dianteiros enquanto o carro passava por uma estrada de terra com mais buracos do que qualquer lua. Como meu corpo parecia pesado e seria um esforço enorme tentar recuperar movimentos corporais, mantive-me quieta. Afinal, tentar erguer a droga dos meus braços fazia com que eu tivesse a sensação de estar levantando um elefante com minhas mãos. O que se explicou, logo que percebi que meus pulsos estavam juntos, amarrados, e presos em algum lugar embaixo do banco.

Entretanto, a pior parte não era esta; eu conseguia ouvir duas vozes. Vozes essas que pertenciam às pessoas sentadas nos lugares do motorista e do carona, à minha frente. Tive a impressão de eles agiam normalmente, como se nada de importante estivesse acontecendo.

Uma pena que eu não pudesse agredi-los e escapar da forma que desejava.

Ou talvez sim.

Até por que... bem... o fogo e eu éramos amigos próximos.

Encarei com firmeza as cordas que me apertavam e faziam arder; mas não tanto quanto as chamas que as destruiriam. Fixamente, comecei a imaginar o calor se propagando pelos meus dedos, como em uma deliciosa dança quente que vinha por debaixo da pele. Acelerava cada partícula, utilizando-as como a gasolina que precisava para enfim entrar em uma combustão adorável.

Ele veio doce e incandescente, junto a uma aura de saudosismo que me fez sorrir; sempre me causava essa sensação. Lambia as minhas digitais e quando fiz um pedido gentil, direcionaram-se às amarras que me mantinham cativa junto aos guerreiros. Devagar, elas foram tornando brasa cada um dos fios que compunham minha prisão, fazendo com que ― aos poucos e sem muito estardalhaço de sua parte ― eu estivesse livre.

Meu segundo ato teria sido destrancar a porta e me jogar para fora do veículo, antes que eles tivessem a chance de me impedir. Mas, como eu estava com o Destino ao meu lado naquela madrugada, somente consegui liberar a tranca, já que o momento em que me virei para sair foi o mesmo em que Frederick olhou para trás para me checar; como se o maldito pudesse prever a droga dos meus movimentos.

Antes que pudesse saltar ― de alguma forma consegui abrir a porta ―, ele me puxou com uma brusquidão desnecessária, o que fez com que minha cabeça se chocasse diretamente contra a janela. Isso foi o que me deixou completamente desnorteada e com um enjoo violento, além, claro, do corte em meu couro cabeludo, cuja quantidade de sangue que derramou veio a me sujar toda. Porque não bastava que eu ficasse a ponto de desmaiar pela segunda vez, eu ainda precisava sangrar como se estivesse tendo uma droga de hemorragia.

O carro freou de um modo assustador, colocando minha têmpora direita à mercê do encosto do banco do carona.

― Será que ela está bem? ― Frederick pareceu um borrão ao virar para me encarar; sinal claro de que alguma coisa estava bem errada.

― É claro que eu não estou bem, seus estúpidos! ― assim que falei, nem percebi que as palavras se embolavam umas nas outras.

Agora, os dois estavam olhando em minha direção, um se misturando ao outro naquela visão embaçada. Estava bem claro pra mim que algo realmente não ia muito bem com nenhum dos meus sentidos. Coisa que, óbvio, só se concretizou quando eu vomitei no tapetinho e entendi que talvez estivesse com uma concussão.

Concussão essa que quase fez com que eu desmaiasse de novo; só não aconteceu porque Frederick saiu do carona para sentar ao meu lado. Apenas como uma garantia de que eu não ficasse desacordada antes de chegarmos à Academia. E até funcionou, pena que para ele, me manter acordada significava apertar a parte de trás da minha coxa, próxima ao meu joelho, quando eu estivesse quase apagando.

Sacerdotisa de Landar - Livro Um (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora