Obviamente, eu deveria ter imaginado, antes mesmo de Jason aparecer por entre as árvores do bosque e deixar meu estomago a se embrulhar de ódio. Seu olhar indiferente não contrastou com o meu, que deveria estava borbulhando como lava com a raiva que eu sentia de mim mesma. Eu realmente havia sido inocente a ponto de achar que poderia ter desfrutado de um momento alegre com Peter? Parecia que sim...
― Olha só quem está na aula... ― a voz dele serviu de ponto de partida para me fazer voltar a cruel realidade. Com os olhos faiscando, nada mais me impedia de lembrar que alguém me segurava.
Debati-me, numa tentativa de me desvencilhar de Frederick (que pela lógica, era quem me mantinha cativa ali), rosnando como um cão raivoso. Mas ele era mais forte do que parecia e gelado o bastante para que eu acreditasse ser improvável conseguir queimá-lo com minhas chamas ardentes. Contudo, o que custava eu tentar?
O calor amável e seguro me sorriu enquanto eu convertia o ar no combustível necessário para intensificá-lo. Tudo estava tão naturalmente certo, que sequer notei que a melhor maneira de combater o fogo, era com o mesmo; antes que minha vontade pudesse se tornar chama, Frederick fez o que tinha de ser feito. Num segundo apenas, o ahnkalov provou, mais uma vez, porque aquela missão era a sua: o gelo me tocou e ardeu como brasa, com força o bastante para me fazer gritar.
Caída no chão, uma garotinha desamparada, usei minha energia a fim de tentar reaquecer meu corpo e derreter a fina camada de gelo que basicamente explodira sobre minha pele, a partir de onde sua mão houvera me tocado. Não estava funcionando tão bem quanto eu esperava. Com isso, uma estranha sensação de déjà vu me inundou, cuja origem não soube identificar naquele momento e que ignorei logo que o outro abriu a boca para dar ordens.
― Acho melhor você levá-la para a aula ― Jason quase sussurrou. As palavras desencadearam uma única reação em seu companheiro e assim que ele tentou me ajudar a levantar, não permiti. Eu podia fazer aquilo sozinha, não queria e nem precisava dele.
Pelo menos na aula não teríamos que aturar aquilo.
― Vamos, Peter ― grunhi. Uma aura de derrotismo começava a me circundar e ainda que eu não pretendesse deixar que se instaurasse de vez, parecia difícil não o fazer; como eu seria capaz de vencê-los? Bem, pelo menos eu teria tempo para pensar nisso...
― Não. Peter não vai com você. Ele vai ficar porque nós precisamos debater novamente uma questão ― ele rebateu, com um profundo descontentamento.
Só os deuses sabiam o quanto sua expressão entediada me dava vontade de agredi-lo com um galho de árvore até que não sobrasse nada de seu rostinho lindo.
― Eu não permito isso ― esqueci a ardência por alguns segundos e me ergui, com a minha melhor pose de garota orgulhosa.
― Você não entende, Kate? ― o rapaz atrás de mim falou; ao encontrar seus olhos, não vi nada além de seriedade. ― Você não tem mais poder nenhum, sobre a sua vida ou com quem anda, até se formar. Não está claro ainda? A única coisa que você pode fazer agora é ser uma menina boazinha e obediente, e concordar com o que te impõem.
A honestidade nas palavras me deixou embasbacada por poucos segundos, tempo o suficiente para me fazer assimilar aquilo.
Eu não poderia me dar por vencida.
― O que faz vocês pensarem que podem me controlar?
A pergunta era para ter ficado apenas na minha cabeça, no entanto, ela escapou pelos lábios e pairou no ar. Era estritamente retórica, logo, não precisava de resposta alguma, até porque não havia: se minha mãe, a quem eu amava com todo o meu coração, nem sempre tinha a capacidade de evocar meu lado obediente, como aqueles dois pretendiam fazê-lo? Eu mentia, fugia, me escondia, cometia erros e fazia tudo de novo, no fim das contas, afinal, essa era a Katherine e ela não iria mudar só porque o Kalanova achava que colocar dois ahnkalov na minha cola miraculosamente me transformaria na sacerdotisa exemplar que ele desejava que eu fosse.
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Sacerdotisa de Landar - Livro Um (Completo)
FantasiaDever e honra são as palavras de ordem que a jovem elemental do fogo, Katherine, sempre ouviu de sua mãe, desde criança até a morte dela. Nascida para tomar o posto do sacerdócio representativo da lua Landar, que é de sua família há milênios, a garo...