Capítulo Dezessete

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Eles pretendiam matar um dos sacerdotes e os guerreiros mortos suspeitavam que fosse não um exatamente já no posto, mas alguém que ainda Ascenderia: um de nós sete. Eu não acreditava naquilo com plena convicção, embora respeitasse as suspeitas deles e tentasse enfiar em minha cabeça que agora eu teria que redobrar minha atenção. Depois de retornar ao mundo dos vivos, corri para o antigo quarto de Alafer e me deixando ser guiada pelas pelo instinto, encontrei a pequena caixa de madeira embaixo de sua cama.

Como ela dissera, eu saberia.

Dentro, havia algo parecido com uma noz, que eu supus ser algum tipo de semente e quando tentei voltar ao coração da mata, para enterrá-la ali, acabei parando em um santuário. Era um tanto irônico, já que ela mal havia me pedido para parar e rezar aos nossos deuses; decidi fazê-lo.

Uma mulher de cabelos negros estava ajoelhada em frente ao pequeno altar, em silêncio ― devia ser uma das funcionárias do palácio ― e para não a atrapalhar, movi-me sem muito estardalhaço. O chão estava enlameado e eu me arrependi de não ter colocado minhas botas, mas continuei caminhando até o pequeno altar de pedra; foi naquele curto percurso que percebi que já tinha estado ali muitas vezes, principalmente nas minhas consagrações, quando Alafer me levava para fazer uma oração. Ao me ajoelhar no chão, precisei usar meu calor para aquecer meus joelhos, ou eles congelariam em pouco tempo.

No altar havia uma estatueta simples na forma de árvore, que se dividia em três galhos adornados, cada um, por um guizo minúsculo, e se encontrava como o único objeto, além de velas derretidas, ali. Respirei fundo o ar acolhedor da natureza, encarando fixamente aquela representação da tríade adorada pelo nosso povo ― um dos pequenos detalhes que ainda nos mantinha ligados aos Vroisi ― e buscando uma forma de iniciar algo que eu não fazia desde que Alafer se fora.

"Deuses," comecei em voz baixa, tentando não atrapalhar a mulher ao lado e achando que estava indo um tanto mal... "eu poderia fingir que sou uma sacerdotisa como as dos costumes antigos, que vocês escolheram, mas eu não sou. E eu, apesar de acreditar em sua existência, não tenho sentimentos muito bons em relação à vocês. Ushiohni, Vida, eu não sei se deveria te agradecer pelo grande dom de poder estar aqui, porque não tenho coisas boas a dizer para os outros dois. Então, dessa vez, me absterei. Errhedon, Destino, por mais que todos digam que é a Morte quem leva a todos, a verdade é que você traça os caminhos, não é? Você é a verdadeira Morte e a Ahshara apenas faz o seu trabalho sujo, então, por que agradecê-los? Ah, sim, obrigada por levarem o meu pai e minha mãe, cedo demais. Eu não sei se poderia pedir para que guardem a mim e meus companheiros nesse momento difícil, porque vocês são manipuladores e no fim das contas, vão fazer o que querem. É isso."

Sinahai.

― Uma velinha para vocês, espero que apreciem esse gesto ― encostei a ponta do meu indicador no pavio e uma chama fraca começou a queimá-lo.

Então, uma gargalhada abafada ecoou ao meu lado, vindo da direção... da mulher. Encarei-a; não estava mais fazendo sua oração, mas me olhando com um pequeno sorriso divertido nos lábios.

― Me desculpe por te atrapalhar ― suspirei, fazendo menção em levantar e sair de uma vez dali. No entanto, ela ergueu uma das mãos, num sinal para que eu não o fizesse.

― Você não atrapalhou. Sua oração foi um tanto... espirituosa, Katherine. Tenho certeza de que os deuses se divertiram, ainda que não fosse a sua intenção, acredito. A parte final, sobre eles serem manipuladores, em especial, foi minha favorita. E acho que é até verdade, no fim das contas.

― Eu achei que você veio prestar sua homenagem aos deuses, não zombar deles ― coloquei minha melhor cara de confusão; ainda precisava ir enterrar a semente, realmente não queria ficar conversando naquele momento.

Sacerdotisa de Landar - Livro Um (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora