Capítulo 29 - "Ela está sempre bonita"

5.4K 437 6
                                    

O dia amanheceu e Arthur acordou-se antes do despertador começar a gritar. Ainda estava bastante cedo e os primeiros raios de mal tinham começado a sair. Ele esticou a mão ainda de olhos fechados, tateando a cama vazia e fria. Abriu os olhos com a testa franzida devido a claridade e soltou um palavrão.
A cama estava vazia... novamente, e ele? Ah, ele já estava começando a se irritar com tudo aquilo.
Sentou-se na cama para se certificar da hora e aproveitou para desativar o despertador, jogando as cobertas para o lado e indo em direção ao banheiro. Ele não conseguiria dormir novamente. Céus como estava bravo!
Tomou banho, fez a barba e escovou os dente, vestiu-se impecavelmente e começou a descer as escadas. Não parou diante a porta do quarto de Lua como sempre fazia. Nem a abriu para ter certeza que ela dormia. Apenas desceu com passos largos e a mandíbula tão apertada que lhe doía os dentes.
Lua acordou cerca de quarenta minutos depois, e quando desceu deu logo de cara com Arthur que terminava de tomar uma xícara de café. Surpreendeu-se já que geralmente ela era que acordava primeiro.
- Caiu da cama? - ela disse zombeteira.
Ele ergueu o olhar para encará-la mas não respondeu limitando-se apenas a beber outro gole de café.
Ele não estava com a cara nada boa, Lua logo percebeu e preferiu não incomodá-lo.
Foi até a geladeira e pegou a jarra de suco servindo um copo bastante exagerado.
- Dormiu bem? - ele perguntou de repente.
Era impressão de Lua ou a voz dele estava carregada de ironia?
- Sim. Dormi muito bem. - mentiu - já nem me dói a cabeça. - ela disse tentando parecer convincente.
Ele fechou ainda mais a cara e continuou quieto. Mal sabia Lua que ele estava quase a ponto de explodir.
Era o momento certo para ele abordar sobre o assunto que tanto lhe incomodava. Era o momento exato para algumas perguntas que precisavam de resposta, porem o orgulho o impediu de falar qualquer coisa para a mulher que fugia de seus braços todas as noites durante a madrugada.
- Tenho certeza que sim. - disse num sussurro que Lua demorou alguns segundos para entender.
- Esta tudo bem? - ela perguntou de repente o fazendo encará-la novamente... foi a gota d'água.
Ele soltou o ar nervoso e com dois goles terminou o café.
- Arthur? - ela insistiu
Antes que fizesse ou falasse alguma besteira ele limitou-se a dizer:
- Estou atrasado para uma reunião. - mentiu pegando a pasta em cima da mesa
- Eu não perguntei se você esta atrasado, eu perguntei se você esta bem...
Ele pareceu não lhe escutar continuando a caminhar até a porta.
Irritada, ela bateu o pé no chão e largou os braços ao lado do corpo:
- Você vai sair sem me responder? - perguntou quase gritando
- Orá Lua você faz isso todos os dias. - ele disse calmo em sua defesa - Se você pode fugir, eu também posso. - ele disse antes de sair batendo a porta com força.
Do que diabos ele estava falando?!, Lua não parava de se perguntar enquanto continuava olhando a porta atônica.
O barulho de um cantar de pneus chegou os seus ouvidos, e logo depois o barulho do motor do carro de Arthur sumiu.
Ele já havia partido.
Lua esfregou a mão nos olhos fechados e as imagens do sonho onde ele era o ator principal lhe invadiram os pensamentos e levando a um mundo distante por alguns segundos. Abrindo os olhos, ela se deparou com o mundo real, totalmente diferente.
Seus olhos correram a cozinha pousando sobre a louça ainda suja da noite anterior lhe trazendo mais imagens a cabeça... dessa vez imagens reais.
Estaria Arthur se referindo ao fato dela fugir de sua cama?
Não, não, ela foi logo tratando de dizer a si mesma, nada de criar ilusões e histórias errôneas, ela se auto advertiu.
Decidiu que precisava ocupar a cabeça, e então pegou o copo de suco e se direcionou até o pequeno jardim improvisado e tratar de suas mudas que estavam cada vez maiores e mais cheias de vida.
O passatempo lhe tomou toda a manhã e boa parte da tarde. Quando se jogou no sofá de olhos fechados e com a roupa ainda suja de arreia, teve a certeza que nunca na sua vida havia sentido tanta falta do trabalho, e o fato de não ter o que fazer durante todas as tarde já a estava cansando.
Horas mais tarde, Lua acordou com as batidas incessantes na porta.
Precisou de alguns segundos pra raciocinar que havia cochilado, e quando pulou para fora do sofá e abriu a porta ainda atordoada deu de cara com Sophia:
- Você ainda não esta pronta? - A loira perguntou arregalando os olhos e a olhando dos pés a cabeça. Continuava com a roupa que havia sujado no jardim e os cabelos estavam bagunçados.
- Pronta? - Ela repetiu confusa
- Sim, Arthur não lhe ligou avisando?- ela disse entrando sem ser convidada
- Avisando sobre o que? - ela disse cada vez mais confusa - Eu acabei cochilando e...
- Ah, esta explica o porque de estar tão devagar. - ela disse rindo
- Do que estamos falando afinal?
- Que vamos sair para jantar! - ela disse eufórica - Eu, você, Arthur e Micael. Por isso trate de subir e se arrumar se não chegaremos atrasadas.
- Vamos comemorar o que? - Lua perguntou agora raciocinando mais depressa
- E desde quando é preciso comemorar alguma coisa para sair para jantar?
Lua ficou em silencio por alguns segundos, assimilando as informações.
- Tem certeza disto?
- Claro que sim! Sou loira mas também não me ofenda! - ela disse divertida, ajeitando a gole do seu vestido curto azul escuro - Anda, vai logo tomar banho que eu te ajudo no resto.
Lua preferiu não protestar, e enquanto tomava banho teve tempo o suficiente para conseguir por as ideias em ordem.
- Porque estamos saindo para jantar? - ela perguntou saindo do banheiro para Sophia que a esperava sentada na cama.
- Não sei. Micael ligou e disse que já tinha combinado tudo com Arthur. Porque essa obsessão com esse jantar posso saber?
- Nada. - ela disse dando de ombros - É que acho que eu e Arthur estamos meio que brigados.
- Quer falar sobre isso? - a loira se ofereceu curiosa
- Não. Prefiro te contar um outro dia.
Não estava nem um pouco a fim de explicar para Sophia porque ela saia de cama dele enquanto o mesmo dormia.
- Tudo bem, mas pode apostar que eu não vou esquecer.
- Eu sei que não vai... Venha me ajude.
Sophia ficou de pé em um pulo e a ajudou com a maquiagem e com os cabelos.
- Que roupa vai usar? - a loira perguntou já abrindo o guarda roupa
- Não sei. Vou deixar você escolher uma.
Lua viu o brilho de animação percorrendo os olhos de Sophia que sorriu e começou a dizer sem parar :
- Bom, já que estão "meio que" brigados, não pode ser um vestido de cores muito alegres se não ele vai pensar que você não esta se importando com o fato de estarem distantes ...
- O que você esta falando não tem sentido. - Lua alertou rindo
- ... tem que ser um vestido que diga "eu não quero chamar atenção, mas mesmo assim eu sou elegante e delicada" e ... Ai meu Deus que perfeito! - ela disse puxando um vestido preto - É lindo, onde comprou?
- Em Toronto. - disse dando de ombros vendo o vestido preto com uma larga fita vermelha abaixo dos seios.
- É lindo, ainda bem que usamos o mesmo número de manequim!
- Mas nós não usamos o mesmo número de manequim. - ela disse arqueando uma sobrancelha
- É mais isso se resolve.. - disse dando de ombros fazendo Lua rir - Você vai ir com esse.
- Mas eu nunca o usei desde que comprei. - tentou argumentar
- Pra tudo se tem uma primeira vez. Você vai com esse e pronto. Vamos, pode começar a vesti-lo.
Lua suspirou decidindo que era mais fácil fazer logo o que Sophia mandava, e quando deu por si já estava pronta colocando os sapatos - também novos que havia comprado junto com o vestido -, descendo as escadas enquanto a loira em sua frente lhe apressava.
Elas chegaram no restaurante ciente de que estavam uma hora atrasadas, e os meninos já as esperavam em uma mesa mais retirada das demais.
- Olá garotos. - Sophia disse chamando atenção.
Micael logo se colocou de pé e deu um selinho demorado na loira que estava mais sexy do que de costume Lua olhou na direção de Arthur e encontrou com o par de olhos escuros a mirando dos pés a cabeça. Ela corou, completamente sem jeito, mas ele não se levantou, e ela também não o cumprimentou. Micael e Sophia se separam e loira sentou ao lado da cadeira de Micael, que abraçou Lua com força e lhe deu um beijo na bochecha. Não restando outro lugar a mesa, ela se sentou ao lado de Arthur, tomando o cuidado necessário para que os cotovelos não se encostasse nem se chocassem.
Ele não a encarou quando o garçom veio anotar os pedidos e nem quando Micael lhe disse:
- Como você esta bonita hoje Lua! - ele disse parecendo não ter notado o clima pesado entre os amigos - Você não acha Arthur?
Para a completa surpresa de Lua ele respondeu:
- Sim. Ela esta sempre bonita. - disse com a voz calma não demonstrando nenhuma emoção.
Lua arriscou olhar para, sentado ao seu lado, mas ele não correspondeu o olhar fazendo ela revirar os olhos.
Sophia soltou um risinho e o garçom os interrompeu trazendo os pedidos.
Sophia e Micael falavam sem para, sobre as mais diversas coisas... o que foi bom, já que, se não fosse eles o jantar seria um completo silencio. Porem tanto Lua quanto Arthur sabiam exatamente o que estava acontecendo, e isso não ajudava em nada.
O restando do jantar foi exatamente igual e quando os quatro se despediram e Lua e Arthur ficaram sozinhos no carro, ela teve a impressão que iria sufocar se não fizesse nada. Como uma última tentativa ela perguntou:
- Gostou do jantar?
Ele apenas assentiu, e ela brava não poupou a ironia quando falou:
- Oh sim, é claro que gostou.
O silencio voltou a ficar tenso. Bom... ela ao menos tinha tentado.
Ao chegarem em casa ele trancou as portas - como fazia todas as noites - e subiu as escadas, e nesse momento Lua teve a certeza de que pela primeira vez desde que haviam voltado do Canadá, eles não fariam amo... sexo. Não fariam sexo! Assim como pela primeira vez dormiria "realmente" sozinha e brigada com ele.
____________________________________
Continua...Quero Comentários e votos em , O que estão Achando ?

Amor por contratoOnde histórias criam vida. Descubra agora